Rara Leiteira de
Massarelos, com estampagem policroma do período de Sá Lima e Irmão
Apreciamos as peças em faiança, não só pela
sua presença, exposição ou dimensões, pois inclinar-nos-íamos para as terrinas,
para as travessas e para os pratos.
Mas peças há que pela sua graciosidade,
pequenez ou características próprias nos fascinam mais que as grandes.
Tudo a propósito de uma pequena leiteira de
faiança de Massarelos, com 12,5 de altura, um diâmetro na base de 7 cm e no
bojo de 10 cm.
Leiteira com uma estampagem policroma,
sendo uma grande e outra menor, a maior desde a asa até passar o alinhamento do
bico e a outra mais pequena, do outro lado, centrada entre a asa e o
alinhamento do bico.
A estampagem maior possui uma edificação
tipo fortificada, com um embasamento sobre as rochas, com quatro janelas, depois
um piso superior, com três janelas e uma torre mais alta, à esquerda, aparentando
ter um vão de fenestração superior. As fachadas são na cor amarelo ocre.
Ambos os volumes com telhados de cobertura
vermelha, com duas águas.
No tardoz desta edificação fortificada
aparenta haver um castelo, com a sua torre de menagem, mais alta, numa cor
cinzento azulado.
À direita deste conjunto edificado uma
pequena floresta, com arbustos verdes, junto ao solo e superiormente árvores de
grande porte, com folhagem castanha, eventualmente na época de estio, quando a
mesma começava a cair.
A estampagem pequena, igualmente policroma,
exibe somente a composição do lago, dos dois barcos à vela e do fundo envolvente
de enquadramento.
Junto à base possui um filete dourado e na
asa, trabalhada, com um friso côncavo central, e que na sua vista de perfil se
assemelha a um cavalo-marinho, possui também ainda alguns apontamentos de um
filete dourado.
O bocal do jarro é plano e o bico
triangular, alinha com o bocal.
Só por estas particularidades já se tratava
de uma peça de faiança rara de Massarelos, mas analisando a base da mesma, vem
aí a surpresa maior: possui dois carimbos de Massarelos, do período de fabrico
de Sá Lima & Irmão, em que um dos carimbos não ficou devidamente marcado e
nítido, e em que o fabricante desta peça, pretendeu de forma inequívoca
identificar a mesma e colocou um outro carimbo, igual, mas este de
perfeita leitura, ambos monocromos, na cor castanha escura.
Trata-se pois de uma peça fabricada entre
1873 e 1878, sob a gerência de Sá Lima & Irmão (lá estão no circulo central
do carimbo “S”, “L” e “I”), em que a respetiva firma foi constituída em 1873 e
que viria a ser dissolvida em 1878, por partilha dos bens do pai de ambos, entretanto
falecido em 1876.
Esta época de fabrico corresponde à
primeira fase do denominado 4º período que vai de 1873 a 1895, no qual começou
a fabricação de alguma louça artística, como é o caso desta leiteira, com
estampilha policroma.
Em suma uma leiteira rara em faiança de
Massarelos, com estampagem policroma, com dois carimbos e do período, provavelmente
menos conhecido, da gerência de Sá Lima e Irmão.
Através de pesquisa efetuada, (2), encontramos
outras peças com o mesmo motivo e decoração, que reproduzimos aqui, para
comparação:
Um prato de bolo, de serviço de chá com o
mesmo motivo e decoração,
Uma chávena de chá e uma tijela com prato,
com o mesmo motivo e da mesma época.
E a partir destas identificações; provavelmente
tratava-se de uma leiteira, para o serviço de chá ou de café, do qual o
referido prato de bolo, eventualmente também fazia parte – quem sabe!
José Queirós, em 1907, e na fonte citada
(4), já identificava esta marca, conforme apresentada no item 419, a páginas
300, como “marca de fabrico recente”, o que era verdade pois referia-se ao
período de 1873 a 1878.
Para que conste e para que se tenha
conhecimento deste tipo de faiança produzida pela Fábrica de Massarelos, de um
período mesmos conhecido da mesma.
FONTES:
1)
– “A Fábrica de Louça de Massarelos –
Contributos para a caraterização de uma unidade fabril pioneira” – Volume
I, de Armando Octaviano Palma de Araújo; Dissertação de Mestrado em Estudos do
Património, Universidade Aberta – Departamento de Ciências Sociais e de Gestão,
Lisboa – 2012;
4)-
“Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”,
de José Queirós, com Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de
José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença – 3ª Edição –
1987;
6)-
“Fábrica de Massarellos – Porto 1763 –
1936”, Exposição Fábrica de louça de Massarelos 1763 – 1936, Porto 1998;
Coordenação de Mónica Baldaque, Teresa Pereira Viana e Margarida Rebelo Correia,
Museu Nacional Soares dos Reis;
Sem comentários:
Enviar um comentário