domingo, 15 de junho de 2014

UM RARO PRATO DE SACAVÉM (?), SEM MARCA, DE FABRICO POR VOLTA DE 1860 (?)

O FASCINIO DE UM PRATO SEM MARCA: O ESTUDO E PESQUISA QUE O MESMO MOTIVA


Prato fundo, grande, em faiança de Sacavém (?) ou de Alcântara (?), motivo cerejas (?), decorada em tom monocromático a negro com padrão baseada em composições frutíferas, uma grande, duas médias e uma pequena, esta no centro do covo, as outras estão decalcadas na aba mas que atingem o covo, identificando-se ramos com cerejas.




Crê-se ser fabrico de Sacavém, da época da Real Fábrica e fabricado por volta de 1860, isto é, anterior ao período de 1886-1894.

Não possui qualquer marca no verso a menos de um pequeno círculo esverdeado, gravado na massa, mas pelos seus três círculos concêntricos salientes da massa, denunciam a base onde assentou, aquando do seu fabrico, presumindo-se por isso ser da Real Fábrica de Sacavém, anterior à aplicação de marcas ou de gravações na massa.


Diâmetro: 26,2 cm; altura: 4,5 cm.

No sítio JP Antiguidades e Velharias foi publicado, em Maio de 2012, uma taça/saladeira, redonda, bicromada com frutos, considerada “provavelmente Alcântara”, com a seguinte imagem:

Se analisarmos o verso da mesma, vemos que é diferente do verso da nossa:


esta apresenta os três pontos da trempe usada na cosedura, pese embora também tenha uma pequena marca circular verde, mas não possui os diversos anéis concêntricos que a nossa possui, marca da base onde foi rodada, possuindo somente o círculo periférico exterior da base da peça característica da louça de Alcântara.
Os pratos de fabrico de Alcântara, a partir do período de 1886 apresentam sempre o verso do seu fundo com a imagem que se segue, ou seja com um único círculo periférico saliente, o que mais uma vez nos leva a considerar que o nosso prato é de fabrico da Real Fábrica de Sacavém.



Se for fabrica de Massarelos a situação é identica, veja-se por exemplo o verso de um prato:


No sítio Mercado Antigo numa postagem sobre a Real Fábrica de Sacavém é exibido um prato antigo com o motivo Alcobaça, em verde-escuro e não possui qualquer marca a menos de um pequeno círculo verde, igual ao que exibe o nosso prato fundo, o qual obviamente é identificado como sendo de Sacavém.


Os versos dos fundos dos pratos de Sacavém apresentam vários círculos concentricos, o que mais uma vez evidencia e confirma a identificação dada ao nosso prato, senão vejamos:






Por outro lado, a imperfeição do vidrado e a rugosidade da massa e das suas imperfeições induzem ser do fabrico do início da fábrica de Sacavém, qual a mesma era gerida por Manuel Joaquim Afonso (período de 1850-1865) antes a vendar ao inglês John Stott Howorth.



Em suma, mais um prato de fabrico da já mítica fábrica:

 

sábado, 14 de junho de 2014

UMA INVULGAR PEÇA DE CANTÃO POPULAR


UMA INVULGAR PEÇA DE CANTÃO POPULAR

 
O motivo Cantão Popular continua sempre a ser interessante, cativante e cada vez que surge uma peça nova, diferente e inusual, mais apaixonante se torna e constitui mais uma razão de pesquisa, comparação, estudo e …. de mais dúvidas.

É irresistível, apaixonante… merece a nossa dedicação e empenho!

Hoje vamos reportar-nos a mais três peças, uma delas, a ultima que apresentamos, que constitui o motivo deste “post”.


1ª. Peça:


 
Prato de sobremesa em faiança, com o motivo Cantão Popular, vulgarmente dita de fabrico de Miragaia, com uma decoração livre ao gosto do pintor, com tons de azul muito escuro, em que a árvore estilizada é uma conífera e em que a cercadura na aba entre os filetes da sua bordadura e os do seu covo, possui pelo exterior a grinalda ondulada e pelo interior o espinhado. Diâmetro 17,3 cm.



É perfeitamente notório no fundo do prato e no seu verso os três pontos dos apoios das trempes utilizadas para os empilhar na cozedura.
 

Não possui qualquer marca e o seu verso, aparenta um vidrado semelhante à louça malegueira.
 

Presumimos tratar-se de um fabrico de Aveiro, de meados ou finais do século XIX,  pois o fabrico do Norte tem a grinalda ondulada da bordadura pelo interior e o espinhado pelo exterior, se fosse de Coimbra, o azul da pintura seria mais claro e mais “desmaiado”.


  2.ª Peça:

 
Prato de sopa em faiança, com decoração motivo Cantão Popular, com marca pintada e manuscrita “LUSITANIA”, com uma decoração mais “industrial” e menos ao livre gosto do pintor. Possui no verso uma gravação na massa – um conjunto de dois números “52” e “149”. Diâmetro 25,0 cm.
 
