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quarta-feira, 31 de agosto de 2016

PRATO SOPEIRO, GRANDE, MOTIVO ESTÁTUA, COR-DE-ROSA, FABRICA DAS LOUÇAS DE DEVESAS, DE JOSE PEREIRA VALENTE


Provavelmente o motivo mais reproduzido nas faianças em Portugal, foi o “Estátua”, vulgarmente conhecido como “Cavalinho”, tenso tido a principal e preponderante produção na Fábrica de Louças de Sacavém; mas muitas outras a imitaram ou com ela concorreram, com decorações muitos semelhantes, umas mais trabalhadas, mais ricas; outras mais singelas e pobres.

(Figura 1 - A peça em apreciação)

Quando encontramos peças com esta decoração o principal interesse é a pesquisa de diferentes decorações, para o mesmo motivo ou outros centros de produção.

(Figura 2 - A decoração motivo da peça)

Todos sabemos que, por exemplo, o cavaleiro, ou cavaleiro, e o seu cavalo, possuem várias exposições, olhares diferentes, acessórios de guerra ou honra diferentes; pedestal e colunas variadas; lago, rio e castelos ou palácios muito diferentes e diversificados, ou mesmo a decoração vegetalista, mais vasta ou mais rala, na aba, que por vezes até se prolonga para o covo

(Figura 3 - A soberba decoração vegetalista da aba)

A diferença nesta peça – um prato sopeiro, de acentuado covo, de generosas dimensões, bastante superiores ao habitual, é a origem do seu fabrico ou centro de produção: mais uma fábrica que rivalizou, ou tentou concorrer, aproveitando a fama e o sucesso comercial, da Fábrica de Louças de Sacavém: a Fábrica de Louças das Devesas, de José Pereira Valente.

(Figura 4 - A decoração das cartelas na aba, com palácios e castelos)

Para além das suas anormais dimensões, bastante superiores às habituais, este prato covo, possui uma intensa e rica decoração na aba, com três reservas, preenchidas por palácios com torres de menagem e com duas pirâmides, no horizonte e mais uma edificação acastelada, para além da habitual decoração no covo.

Decoração monocromática, em cor-de-rosa.

(Figura 5 - O tardoz do prtao)

Prato robusto, pesado, com covo acentuado de tardoz, com um frete exterior significativo e mais dois interiores, mais esbatidos e no círculo central, o carimbo correspondente ao fabrico; e identificando-se três conjuntos de três pontos, das trempes, quando foi a vidrar, junto ao frete, para o seu interior.

(Figura 6 - O carimbo na peça identificando o seu fabrico)

Presume-se que o seu período de fabrico deve ser por volta de 1900 (início do século XX).
Sendo, para nós, o interesse deste prato a sua origem de produção, vamos pois, dedicar-nos um pouco à sua unidade de produção – Fábrica de Louças das Devesas, de José Pereira Valente, como a sua marca o identifica de forma inequívoca, com o nome VALENTE, a encimar a marca.


Um pouco de história da Fábrica

Trata-se uma fábrica pouco conhecida e que se confunde frequentemente com a Fábrica de Cerâmica (e de Fundição) das Devesas, em Gaia, mais tarde, Companhia das Cerâmicas das Devesas, esta fundada em 1865 por António Almeida da Costa, onde José Pereira Valente trabalhou, até fundar a sua empresa; a qual laborou segundo consta até 1946. Mas há quem a prolongue até à década de 60 (será ?)
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A partir de 1884, a fábrica instala-se na Rua Dona Leonor, também em Vila Nova de Gaia e nas imediações da fábrica de António Almeida da Costa.

José Pereira Valente teve sempre a ajuda de António Almeida Valente, seu antigo patrão, no que respeita ao escoamento dos produtos, o que o levou a adquirir, em 1891, uma máquina que permitiu ampliar a produção, começando até a produzir azulejo. 

Na primeira década do século XX a gerência amplia-se com a entrada de familiares.

Em 1904 esta empresa passou a adoptar a designação José Pereira Valente, Filhos; sociedade que se veio a dissolver-se em 1915, aquando da retirada de dois dos quatro herdeiros de José Pereira Valente, mais precisamente de José Pereira Valente Júnior e Augusto Pereira Valente, os quais receberam o dinheiro do investimento efectuado. Os outros dois irmãos, Júlio Pereira Valente e Feliciano Pereira Valente assumem assim as responsabilidades da fábrica.

