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domingo, 28 de agosto de 2016

Saladeira com decoração de Galo da Cerâmica de Manuel Gonçalves (Vitória) de Aradas (Aveiro)


As peças utilitárias de uso doméstico corrente, nas décadas de 40, após 2ª guerra mundial, 50 e 60 do século passado, de fabrico nacional, com decoração popular, fizeram uso frequente da cor e de motivos recorrentes como o Galo.

Foto 1 - A nossa Peça

Na verdade, um dos motivos mais utilizados na decoração da louça utilitária, bem também na louça decorativa, era o Galo, geralmente em pose altaneira, com um enquadramento, a várias cores, e em função da peça, geralmente do seu covo, onde o mesmo era aplicado.

Foto 2 - A exuberância do Galo, aplicado a stencil

Por outro lado, na época citada o uso das cores era muito frequente, com vários tons, aplicadas de diversas formas: o stencil, uma chapa recortada com o motivo que sobrepunha sobre a chacota e se pintava sobre a mesma, ficando o motivo pintado; o esponjado, com o recurso a uma esponja, que se molhava na tinta e depois se aplicava sobre a peça, o aerógrafado, com o recurso a um aerógrafo, que permitia a aplicação da cor em degradé e finalmente a simples pintura, a pincel.

Foto 3 - A vistosa decoração policromática do covo da saladeira

A saladeira que apresentamos contempla todos estes processos:

- a stencil: o galo, no centro do covo, na cor azul forte;

- o esponjado: o horizonte e as nuvens, ambos na cor-de-rosa claro/salmão (mas que também poderá ser a pincel – temos dúvidas);

- o aerógrafado: a aplicação a verde turquesa, na bordadura e esfumando-se para o covo da saladeira;

Foto 4 - A aplicação a aerógrafo

- a pincel: o embasamento de enquadramento a verde-escuro; os arbustos de ambos os lados, na cor castanha; a base, qual elevação arbustiva, na cor verde-escuro, onde o galo se apoia; a ave, na cor castanho-escuro, no céu e os “negrões” das nuvens, também na cor castanho-escuro.

Foto 5 - Os vários tipos de aplicação de cor e execução da decoração

Em suma, uma simples peça utilitária, de uso doméstico corrente – uma saladeira, que constitui um elemento interessante para a análise das faianças populares e dos modos de fabrico utilizados à respectiva época.

Muitas fábricas, existentes essencialmente para Norte de Coimbra utilizaram estes procedimentos e fabricaram estas faianças; com maior incidência para as cerâmicas da zona de Aveiro, como é o caso desta.

Trata-se de uma peça fabricada na fábrica Cerâmica de Manuel Gonçalves (Machado Vitória), conforme atesta o monograma aposto no círculo central do carimbo, sendo que na coroa circular do mesmo está aposto. FAIANÇAS – ARADAS.

Foto 6 - O Carimbo da Peça

O carimbo apresenta a habitual configuração, monocromático na cor azul esbatida.

Para se ter uma identificação mais pormenorizada desta fábrica e do seu fabrico recomendamos a visita à fonte 7) que indicamos nas Fontes abaixo.

Foto 7 - Carimbo das Faianças de Aradas da Cerâmica de Manuel Gonçalves

Em suma, uma peça simples de faiança, que encerra em si, tanta formação e evidencias do que foi a faiança e o seu fabrico na segunda metade do século passado.

Aqui fica o registo da peça e a exuberância do Galo que a decora.


Fontes:









segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Prato em Faiança Policromático, motivo “Galo”, decoração popular. Lenda do Galo de Barcelos.


“Faiança do Galo”:


(Faiança de Aveiro (?))

Na Faiança portuguesa um dos motivos mais recorrentes e mais ao gosto popular, com decorações do mais “naif” que encontramos é o motivo “Galo”, geralmente com decoração policromática.

Cremos que quase todas as fábricas de Olaria e de Faiança criaram peças, geralmente pratos, com este motivo, em especial as do Norte, sendo que as fábricas de Aveiro foram as que mais produziram, segundo cremos.


(Decoração da bordadura da aba, em bicos)

São característicos destas peças a decoração em bicos, azul, na bordadura da aba; e o covo do prato com uma decoração policromada de um galo: com recurso às cores: ocre, manganês, de preferência e um esponjado na base de enquadramento ao galo, no presente caso, verde-escuro. 


(Decoração da bordadura da aba, em bicos)

A delimitação da aba-covo é sempre efectuada através de um filete, preferencialmente na cor azul, como no presente caso.


(Tardoz do prato pouco cuidado)


(Pormenor do frete no tardoz do prato)


(Pormenor das marcas da trempe ao vidrar)
O tardoz, de especto menos cuidado, com a apresentação das tradicionais marcas das trempes aquando da cozedura, possui um frete característico das faianças de Aveiro: o círculo central de menor diâmetro e um outro circulo externo de maio relevo, para além “dedadas” e “manchas” de azul, pelo descuido do decorador da peça.


