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terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Travessa Oval de esponjados, com os Bombos da Festa – Fabrico de Aveiro (?)


(Travessa oval de esponjados e carimbos, de Aveiro (?)) 
As peças em faiança decoradas a esponjados são sempre um motivo de peculiar interesse, demonstrativos de uma determinada época, e que dado o gosto que houve à mesma, eventualmente pelo seu baixo custo, teve uma significativa utilização.
 

(Decoração complementar, a pincel, ao gosto do decorador)

Atendendo à sua fabricação, simples e sem esmeros de qualidade de produção ou de decoração, as peças que ficaram para a posterioridade não são muitas e as que ficam enfermam de sinais de desgaste, de uso ou de manuseamento, faltando o vidrado por fadiga, possuindo “cabelos” e alguns tais que motivaram a aplicação de “gatos”, de “dentadas” nas bordaduras da peça, enfim de sinais que demonstram a idade das peças.
 

(Pormenor da decoração a pincel - Bombos e Arraial)

Os esponjados são de vários tipos e a sua apresentação configura processos e meios de execução diferentes. Há os esponjados puros e simples, há os “carimbos” que mais não são que esponjados aplicados com “rolhas” de cortiça, que criam decorações circulares.
 

(Pormenor - "Os Bombos da Festa")

Os esponjados foram utilizados por quase todas as fábricas de faianças, desde os meados - finais do século XIX, até meados do século XX, quer como decoração complementar e de integração ou composição em decorações ou motivos característicos, por exemplo “Cantão Popular”, entre muitos outros.
 

(Pormenor dos esponjados - a verde seco e azul e dos "carimbos" a amarelo)

Mas existem peças simples, em que a única decoração são esponjados, esponjados e filetes ou faixas, esponjados e carimbos, etc, e esponjados, carimbos e outros elementos decorativos à época, como é o caso da peça que apresentamos.

São peças simples, ingénuas, de decoração fácil, ao gosto do decorador e aos gostos da época.
 

(Pormenor da banda ou faixa na bordadura da aba da travessa)

Estas peças, de esponjados eram fabricadas nas várias fábricas de Aveiro, no Norte, e segundo consta na Fábrica da Corticeira (pese embora tenhamos algumas dúvidas, pois cremos que não se produziu tanto como se faz crer e se refere, pese embora na parte final da sua produção tenha, eventualmente, adaptado tal estilo, ao gosto da decoração das faianças da época, para conseguir ter concorrência entre as demais e sobreviver financeiramente, numa época que já agonizava), para além de outras.
 

(Conjunto de Pormenores identificativos e característicos da peça)
Este tipo de peças, eventualmente fabricadas com predominância nas fábricas de Aveiro, em meados do século passado, com a decoração de esponjados, escorridos e circulares – a “aplicação da rolha”, policromados (azuis, amarelos-ocre, avermelhados ou cor de rosas); esponjados esverdeados e com remates em triângulos, ou “bicos”, na cor azul, junto à bordadura, ou com faixas de remate, ou filetes largos – no presente caso uma faixa larga cor-de-rosa velho.

Trata-se de uma decoração simples e rápida de efetuar, com a execução manual ao gosto de decorador da aplicação dos esponjados, com uma esponja provavelmente do mar e dos “círculos”, com uma rolha, para além de outras decorações, ao pincel, como é a do presente caso com uma soberba decoração de um tema recorrente das Festas do Norte, os Bombos da Festa e a Decoração do Arraial, de forma tão simples e deveras ilustrativa exemplificada na presente peça.
 

(O tardoz do travessa e o pormenor da "aranha" rústica aplicada à mesma para pendurar)

A rapidez e o “descuido” colocado na decoração destas peças “baratas” e de uso utilitário comum e frequente, justificava que habitualmente no tardoz ou base das mesmas, aparecessem borrões coloridos, correspondendo a alguns dos dedos do decorador, sujos de tinta da decoração efectuada, ou outras situações de evidente descuido no seu fabrico, o que não se passa na presente peça, pois, devido à sua decoração, soberba, a travessa oval, deixou de ser uma peça de uso utilitário, para ser uma peça decorativa de pendurar – o que é evidente e demostrativo através da “aranha” artesanal que a mesma tinha, que preservamos e exibimos.

Esta peça, muito pouco corrente, para não dizer rara, possui uma interessante decoração alusiva às Festas e Romarias do Norte, em duas situações emblemáticas das mesmas, as suas decorações, 0s “Arcos das Festas” e a animação cultural ao gosto popular “Os Bombos”.  