Neste mesmo ano, devido à necessidade de expansão e ao período de guerra, dá entrada um novo sócio, Joaquim Moreira Gandra da Fonseca, constituindo-se a firma Valentes & Moreira.

Apesar das sucessivas alterações na constituição da sociedade, com a saída de Júlio Pereira Valente, em 1918, e o falecimento de Feliciano Pereira Valente, em 1946, a empresa parece ter sobrevivido até à década de 1960.

A família Pereira Valente esteve ainda ligada à Fábrica do Cavaco, pois em 1 de Agosto de 1936 Luciano Pereira Valente constituiu sociedade com António Augusto Fragateiro Júnior e Manuel Rodrigues Ferreira da Costa para adquirir a fábrica, que ficou com um capital social de 15.000$00, equitativamente repartido pelos sócios.
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Cerca de dois anos depois, em 28 de Novembro de 1938, Luciano Pereira Valente, que desempenhava as funções de gerente técnico, adquiriu a António Augusto Fragateiro Júnior a sua participação nessa empresa.

A decadência desta fábrica dá-se em simultâneo com a das Devesas, reduzindo drasticamente a sua produção, na segunda década do século XX e até ao seu encerramento. 

No seu progressivo declínio estão problemas relacionados com a estrutura familiar da empresa.


Caracterização sumária da sua produção desta

A Fábrica de Louças das Devesas, de José Pereira Valente, produzia faiança com soberba decoração e era considerada como uma das melhores fábricas de faiança do Norte, rivalizando, em termos de qualidade com a Fábrica de Louças de Sacavém.

(Figura 7 - Outra peça - prato semelhante ao nosso)

Por outro lado, esta fábrica, de Pereira Valente, foi uma fábrica imitadora, especialmente do estilo da Fábrica de Cerâmica das Devesas, mas também da Fábrica de Louças de Sacavém. Porém, conseguiu imitar com resultados, por vezes, melhores que os modelos originais, com mais qualidade.

(Figura 8 -O carimbo da peça anterior)

A Fábrica Pereira Valente foi sobretudo incontornável ao nível da produção de vasos, pinhas e globos de remate, assim como estátuas para fachadas, rivalizando com outras fábricas existentes à época, também no Norte (Gaia e Porto).

(Figura 9 - Um carimbo variante da Fábrica de Pereira Valente)

Aliás, a própria fachada da fábrica era encimada por uma estátua, a qual terá sido retirada na década de 1980 ou inícios da década seguinte, já depois de a fábrica ter encerrado (há alguns anos atrás era uma oficina de automóveis).

(Figura 10 - Outro carimbo da Fábrica de Pereira Valente)

A fachada subsistente da Fábrica Pereira Valente deverá datar da viragem do século XIX para o século XX. Embora não seja totalmente revestida a azulejos e não possua particulares qualidades arquitectónicas, ela apresenta artefactos de cerâmica muito raros

(Figura 11 - Outro carimbo da Fábrica de Pereira Valente)

A Fábrica Pereira Valente também produziu azulejaria, especialmente nos períodos Arte Nova e Art Déco, embora tenha tido dificuldade em concorrer com outras fábricas já mais implantadas no mercado

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Concluindo

A Fábrica de José Pereira Valente, das Devesas, é sem dúvida um marco histórico-documental importante, já que foi uma das fábricas de maior qualidade na produção de artefactos cerâmicos para decoração da arquitectura, bem assim como de louça em faiança de uso doméstico corrente, com superior decoração.


FONTES:


2) – “A Cerâmica Portuense – Evolução Empresarial e Estruturas Edificadas”, de Teresa Soeiro, Jorge Fernandes Alves, Silvestre Lacerda e Joaquim Oliveira; Edição Portugália, Nova Série, Volume XVI, 1995.