Faiança de Coimbra (?) Ou de Aveiro mais cuidada (?)

A decoração mais simples, sem pormenores e à base de manchas cromáticas é característico da decoração de Aveiro, pois a de Coimbra era muito mais cuidada, com mais pormenorização do galo, com recurso a linhas, traços e voluptas na cor preta para dar movimento e exibição do galo.

Faiança do Norte - Provavelmente da Fábrica Cavaco (Fonte 5)

Faiança do Norte - Provavelmente da Fábrica Cavaco (Fonte 5)


Faiança do Norte - Fabrico não atribuído (Fonte 5)

Faiança de Coimbra - (Fonte 6)

Faiança de Coimbra - (Fonte 7)

Faiança do Norte - Provavelmente da Fábrica Cavaco (Fonte 6)



Faiança do Norte - Provavelmente da Fábrica Cavaco (Fonte 5)

Os fabricos do Norte recorriam a decorações mais estilizadas na aba e decalcadas a chapa (stencil), por vezes com desenhos geométricos.

Mas, Caldas da Rainha também teve nas suas faianças o motivo Galo, tal como não poderia deixar de ser a Fabrica de Louça de Sacavém.


Faiança da Fábrica de Louça de Sacavém (Fonte 5)


Faiança da Fábrica de Louça de Sacavém
 (Fonte 5)

E nas faianças ratinhas também apareceu o motivo “galo”.


Faiança de Coimbra - Louça Ratinha (Fonte 7)

Admitimos que este motivo recorrente se deve a dois factos: à popularidade desta ave doméstica: o GALO e à Lenda do Galo de Barcelos, que faz parte do imaginário e da tradição popular.


“Lenda do Galo de Barcelos”:

Recordando, segundo a lenda do Galo de Barcelos, foi esta ave, já morta e cozinhada, que demonstrou a inocência de um galego que ia ser condenado injustamente.
Tradicional Galo de Barcelos

Da lenda se diz que um valioso serviço de mesa, em prata, foi roubado, de casa de um homem rico de Barcelos, quando este fez uma grande festa, tendo o furto sido atribuído a um galego, que entretanto apareceu na localidade.

Independentemente de o mesmo afirmar, e jurar, que se encontrava de passagem, em peregrinação a Santiago de Compostela, a cumprir uma promessa, tal assim não foi entendido e o mesmo foi condenado à forca.

Perante tal decisão o galego apelou para que fosse perante o magistrado que o condenou, situação que foi aceite. Quando o levaram ao magistrado este estava num lauto repasto com amigos e mais uma vez clamou pela sua inocência.

Perante a não-aceitação pelos presentes, o mesmo, apontando para um galo que se encontrava cozinhado, em cima da mesa disse: “É tão certo eu estar inocente, como certo é esse galo cantar quando me enforcarem”!

Perante esta afirmação o magistrado empurrou o prato na mesa e ordenou o imediato enforcamento do peregrino galego.

Então não foi que quando o mesmo estava a ser enforcado o galo assado se ergue da travessa e cantou!

O magistrado vendo assim o erro que tinha cometido correu imediatamente para a forca, ao que se deparou que o galego não tinha morrido e antes pelo contrário, se salvara graças a um nó mal feito.

Logo foi mandado ser solto e o deixaram ir em paz – e assim ficou a Lenda do Galo de Barcelos e daí, provavelmente o recorrente motivo do Galo, na Faiança Portuguesa.

O Galo de Barcelos, uma das mais importantes tradições populares portuguesas, é o predilecto motivo do artesanato minhoto, foi adoptado por Gil Vicente como seu mascote e é um dos símbolos de Portugal, pese embora com algum decréscimo no presente século.


Cruzeiro do Senhor do Galo em louvor à Virgem Maria e a São Tiago (Fonte 9)
Ainda segundo a lenda, o citado peregrino galego, anos mais tarde voltou a Barcelos e mandou esculpir um cruzeiro – o Cruzeiro do Senhor do Galo, em louvor da Virgem Maria e de São Tiago, cruzeiro este que se encontra na actualidade no Museu Arqueológico de Barcelos.


“Epílogo”:

Trata-se de um motivo que foi produzido desde os inícios do século XIX até finais do século XX. O que apresentamos cremos ser de meados do século XX.



Fontes:

1) – “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença, 3ª Edição, Lisboa, 1987.

2) – “Faiança Portuguesa – Seculos XVIII-XIX”, de Arthur de Sandão, Livraria Civilização, 2º Volume, Barcelos, 1985.

3) – “Cerâmica Artística Portuense dos Séculos XVIII e XIX”, Vasco Valente, Livraria Fernando Machado – Porto,