(Travessa de Esponjados, Carimbos e decoração a pincel, de Coimbra (?))


Aqui fica o registo de mais uma interessante peça de faiança, provavelmente de uma das fábricas de Aveiro, com uma decoração esponjada falante.

Fontes:

- As recorrentes habituais; sem nenhuma em específico;

- Os conhecimentos pessoais, ao correr do tec

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

PRATO EM FAIANÇA, MOTIVO “CAVALINHO” - VERSÃO POPULAR – DE AVEIRO (?)


Prato Motivo Cavalinho, ao gosto popular - Aveiro (?)
Interessante prato em faiança, de fabrico desconhecido, monocromático, azul, com decoração central no covo com o motivo, vulgarmente designado por “Cavalinho”, com decoração pincelada, em bicos, na bordadura da aba, em azul, e com filete separativo da aba para o covo, igualmente na cor azul.


Pormenor da decoração no covo do prato - a chapa e esponjado


A decoração central do covo do prato é estampilhada, com recurso a “chapa” ou a “stencil” recortado, nos elementos decorativos: coluna, cavalo, cavaleiro, torre (castelo) e o ornato floral sob o cavalo e cavaleiro. A folhagem da árvore e o enquadramento do solo são motivos esponjados.  

Pormenor da decoração no covo do prato - a chapa e esponjado

Trata-se uma versão popular do motivo “Estátua”, ou seja o popular “Cavalinho” com recuso a dois métodos diferentes de pintura: estampagem, e esponjado.
Pormenor da decoração da bordadura da aba com bicos
Trata-se de uma popular imitação do motivo original, ao gosto do decorador (pintor) do mais vulgar motivo da Fábrica de Louça de Sacavém, bem assim como de outras fábricas nacionais.

Refira-se que o motivo “Estátua”, para além do da Fábrica de Louça de Sacavém também foi fabricado em muitas outras fábricas, sendo perfeitamente conhecidas e identificadas, pelos carimbos ou marcas: Fábrica de louça de Alcântara, em Lisboa; Fábrica de Massarelos, Fábrica das Devessas, Fábrica da Corticeira do Porto, no Porto/Gaia; Fábrica de José dos Reis (dos Santos), em Alcobaça; Fábrica das Faianças de S. Roque – Aveiro; Fábrica das Faianças Capôa – Aveiro, Fábrica da Fonte Nova – Aveiro, em Aveiro e outras mais, não identificadas, como é a do presente caso.


Pormenor do tardoz do prato
A peça que apresentamos não possui qualquer carimbo que possa identificar, origem, fabrico ou época de produção; contudo admitimos que seja fabrico da zona de Aveiro ou de Coimbra.


Pormenor do frete no tardoz do prato
Presumimos tratar-se de peça do período de fabrico das primeiras décadas do século passado: dos anos de 30, 40 ou mesmo 50.


Pormenor das marcas das trempes no tardoz do prato
Pelo tipo da pasta (avermelhada), do pequeno círculo central do frete, dos habituais três pontos triangularmente definidos, correspondentes aos apoios das trempes para cozedura do vidrado e das demais características morfológicas do verso do prato, apontamos para que seja, mais provavelmente de fabrico de Aveiro, será?


Prato com o Motivo Estátua ou Cavalinho, ao gosto popular
A inventariação da peça aqui fica.


Fontes:

1) – “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença, 3ª Edição, Lisboa, 1987.

2) – “Faiança Portuguesa – Seculos XVIII-XIX”, de Arthur de Sandão, Livraria Civilização, 2º Volume, Barcelos, 1985.

Prato em Faiança Policromático, motivo “Galo”, decoração popular. Lenda do Galo de Barcelos.


“Faiança do Galo”:


(Faiança de Aveiro (?))

Na Faiança portuguesa um dos motivos mais recorrentes e mais ao gosto popular, com decorações do mais “naif” que encontramos é o motivo “Galo”, geralmente com decoração policromática.

Cremos que quase todas as fábricas de Olaria e de Faiança criaram peças, geralmente pratos, com este motivo, em especial as do Norte, sendo que as fábricas de Aveiro foram as que mais produziram, segundo cremos.


(Decoração da bordadura da aba, em bicos)

São característicos destas peças a decoração em bicos, azul, na bordadura da aba; e o covo do prato com uma decoração policromada de um galo: com recurso às cores: ocre, manganês, de preferência e um esponjado na base de enquadramento ao galo, no presente caso, verde-escuro. 


(Decoração da bordadura da aba, em bicos)

A delimitação da aba-covo é sempre efectuada através de um filete, preferencialmente na cor azul, como no presente caso.