3) – “Dois séculos de Faiança Portuguesa”, de Edgar Vigário, trabalho do autor, Setembro 2015,





8) - “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, com Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença – 3ª Edição – 1987;



sexta-feira, 4 de março de 2016

DESLUMBRANTE TERRINA DE 1870-1882, DA FLS, MOTIVO ESTATUA OU CAVALINHO


Apresentamos uma deslumbrante terrina da Fábrica de Louça de SACAVÉM, com o motivo CAVALINHO ou ESTÁTUA, na cor sépia, com profunda, interessante e bastante decorada com estamparia do motivo citado.


A Terrina vista de cima
Terrina pequena, mas bela e digna de se apreciar, com profunda decoração, possuindo nomeadamente uma decoração interior ao nível da bordadura da terrina, com uma grinalda vegetalista, grinalda essa, mais estreita que se repete na bordadura da base da terrina e na bordadura da tampa da terrina.

A Terrina vista de cima, sem tampa
As asas da terrina bem com a pega, em forma de asa, da tampa também possuem decoração vegetalista.


A Terrina vista de perfil e o pormenor da decoração da asa
A decoração correspondente ao motivo, CAVALINHO, é das menos habituais e menos frequentes, com uma profunda decoração, em que os elementos característicos realçam pela diferença: cavaleiro com lança (estandarte) na mão esquerda e inclinada para trás, pedestal com profunda decoração; palácios no horizonte diferentes, motivos vegetalistas de enquadramento mais elaborados.


A Terrina vista de lado
Habitualmente o Cavaleiro tem o braço direito levantado para a frente, neste caso, a mão direita segura as rédeas do cavalo e com a esquerda e o braço, suporta o estandarte, o qual está inclinado para trás.


Pormenor da decoração (estampa) da Terrina

Pormenor da Decoração: Cavaleiro e lança

Pormenor da Decoração: Cavaleiro e Pedestal
Trata-se na verdade de uma peça interessantíssima, possuindo no tardoz do fundo, o carimbo, na cor sépia, com a indicação de “FÁBRICA de LOUÇA de SACAVÉM”, envolvendo a Ancora e a corda entrelaçada, aplicada sobre uma placa, correspondente ao período de 1870-1882 – e já lá vão, no mínimo, 128 Anos!

O tardoz da Terrina com o seu Carimbo


Pormenor do Carimbo - Período 1870-1882 (Carimbo Âncora)

Uma relíquia! Uma peça interessantíssima!

Há que saber apreciar e avaliar as diferenças nas decorações para se ajuizar do valor da peça.


Pormenor da Decoração - Estampa muito elaborada
São imensas as variantes das estampas do motivo ESTÁTUA ou CAVALINHO, pelo que só perante a sua identificação, se consegue avaliar da raridade peça ou se se trata de uma peça corrente.


Pormenor da Decoração: Palacete
Aqui a peça, através de várias imagens, para deleite de todos nós, apreciadores das Faianças de Portugal, e neste caso, muito em particular, do que de bom e belo se efectuou na Fábrica de Louça de Sacavém.
 

A Terrina "Cavalinho" do período de 1870-1882

FONTES:

1) -  “150 Anos – 150 Peças – Fábrica de Loiça de Sacavém” – Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Março de 2006;

2) – “Fábrica de Louça de Sacavém – Contribuição para o estudo da indústria cerâmica em Portugal 1856-1974” de Ana Paula Assunção, Colecção História da Arte – Edições INAPA – 1997;

3) – “Porta aberta às memórias” – Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Setembro de 2008;

4) - “Porta aberta às memórias” – 2ª edição, Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Setembro de 2009;

5) – “Primeiras peças da produção da Fábrica de Loiça de Sacavém: O Papel do Coleccionador”, de Ana Paula Assunção, Carlos Pereira e Eugénia Correia, Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – 2003;

6) – “História da Fábrica de Loiça de Sacavém”, de Ana Paula Assunção e Jorge Vasconcelos Aniceto, Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Julho de 2000;

7) – “Roteiro das Reservas”, de Ana Paula Assunção, Carlos Pereira e Joana Pinto, Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – 2000 (?);



sábado, 25 de abril de 2015

Faiança: Cavalinho, “puro” FLS


Muito provavelmente o motivo “Cavalinho” ou “Estátua”, com raízes no motivo Inglês, original “Grecian Statue”, foi o mais reproduzido de sempre, quer em quantidade, e lembramos-mos da Fábrica de Louça de Sacavém, quer em diversidade, pelas diversas outras fabricas que produziram o mesmo.


