TRAVESSA EM CANTÃO POPULAR NA COR
AMARELO-OCRE – INVULGAR – FÁBRICA DE LOUÇAS PINHEIRA – AVEIRO
As peças em Cantão Popular continuam a merecer a atenção de todos nós, quer
pelo fascínio que nos causam, quer pelos mistérios que encerram, começando logo
pelo desvendar da fábrica onde foram produzidas, pois a maioria das mesmas não
possui qualquer marca ou carimbo.
Quando se fala em Cantão Popular, na generalidade todos
associam a cor azul das peças, azul mais forte, menos forte ou mesmo debotado e sempre a ingenuidade na decoração, na maioria ao gosto oriental.
Mas falar de peças de Cantão Popular em amarelo-ocre ou mesmo
cor-de-rosa velho é algo não habitual, podendo-se considerar mesmo raro.
Tudo isto a propósito de uma
travessa oval, com decoração de Cantão
Popular, na cor amarelo-ocre e com carimbo!
Algo invulgar – pois quando vemos
qualquer peça de Cantão Popular,
mesmo identificando ou presumindo a sua origem de fabrico não resistimos a ver
a sua base, tentando desvendar alguma marca ou carimbo, para certificação da
sua origem de fabrico.
Com a presente, adotamos
procedimento idêntico e logo nos disseram que era de Aveiro, o que também já
tínhamos presumido pela sua decoração e composição; mais reforçaram, perante um
carimbo na cor azul, que era “Aradas”
– ao que nada dissemos, como que aceitando a informação.
Na verdade, com a análise detalhada
efetuada, à posteriori, facilmente identificamos o carimbo da mesma, como sendo
de fabrico da “Louças Pinheira – Aveiro”,
quer pelo conhecimento do mesmo, quer por comparação com outras peças.
A decoração, com motivos orientais
habituais lá possui a ponte com os três arcos, mas sem figurantes; o Palácio do
Mandarim e o Pagode, mais os lagos que envolvem os mesmos e os salgueiros e
demais vegetação, alguma bastante estilizada, na cor amarelo-ocre e preto,
envolta num largo filete no limite do covo com a aba da travessa, em
amarelo-ocre; e num fino filete preto.
A decoração da aba da travessa
também é rica e intensa, preenchendo na totalidade a mesma, com alternância de
motivos: cobertura do pagode, salgueiros, outros motivos vegetalistas,
apontamentos de lagos, etc., ora na cor amarelo-ocre, ora pretos; rematando a
aba um filete de largura mediana na cor amarelo-ocre.
Há faianças em Cantão Popular carimbadas e por conseguinte, identificando de forma
inequívoca a sua origem de fabrico, por exemplo as que apresentamos a seguir, tentendo contribuir para a identificação dos vários fabricos conhecidos.
1.Lusitânia
(Coimbra) (1):
- com filete triplo de bordadura da
aba, dois finos e o central mais largo;
- com o espinhado pelo exterior da
aba e a bordadura em ziguezague pelo interior;
2.
Cavaco (Gaia) (1):
- em tons de azul escuro, muito
forte;
- com filete duplo de bordadura da
aba, um largo pelo exterior e um fino pelo interior;
- com o espinhado pelo exterior da
aba e a bordadura em ziguezague pelo interior;
2.1 outro prato de fabrico Cavaco – Gaia (2):
►
Características marcantes que se mantêm:
- em tons de azul escuro, muito
forte;
- com filete duplo de bordadura da
aba, um largo pelo exterior e um fino pelo interior;
- com o espinhado pelo exterior da
aba e a bordadura em ziguezague pelo interior;
► Características diferenciadoras:
- decoração do covo com edifício com
arquitetura mais ocidental;
2.2 outro prato de fabrico Cavaco – Gaia:
►
Características marcantes que se mantêm:
- em tons de azul escuro, muito
forte;
- com filete duplo de bordadura da
aba, um largo pelo exterior e um fino pelo interior;
- com o espinhado pelo exterior da
aba e a bordadura em ziguezague (canelura) pelo interior;
2.3
travessa oval de fabrico Cavaco – Gaia:
►
Características marcantes que se mantêm:
- em tons de azul escuro, muito
forte;
- com filete duplo de bordadura da
aba, um largo pelo exterior e um fino pelo interior;
- com o espinhado pelo exterior da
aba e a bordadura em ziguezague (canelura) pelo interior;
2.3
travessa oitavada de
fabrico Cavaco – Gaia:
►
Características marcantes que se mantêm:
- em tons de azul escuro, muito
forte;
- com filete duplo de bordadura da
aba, um largo pelo exterior e um fino pelo interior;
- com o espinhado pelo exterior da
aba e a bordadura em ziguezague (canelura) pelo interior;
3.