(Tardoz do prato pouco cuidado)


(Pormenor do frete no tardoz do prato)


(Pormenor das marcas da trempe ao vidrar)
O tardoz, de especto menos cuidado, com a apresentação das tradicionais marcas das trempes aquando da cozedura, possui um frete característico das faianças de Aveiro: o círculo central de menor diâmetro e um outro circulo externo de maio relevo, para além “dedadas” e “manchas” de azul, pelo descuido do decorador da peça.


Faiança de Coimbra (?) Ou de Aveiro mais cuidada (?)

A decoração mais simples, sem pormenores e à base de manchas cromáticas é característico da decoração de Aveiro, pois a de Coimbra era muito mais cuidada, com mais pormenorização do galo, com recurso a linhas, traços e voluptas na cor preta para dar movimento e exibição do galo.

Faiança do Norte - Provavelmente da Fábrica Cavaco (Fonte 5)

Faiança do Norte - Provavelmente da Fábrica Cavaco (Fonte 5)


Faiança do Norte - Fabrico não atribuído (Fonte 5)

Faiança de Coimbra - (Fonte 6)

Faiança de Coimbra - (Fonte 7)

Faiança do Norte - Provavelmente da Fábrica Cavaco (Fonte 6)



Faiança do Norte - Provavelmente da Fábrica Cavaco (Fonte 5)

Os fabricos do Norte recorriam a decorações mais estilizadas na aba e decalcadas a chapa (stencil), por vezes com desenhos geométricos.

Mas, Caldas da Rainha também teve nas suas faianças o motivo Galo, tal como não poderia deixar de ser a Fabrica de Louça de Sacavém.


Faiança da Fábrica de Louça de Sacavém (Fonte 5)


Faiança da Fábrica de Louça de Sacavém
 (Fonte 5)

E nas faianças ratinhas também apareceu o motivo “galo”.


Faiança de Coimbra - Louça Ratinha (Fonte 7)

Admitimos que este motivo recorrente se deve a dois factos: à popularidade desta ave doméstica: o GALO e à Lenda do Galo de Barcelos, que faz parte do imaginário e da tradição popular.


“Lenda do Galo de Barcelos”:

Recordando, segundo a lenda do Galo de Barcelos, foi esta ave, já morta e cozinhada, que demonstrou a inocência de um galego que ia ser condenado injustamente.
Tradicional Galo de Barcelos

Da lenda se diz que um valioso serviço de mesa, em prata, foi roubado, de casa de um homem rico de Barcelos, quando este fez uma grande festa, tendo o furto sido atribuído a um galego, que entretanto apareceu na localidade.

Independentemente de o mesmo afirmar, e jurar, que se encontrava de passagem, em peregrinação a Santiago de Compostela, a cumprir uma promessa, tal assim não foi entendido e o mesmo foi condenado à forca.

Perante tal decisão o galego apelou para que fosse perante o magistrado que o condenou, situação que foi aceite. Quando o levaram ao magistrado este estava num lauto repasto com amigos e mais uma vez clamou pela sua inocência.

Perante a não-aceitação pelos presentes, o mesmo, apontando para um galo que se encontrava cozinhado, em cima da mesa disse: “É tão certo eu estar inocente, como certo é esse galo cantar quando me enforcarem”!

Perante esta afirmação o magistrado empurrou o prato na mesa e ordenou o imediato enforcamento do peregrino galego.

Então não foi que quando o mesmo estava a ser enforcado o galo assado se ergue da travessa e cantou!

O magistrado vendo assim o erro que tinha cometido correu imediatamente para a forca, ao que se deparou que o galego não tinha morrido e antes pelo contrário, se salvara graças a um nó mal feito.

Logo foi mandado ser solto e o deixaram ir em paz – e assim ficou a Lenda do Galo de Barcelos e daí, provavelmente o recorrente motivo do Galo, na Faiança Portuguesa.

O Galo de Barcelos, uma das mais importantes tradições populares portuguesas, é o predilecto motivo do artesanato minhoto, foi adoptado por Gil Vicente como seu mascote e é um dos símbolos de Portugal, pese embora com algum decréscimo no presente século.


Cruzeiro do Senhor do Galo em louvor à Virgem Maria e a São Tiago (Fonte 9)
Ainda segundo a lenda, o citado peregrino galego, anos mais tarde voltou a Barcelos e mandou esculpir um cruzeiro – o Cruzeiro do Senhor do Galo, em louvor da Virgem Maria e de São Tiago, cruzeiro este que se encontra na actualidade no Museu Arqueológico de Barcelos.