Posteriormente, e após a estampagem, começaram-se a fabricar outras “réplicas” mais populares e mais ao gosto do artista, por vezes com decorações ingénuas ou mais rudimentares, artisticamente, com recurso a desenho livre, a estampagem (aplicação de chapa recortada) e mesmo esponjados.


Mais recentemente, surgiram novas estampas do mesmo motivo, com outras tonalidades, mais esbatidas, como os casos dos pratos da Faiave, ou os que empresas como o IKEA ou as lojas chinesas comercializam.

E até já nas feiras de velharias, há alguns “comerciantes”, vendendo “gato por lebre” e tentam vender (e ainda vendem a incautos ou desconhecedores) reles réplicas actuais dizendo que são pratos motivo “Cavalinho” da fábrica de Sacavém.

Como redundância desta situação, à dias fomos almoçar a uma vila alentejana, num restaurante regional, com gastronomia característica da região, regularmente frequentado por estrangeiros, especialmente por espanhóis, e uma das “inovações” foi a apresentação de louça “cavalinho”, de produção recente e não muito laborada.

Mais “Cavalinho” deste, não!


Veio-me então a ideia de apresentar um mui antigo prato da Fábrica de Louça de Sacavém, com o motivo “Estátua” ou “Cavalinho”, na cor azul forte, com uma soberba e abrangente decoração, para se ver e apreciar a diferente o que de bom e belo se fazia e as simples e pobres réplicas que actualmente de produzem.


Parece-nos ser uma estampa bastante elaborada, ricamente preenchida com decoração na aba que se prolonga até ao covo e que muito se assemelhava ao modelo inglês similar produzido pela fábrica C. & J. Shaw, em que o cavaleiro é portador de uma lança e o pedestal exibe quatro figuras.


Para além disso a decoração da aba é soberba, com três reservas dentro das quais se apresentam estampas de castelos e palácios; reservas estas intercaladas, por outras reservas decoradas com frontões, grinaldas e flores.


O prato que reproduzimos, pela marca que possui, é dos mais antigos fabricados pela Fábrica de Louças de Sacavém.


De acordo com a fonte (5), será do período de fabrico compreendido entre 1870 e 1880,


Este sim, é um dos pratos, “puros” do motivo “Cavalinho” ou “Estátua”, da Fábrica de Louça de Sacavém.

FONTES:

1) – “Fábrica de Louça de Sacavém – Contribuição para o estudo da indústria cerâmica em Portugal 1856-1974” de Ana Paula Assunção, Coleção História da Arte – Edições INAPA – 1997;

2) – “150 Anos – 150 Peças – Fábrica de Loiça de Sacavém” – Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Março de 2006;

3) – “Porta aberta às memórias” – Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Setembro de 2008;

4) - “Porta aberta às memórias” – 2ª edição, Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Setembro de 2009;

5) – “Dicionário de marcas de faiança” de Filomena Simas e Sónia Isidro, da Estar Editora, Lisboa – 1996;


7) - http://mercadoantigo.weebly.com/sacavem.html

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

PRATO EM FAIANÇA, MOTIVO “ESTÁTUA”. VERSÃO POPULAR – FABRICO DESCONHECIDO .

Prato de sopa em faiança, de fabrico desconhecido, monocromático, azul, com decoração central no fundo com o motivo “Estátua”, vulgarmente conhecido por “Cavalinho”, com a aba aerografada em azul, em degradação da bordadura a para o seu interior e com um filete cinzento a separar a aba do covo.


A decoração central do fundo do prato é estampilhada, com recurso a “chapa” ou a “stencil” recortado: coluna, cavalo, cavaleiro, torre (castelo), ramos da árvore e o ornato sob o cavalo e cavaleiro. A folhagem da árvore e o enquadramento do solo são esponjados.  



Trata-se uma versão popular do motivo “Estátua”, com recurso a três métodos diferentes de pintura: estampagem, esponjado e aerografado.



Interessante a “cópia imitativa” do motivo original, do cavaleiro com o braço direito levantado, semelhante à estampa mais vulgar da Fábrica de Louça de Sacavém, a fábrica mais identificada com este motivo.