Fábrica da Pinheira (Louças Pinheira) –
Aveiro (1):
- em tons de azul escuro;
- com filete duplo de bordadura da
aba, um largo pelo exterior e um fino pelo interior;
- com o espinhado pelo interior da
aba e a bordadura em ziguezague pelo exterior; (a principal diferença entre os
fabricos do Norte e do Sul – sendo uma característica específica do fabrico de
Aveiro).
3.1
Outro prato, em amarelo-ocre e preto de “Aveiro”, com características da
Fábrica da Pinheira (4):
►
Características marcantes que se mantêm:
- com filete duplo de bordadura da
aba, um largo pelo exterior (em amarelo ocre) e um fino pelo interior (preto);
- com o espinhado pelo interior da
aba e a bordadura em ziguezague pelo exterior;
- decoração habitual, ao gosto
oriental, (aqui nas cores amarelo ocre e preto);
3.2
A nossa travessa oval, em amarelo-ocre e preto de “Aveiro”, com características
da Fábrica da Pinheira:
► Características diferenciadoras:
- soberba decoração na aba, mas sem
o espinhado e a bordadura em ziguezague, mas com um filete fino na bordadura da
aba e um largo na base da aba, na separação com o covo.
3.3
Outra peça (azeitoneira), de “Aveiro”, fabrico das Louças da Pinheira, com
marca diferente (5):
► Características diferenciadoras:
- abrangente decoração na aba, sem os
habituais espinhado e bordadura em ziguezague, mas com um filete fino na
bordadura da aba e um, mais largo, na base da aba, na separação com o covo.
- a decoração da aba é um
alternativo de zonas ziguezagueadas, separadas por pontos, de outras zonas com
as nuvens e os lagos.
4.
Fábrica de Aradas – Aveiro (2):
- em tons de azul claro;
- com uma decoração mais fina, mais
industrializada, menos popular;
- sem recurso ao espinhado e à
bordadura em ziguezague na aba, mas com uma decoração cruzada;
5. Lusitânia – Lisboa (3):
- em tons de azul escuro e claro;
- com filete triplo de bordadura da
aba, dois finos e o central mais largo;
- com o espinhado pelo exterior da
aba e a bordadura em ziguezague pelo interior, secundada interiormente por um
xadrez com círculos;
6.
Fábrica de São Roque – Aveiro (3):
- em tons de azul médio e claro;
- com três filetes finos na aba, um
bordadura, e dois finos na separação entre a aba e o covo, com elementos decorativos a xadrez,
violas e outros, entre os mesmos;
- com uma canelura (bordadura em ziguezague)
pelo interior da aba;
► Características diferenciadoras:
- Decoração do covo com edifício com
arquitetura mais ocidental, com três pisos;
6.1
Outra Peça de São Roque (Aveiro):
7.
Montargila – Algés – Lisboa (5):
- em tons de azul médio;
- com dois filetes no limite da aba,
um largo pelo exterior e outro fino pelo interior, no separação entre a aba e o
covo, igualmente dois filetes, um fino pelo exterior, num azul mais claro e um
mais largo, num azul mais escuro.
- entre os dois conjuntos de filetes
e pelo limite interior dos da bordadura da aba, um espinhado duplo;
- decoração ao gosto oriental,
trabalhada, com motivos com pormenores cuidados, mas também já com alguns
edifícios desenhados com traça ocidental;
8. Faianças Vitória -Aveiro (1):
►
Características marcantes que se mantêm:
- os habituais elementos
decorativos: a ponte, o palácio, as nuvens, os lagos (a água);
9.