 

Possui vários tons de azul na decoração, em que os elementos alegóricos ao motivo, desenhados no fundo do prato estão a azul-escuro, tal como o filete largo da sua bordadura. A árvore estilizada é uma árvore de fruto. Quer no limite do fundo quer a meio da aba, possui faixas rodadas esponjadas a azul claro e sobre as mesmas decorações a azul mais escuro.
 
 

Crê-se ser fabrico, provavelmente da década de 30 do século XX, e por conseguinte da fábrica Lusitânia, desconhecendo se da fábrica de Lisboa, se da de Coimbra.


 
3.ª Peça:
 

Invulgar peça em faiança com motivo de Cantão Popular, chamemos-lhe de taça quadrada, decorada com uma variante não habitual do motivo. Possui pintura manual, muito ao gosto e estilo do seu pintor.
 

Possui como decoração central um pequeno palácio oriental e não tem qualquer árvore estilizada. Com decoração “sui generis” na aba exterior.
 

Não possui qualquer marca e as suas dimensões são: 15,3 x 15,3 com a altura de 4,8 cm.
 

Quer no fundo da taça, quer no seu verso apresenta os três pontos dos apoios das trempes utilizadas para as empilhar na cozedura e o seu verso, aparenta um vidrado semelhante à louça malegueira.
 

Aparenta ser fabrico do final do século XIX, não configurando ser Miragaia (fabrico do Norte), podendo, eventualmente, ser fabrico de Coimbra?
 

Mas para ser Coimbra, parece-nos que as cores aplicadas possuem tons fortes de mais para o habitual e o desenho e decoração aplicado nos cantos não é habitual nem característico de Coimbra.
 

Poderá eventualmente ser fabrico de Aveiro? Ou mesmo de Alcobaça? De Santo António do Vale da Piedade não cremos. Aceitam-se sugestões e indicações de quem nos possa ajudar.

 
Sem dúvida uma bela peça, pela sua particularidade, ingenuidade e criatividade da decoração e pela sua raridade!

terça-feira, 10 de junho de 2014

PRATO DECORATIVO DA "RAUL DA BERNARDA"


PRATO DECORATIVO DA RAUL DA BERNARDA


A Faiança de “Raul da Bernarda” foi, como sabemos, provavelmente a mais afamada faiança artística de Alcobaça e sem dúvida a sua mais antiga fábrica, e com maior longevidade que infelizmente também já encerrou.


Tudo isto a propósito de um pratodecorativo, de bordadura gomada,  com a cor de fundo a azul claro e decoração a azul-escuro, amarelo, vermelho, verde e violeta, encontrado numa tenda, sobre um pano amarelecido, há dias numa feira de velharias.

 
 
Cercadura de arranjos esquematizados, com azuis carregados e bem cozidos, que dão um reflexo notório à peça, enaltecendo a sua imagem.
 
 
 
 
A composição floral do fundo do prato tem uma forma e expressão mais simples de tratamento, com cores menos fortes, mas mantendo os habituais tons.

Em suma, prato decorativo de interessante recorte de bordadura, com decoração policrómica na aba e uma simples flor no covo, mantendo a policromia habitual.

 


No verso do prato a marca e assinatura (sigla): RB – ALCOBAÇA – A.J.

  


A marca é a correspondente ao período de Raul Ferreira da Bernarda (a partir de 1933) e até final da década de 40.
 
 

A sigla do pintor, “A.J.” corresponde à de um dos melhores pintores que passaram pela Fábrica – António José Saraiva Mendes

 


Sabe-se que este pintor, conjuntamente com António Rosa, José Serafim, Luís Salvador, José Salvador e José Luís Gonçalves constituíram o núcleo responsável pela qualidade estética e inegável afirmação da faiança de “Raul da Bernarda” nos anos 30 e 40, criando um estilo e uma imagem que perdura.

  
 
 
As faianças de “Raul da Bernarda” foram evoluindo no tempo em função das modas, estilos e gostos, mas a época de 30/40 ficou marcada para sempre, com a particularidade, beleza, desenho e pintura das peças decorativas então produzidas.
 
Peça com sigla do pintor António Rosa
 
Pratos decorativos, mais "recentes" das décadas de 50 e 60:
 
Peça com sigla do pintor José da Costa
 
 
 Peça com sigla do pintor João José Oliveira
 
Infelizmente em Maio de 2008, a empresa fechou as portas e iniciou o processo de insolvência, vindo a ser declarada insolvente em Maio de 2011 tendo o BES – Banco Espirito Santo ficado como proprietário do imóvel onde funcionava a Fábrica. 
 
 

Resta agora, conseguir obter, apreciar e colecionar peças decorativas da Faiança Artistica de Alcobaça, da mítica fábrica de  "Raul da Bernarda".