“Epílogo”:

Trata-se de um motivo que foi produzido desde os inícios do século XIX até finais do século XX. O que apresentamos cremos ser de meados do século XX.



Fontes:

1) – “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença, 3ª Edição, Lisboa, 1987.

2) – “Faiança Portuguesa – Seculos XVIII-XIX”, de Arthur de Sandão, Livraria Civilização, 2º Volume, Barcelos, 1985.

3) – “Cerâmica Artística Portuense dos Séculos XVIII e XIX”, Vasco Valente, Livraria Fernando Machado – Porto,




quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

SALADEIRA ROSA, MOTIVO "CANTÃO POPULAR", OU "PAÍS", OU "CASARIO" ? DE AVEIRO? - A DIFICULDADE DA CATALOGAÇÃO!


Nas feiras de velharias aparecem por vezes peças deveras interessantes, ainda não referenciadas e que fogem aos habituais padrões, havendo por conseguinte dificuldade acrescida em atribuir o seu fabrico e mesmo o seu motivo.


Isto a propósito de uma interessante saladeira de bordadura gomada, com decoração rosa sobre um vidrado branco, brilhante, sugerindo que seja fabrico do centro do país: Coimbra ou Aveiro – inclinamos-mos mais para Aveiro.

A decoração é deveras interessante com elementos decorativos, triangulares de bordadura, efectuados à base de traços ou linhas paralelas e sobrepostas, não esponjado, mas que mesmo assim nos relembram as decorações das faianças das olarias de Aveiro.


A decoração do fundo da saladeira é soberba, pintada à mão, eventualmente com recurso a “chapa” ou “stencil”, para estampilhar algumas partes da decoração (cúpula, vãos de fenestração, empena e telhado da igreja, parte do arvoredo) e induz-nos num “Cantão Popular” já tardio, em transição para o motivo “País” – será?

Os pormenores decorativos têm muitos aspectos similares com os do “Cantão Popular”: um conjunto de edifícios ladeados por árvores; um edifício alto, com cúpula e com uma bandeirola; outro edifício que dá a ideia de ser uma igreja, com a sua empena triangular e duas linhas de janelas; o enquadramento esponjado com linhas horizontais, reforçando a ideia de amplo espaço; as nuvens no horizonte – céu; e a soberba vegetação, variada (salgueiro? pessegueiro? outras?).


Mas também poderá ser considerado o motivo “Casario”, não nos parece, pese embora o mesmo, habitualmente, é apresentado na cor azul, e mais raramente em verde ervilha; em cor-de-rosa como a saladeira que estamos a apresentar não é habitual.


A bandeirola na cúpula do edifício mais alto assemelha-se às bandeirolas que se colocavam nas decorações de Vilar de Mouros, ou de tal ditas (sendo que neste caso, a cor predominante é o verde) ou mesmo nas decorações de “Casario” de José dos Reis (Alcobaça), aqui com os azuis, como cor predominante. Mas a decoração exibida, o traço o seu conjunto não nos indiciam qualquer um destes fabricos.


Trata-se de uma peça de faiança, fina, de barro branco (amarelado); "gateada" (com oito agrafos) de longa data e com marca gravada na massa – mais uma surpresa!


A marca gravada na massa é um “X”, ou um “+” – o que constitui mais um enigma!

 Consultando o livro referenciado na fonte 1, na sua secção III- Sinais e marcas figurativas, na página 137 e na referência 871, temos “P.M. – Vista Alegre (Aveiro). Fabrico de 1895 – Fábrica fundada em 1824 por José Ferreira Pinto Basto-Marca gravada na pasta (oleiro) ”.


Isto é, a marca figurativa identificada refere-se a porcelana recente (fabrico após 1850), e nesta caso da fábrica da Vista Alegre!

Ainda ficamos mais baralhados!

Certezas – nenhumas.

Ideias – algumas: faiança fina (?) do centro do país – provavelmente de Aveiro (fabrico desconhecido) do final do século XIX ou das primeiras décadas do século XX…… mas a marca figurativa na pasta?   

Vamos continuar a pesquisar… mas, alguém nos pode ajudar a desvendar este mistério?

Ficaríamos muito gratos.

Mais uma prova de como quão difícil é por vezes a catalogação de peças de cerâmica.

Fontes:

1) - Cerâmica Portuguesa – Marcas da Cerâmica Portuguesa”, de José Queirós, 2ª Edição, II Volume, (1ª reedição em fac-simile), José Ribeiro – Editor e Livraria Estante Editora, Aveiro – 1987;