Faiança de Gaia (???) – Cantão em tons de rosa (6):
►
Características marcantes que se mantêm:
- os habituais elementos
decorativos: a ponte, o palácio, o salgueiro, as nuvens, os lagos (a água);
- com dois filetes no limite da base,
um largo pelo exterior (inferior) e
outro fino pelo interior (superior), e igualmente dois filetes, um fino e outro
mais largo, no limite do bojo.
10.
Fábrica de Carritos e Caceira – Figueira da Foz (2):
Nota: Só se conhece esta caneca
quadrilobada (2) do Museu Municipal Santos Rocha, da Figueira da Foz, cuja
respetiva ficha identificativa aponta para a Fábrica de Carritos (localidade),
sucessora da Fábrica de Caceira (localidade próxima de da Carritos), dos mesmos
proprietários.
►
Características marcantes que se mantêm:
- os habituais elementos
decorativos: a ponte, o palácio, o salgueiro, as nuvens, os lagos (a água);
Em suma, o motivo Cantão Popular reveste-se de
características ímpares, quer pela quantidade de fábricas que produziram o
mesmo e que ficarão incógnitas para sempre; quer pela diversidade de variantes e
estilos adotados; quer mesmo, pela menos usual, aplicação de outras cores que
não o azul, tal como o amarelo-ocre da peça apresentada ou mesmo o rosa, de
outra peça identificada.
Será que alguma vez se conseguirá efetuar
um estudo que sistematize e identifique, de forma mais ou menos concreta, os
vários fabricos de Cantão Popular,
existente, de Norte a Sul?
FONTES:
Boa tarde
ResponderEliminardou-lhe os parabéns pelo seu blog, e pela coragem que teve, pois eu era capaz de não a ter.
No entanto tenho alguns reparos a fazer:
- a sua primeira fotografia de pequena travessa com o motivo a azul e branco, da Lusitânia, foi tirada por mim, de uma peça minha (é um conjunto de duas peças, molheira e base), e que se destinava ao blog do Luís Montalvão.
Agradecia-lhe, porque porque seria deontologicamente mais correto, que numa próxima oportunidade desse a conhecer a sua vontade em utilizar estas imagens (poderá fazê-lo ao próprio Luís Montalvão) e que identificasse a fonte de onde as retirou.
Também, noutro post em que refere louça de José dos Reis, de Alcobaça, também apresenta uma fotografia de uma outra peça minha - a última deste post (http://velhariastralhasetraquitanas.blogspot.pt/2014/10/prato-em-faianca-de-jose-dos-reis.html).
Claro que nunca me passaria pela cabeça negar-lhe qualquer acesso a estes documentos, ou qualquer outro, pois o que é publicado na net, acaba por cair no domínio público, mas é sempre agradável verificar que existem regras no uso dos materiais de outrém.
Espero que tenha muito sucesso neste seu blog, mas, e não querendo parecer que estou a usar de direitos que não são meus, e, por favor, não leve a mal o que lhe vou sugerir a seguir, mas há blogs de louça/faiança na net nos quais não deve confiar nas informações que ali estão colocadas, sob pena de perder credibilidade.
Se o seu objetivo é ter um blog credível, e onde se possa apreciar e discutir estes assuntos de forma séria e interessante, seria preferível ter algum cuidado na recolha de fontes.
Faiança não marcada só muito raro poderemos identificar de forma segura e há blogs onde essas identificações são feitas sem qualquer cuidado, só porque a massa é assim ou assado, os fretes mais altos ou mais baixos, as barras mais estreitas ou mais largas, e tudo isto é aquilo que se denomina de "venda da banha da cobra", uma espécie de atração fatal para quem não consegue dominar conceitos de rigor e de confessar que não sabe identificar uma proveniência, o que não é nenhum crime nem qualquer problema, pois a faiança é um mundo de desconhecimento, mas não é a atirar com identificações a "torto e a direito" que se ganha credibilidade.
Então, nesses blogs, atira-se com identificações como se atira o barro à parede ... pode ser que pegue!
No entanto, volto a desejar-lhe as melhores felicidades e, na generalidade, reparo que tem preocupações com o que escreve, por isso lhe sugeri o que atrás lhe escrevi.