O motivo “Estátua”, para além de fabricado na Fábrica de Louça de Sacavém também foi fabricado em muitas outras fábricas, sendo perfeitamente conhecidas e identificadas, pelos carimbos ou marcas: Fábrica de louça de Alcântara, em Lisboa; Fábrica de Massarelos, Fábrica das Devessas, Fábrica da Corticeira do Porto, no Porto/Gaia; Fábrica de José dos Reis (dos Santos), em Alcobaça; Fábrica das Faianças de S. Roque ; Fábrica das Faianças Capôa , Fábrica da Fonte Nova, em Aveiro e ….. muitas mais, não identificadas.



Não possui qualquer carimbo que possa identificar, origem, fabrico ou época de produção; admitimos que seja fabrico dito de Aveiro.




Presumimos tratar-se de peça do período de fabrico das décadas de 40 a 50, ou mesmo do início da de 60.

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

PRATO “CAVALINHO” DE JOSÉ DOS REIS (ALCOBAÇA)


Há já algum tempo que pensávamos efectuar uma postagem sobre o motivo popularmente conhecido por “Cavalinho”, ou seja o “Estátua”, provavelmente o motivo mais divulgado; produzido em larga escala na Fábrica de Louça de Sacavém (a partir de 1863), e também na fábrica de Alcântara, mas também em várias fábricas na zona do Porto, como exemplo, Massarelos, Devesas, Corticeira e Soares dos Reis, e ainda, noutras, menos conhecidas, como Coimbra, Outeiro ou mesmo Alcobaça.

Imagem recolhida da fonte 1

Imagem recolhida da fonte 3



 Imagem recolhida da fonte 3
Tudo isto a propósito de um prato, com o motivo “Cavalinho”, numa interpretação popular, que presumimos ser fabrico de José dos Reis (dos Santos), durante o seu fabrico, entre 1875 até 1897, em Alcobaça, ou seja, depois de ter abandonado a sua actividade de mercador de faianças em Coimbra, não deixando de a sua louça apresentar alguns traços ou reminiscências das faianças de Coimbra.

Prato em apreciação

Prato em apreciação
Há dias, e no seguimento de conversa com colega e apreciador de faianças, esta situação foi reavivada e eis que surgiu então este apontamento.

Como dizíamos, a decoração do motivo deste prato foi aplicada a stencil (com recurso a chapa recortada) e com esponjados, na decoração central, sendo na aba a decoração aplicada igualmente a stencil.

Em suma a estampagem não foi o método escolhido e foi substituída pela estampilha - aplicação a stencil e pelo esponjado.

Este prato apresenta várias variantes decorativas que o diferencia entre os demais, com o mesmo motivo, senão vejamos:

- Possui uma interessante bordadura, com remate em filete grosso e escuro e decoração da aba com esponjados, com motivos vegetalistas, pintados a estampilha, constituindo um ornato floriado, num tom azul acinzentado, que recorda os floriados antes praticados em Coimbra;

Decoração da aba do prato
- Possui reserva central aplicada a stencil, com uma variante “popular” do motivo “Cavalinho”, pese embora com os elementos emblemáticos presentes: a estátua equestre; a coluna, o rio, o barco, os palácios e demais casario, a decoração arbórea de enquadramento, sendo utilizado também o esponjado;

Decoração reserva central - covo
A pintura é monocromática, num tom azul-acinzentado. Prato não marcado, com uma textura (fina), quase porcelana, com um esmaltado leitoso que poderia indiciar fabrico de Coimbra, mas que pelas análises efectuadas e pela bibliografia disponível (4, 5) nos permite concluir ser fabrico de José dos Reis (Alcobaça), do final do século XIX, com um período de fabrico entre 1875 e 1897.


 Imagem recolhida da fonte 5
Imagem recolhida da fonte 5
Um interessante prato, com o motivo “Cavalinho”, numa interpretação livre e popular, com recurso à estampilhagem e ao esponjado: Fabrico de José dos Reis (dos Santos),  em Alcobaça, provavelmente entre 1875-1897 – Século XIX.