Cumprimentos e peço-lhe desculpa pela minha intromissão neste seu espaço, e, se me deixar, voltarei a este seu espaço, que poderá ser de grande interesse, dependerá do curso que lhe vier a dar
Manel
Caro Manel,
ResponderEliminarAntes de mais os meus agradecimentos pelas suas considerações àcerca do meu blog e acima de tudo pelos conselhos que me dá. Vou, desde já, ter mais atenção nas fontes.
Reconheço e confirmo o que indica - apresentação de imagens de peças suas ou do blog do Luís Y, e por tal motivo já pedi desculpas ao Luís Montalvão, como as peço. agora, pessoalmente, a si.
Sabe, são inexperiências de um novato nestas andanças, mas que vou ter a devida atenção, a partir de agora.
De inicio também não referia as fontes, o que já faço. As imagens são públicas, mas compreendo que devem ser respeitadas e vou ter em atenção a partir de agora as suas indicações, pois para mim são ensinamentos e irei entrar em contacto previamente com os autores dos respectivos blogs.
Não sou negociante de louça ou faiança, tão somente sou um grande apreciador das mesmas, as quais me cativam enormemente e preenchem parte significativa do tempo de ócio que possuo e nesse contexto, pensei começar a divulgar algo sobre elas, pois é um espólio extremamente importante que temos no país ao qual não se dá a devida atenção. E por vezes a divulgação, a informação, o simples dar conhecimento, desperta interesse noutros... e isso é muito importante.
Mas não quero efectuar tal a qualquer "preço", mas com credibilidade, como diz, e por isso vou ter mais atenção ainda.
Obrigada por tudo !
Jorge Gomes
Muito obrigado pelo seu comentário, e concordo plenamente com o que refere sobre a importância da nossa faiança e como é fundamental instituir este valor na sociedade em geral.
ResponderEliminarNão é necessário pedir desculpa, pois quando não se sabe o normal é não se ter atenção a estes pormenores. Poder-me-ia ter acontecido a mim ou a qualquer outro.
No entanto, e sempre que necessitar, esteja à vontade para usar o material que disponibilizei ao Luís no blog dele, pois já algumas pessoas me pediram para utilizar material meu, o que não me incomoda nada. Só lhe agradeço que coloque a referência.
Cumprimentos, e gosto imenso da sua última terrina que publicou.
Manel
Caro Manel,
ResponderEliminarObrigada pelos conselhos.
Consulto muito o blog de Luís Montalvão, é espectacular, concreto, elucidativo e acima de tudo muito credível; e por isso lá encontro as suas peças.
Vamos continuar a divulgar peças de faiança nacionais, das mais variadas fábricas e épocas, para conhecimento público, para perpetuar e dar a conhecer aos mais novos o que se fabricava em Portugal, e de bom, no âmbito das artes decorativas - faianças.
Cumprimentos.
Jorge Gomes
Boa noite. Tenho uma travessa da fábrica s.roque de aveiro. Onde posso saber seu valor? Obrigado
ResponderEliminarCaro visitante,
EliminarAntes de mais, parabéns pela peça que possui.
Para se avaliar o valor de uma peça como a sua seria bom ver a mesma, para ver a decoração, estado de conservação, carimbo aposto, dimensões, cor, motivo,....
Certamente que os comerciantes de velharias lhe poderão dar um valor estimado para a mesma - sendo certo que há sempre dois valores, o de compra e o de venda - provavelmente no meio esteja a virtude.
Cumprimentos,
Jorge Amaral
Tem desenhadas duas caravelas, .37 por .14, como nova.Posso-lhe deixar uma imagem pelo mail nunomsim@hotmail.com
ResponderEliminarCaro Nuno Simões,
EliminarCom certeza pode deixar-me mensagem.
Pode utilizar o meu e-mail: jorge.amaral.gomes@gmail.com
Cumprimentos,
Jorge Amaral
Caro Nuno Simões,
EliminarCom certeza pode deixar-me mensagem.
Pode utilizar o meu e-mail: jorge.amaral.gomes@gmail.com
Cumprimentos,
Jorge Amaral