Prato em apreciação
FONTES:




4) - “Cerâmica em Alcobaça – 1875 até ao presente: CeRamiCa PLUS” – Galeria de Exposições Temporárias – Mosteiro de Alcobaça; 6 de Abril a 4 de Maio 2011; Município de Alcobaça, 2011.

5) – “Faiança Portuguesa Séculos XVIII-XIX”, Colecção Pereira de Sampaio, Editores ACD, 2008.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Prato de Alcântara, Motivo “Estátua” ou “Cavalinho”, pintura a stencil, relevada, marca CHAMBERS & C.ª – 3 em 1!


Surgem-nos do nada verdadeiras peças de faiança, de elevado interesse e fora dos padrões habituais, que nos criam forte mistério e nos obrigam a reescrever sobre o fabrico ou sobre a história que presumimos das antigas fábricas de faiança portuguesas.


Apresentamos um prato em que as suas características não são as habituais da faiança de Alcântara, mas que possui marcado na pasta o carimbo circular de ALCANTARA, LISBOA e CHAMBERS & C.a – o que não deixa dúvidas.


Trata-se de um prato de faiança fina e não pesada; parece de pó de pedra; no tardoz do fundo do prato possui não um único círculo externo saliente, mas mais três círculos internos, sendo que no terceiro, mais pequeno é onde se insere a marca na pasta.


Contudo, continua a apresentar os três locais com três pontos cada, no verso da aba do prato, marca do apoio, das trempes, quando os mesmos iam cozer.


A consistência, textura e círculos no tardoz do fundo do prato são uma novidade! – 1ª Situação não corrente na Faiança de Alcântara!

A exibição da marca na pasta de CHAMBERS & C.ª, trata-se de uma marca não muito habitual, crendo-se que corresponde ao período de fabrico de meados da década de trinta do século passado, antes da fábrica encerrar – 2ª Situação não habitual na Faiança de Alcântara!

A exibição do motivo “Estátua” ou “Cavalinho”, na cor grená, esbatida, relevada, já que foi pintada, com stencil, evidenciando toda a piquetagem, nos sombreados ou nas decorações correspondentes ao motivo são uma novidade! Tal nunca tínhamos visto, pois o habitual são as estampagens  – 3ª Situação não identificada na Faiança de Alcântara!




 
Em suma, uma peça rara!

Trata-se de um prato raso, com o motivo citado, aplicado com o recurso a stencil, pintura relevada, com exuberante preenchimento e decoração, quer da aba quer do fundo do prato.

 O cavaleiro e o seu pedestal e as colunas de enquadramento assemelham-se às que habitualmente outras fábricas produziram, por exemplo, a Fábrica de Louças de Sacavém.

 A paisagem de enquadramento e a torre exibida já não são muito habituais neste motivo.

O preenchimento da aba é interessante: possui uma grinalda de elementos geométricos curvos no seu filete, seguem-se intervalos ou registos sombreados até à decoração vegetalista, na qual se criam três quadros de enquadramento, preenchidos com conjuntos edificados, nobres ou senhoriais, intervalados por menores arranjos vegetalistas nos quais se inserem jarrões com flores, apoiados em sólidas bases.

Toda esta decoração da aba termina com arranjos vegetalistas, já no covo do prato, constituindo uma moldura para a decoração do fundo do prato.

Em suma uma raridade de prato, que nos cria algumas dúvidas e incertezas sobre os habituais padrões de fabrico, decoração e marcas da Fábrica de Louça de Alcântara.

Não podemos contudo deixar de referir e com base na fonte (1), que esta fábrica produziu pratos do motivo “CAVALLINHO”, mas no período de “LOPES & C.a”, daí a referencia “L & C”, no carimbo estampado e em que a decoração estampada era igual à do prato que apresentamos, como a imagem seguinte evidencia.



Cremos tratar-se de uma iniciativa comercial, de mais valia, acompanhando a proliferação do motivo, desenvolvido pela Fábrica de Louça de Sacavém e, a Norte, pela Fábrica de Massarelos, com enorme aceitação nos consumidores, tentando assim ter um melhor mercado, pese embora a louça utilitária de Alcântara, ser mais “grosseira”, menos cuidada na execução, de menor qualidade.


Aqui fica o registo, para que conste e seja tomado em consideração.

FONTES:






6) -Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, com Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença – 3ª Edição – 1987;