segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Rara Leiteira de Massarelos, com estampagem policroma do período de Sá Lima e Irmão



Rara Leiteira de Massarelos, com estampagem policroma do período de Sá Lima e Irmão


Apreciamos as peças em faiança, não só pela sua presença, exposição ou dimensões, pois inclinar-nos-íamos para as terrinas, para as travessas e para os pratos.

Mas peças há que pela sua graciosidade, pequenez ou características próprias nos fascinam mais que as grandes.

 



Tudo a propósito de uma pequena leiteira de faiança de Massarelos, com 12,5 de altura, um diâmetro na base de 7 cm e no bojo de 10 cm.

 
Leiteira com uma estampagem policroma, sendo uma grande e outra menor, a maior desde a asa até passar o alinhamento do bico e a outra mais pequena, do outro lado, centrada entre a asa e o alinhamento do bico.




A estampagem maior possui uma edificação tipo fortificada, com um embasamento sobre as rochas, com quatro janelas, depois um piso superior, com três janelas e uma torre mais alta, à esquerda, aparentando ter um vão de fenestração superior. As fachadas são na cor amarelo ocre.


Ambos os volumes com telhados de cobertura vermelha, com duas águas.

No tardoz desta edificação fortificada aparenta haver um castelo, com a sua torre de menagem, mais alta, numa cor cinzento azulado.

À direita deste conjunto edificado uma pequena floresta, com arbustos verdes, junto ao solo e superiormente árvores de grande porte, com folhagem castanha, eventualmente na época de estio, quando a mesma começava a cair.

 
À esquerda um lago, na sua cor azul celeste, com dois barcos à vela, de um mastro e uma vela, castanhos, cada um a fletir para o seu lado e ao fundo, um envolvimento arbóreo verde, elevando-se até ao horizonte, com tonalidades desde o amarelo acastanhado até ao avermelhado, sobressaindo sobre o mesmo, a tardoz, outra vez, o céu azul celeste.

 

A estampagem pequena, igualmente policroma, exibe somente a composição do lago, dos dois barcos à vela e do fundo envolvente de enquadramento.
 

Junto à base possui um filete dourado e na asa, trabalhada, com um friso côncavo central, e que na sua vista de perfil se assemelha a um cavalo-marinho, possui também ainda alguns apontamentos de um filete dourado.

 
O bocal do jarro é plano e o bico triangular, alinha com o bocal.




Só por estas particularidades já se tratava de uma peça de faiança rara de Massarelos, mas analisando a base da mesma, vem aí a surpresa maior: possui dois carimbos de Massarelos, do período de fabrico de Sá Lima & Irmão, em que um dos carimbos não ficou devidamente marcado e nítido, e em que o fabricante desta peça, pretendeu de forma inequívoca identificar a mesma e colocou um outro carimbo, igual, mas este de perfeita leitura, ambos monocromos, na cor castanha escura.




Trata-se pois de uma peça fabricada entre 1873 e 1878, sob a gerência de Sá Lima & Irmão (lá estão no circulo central do carimbo “S”, “L” e “I”), em que a respetiva firma foi constituída em 1873 e que viria a ser dissolvida em 1878, por partilha dos bens do pai de ambos, entretanto falecido em 1876.

Esta época de fabrico corresponde à primeira fase do denominado 4º período que vai de 1873 a 1895, no qual começou a fabricação de alguma louça artística, como é o caso desta leiteira, com estampilha policroma.

Em suma uma leiteira rara em faiança de Massarelos, com estampagem policroma, com dois carimbos e do período, provavelmente menos conhecido, da gerência de Sá Lima e Irmão.

Através de pesquisa efetuada, (2), encontramos outras peças com o mesmo motivo e decoração, que reproduzimos aqui, para comparação:




Um prato de bolo, de serviço de chá com o mesmo motivo e decoração,
 

Uma chávena de chá e uma tijela com prato, com o mesmo motivo e da mesma época.

E a partir destas identificações; provavelmente tratava-se de uma leiteira, para o serviço de chá ou de café, do qual o referido prato de bolo, eventualmente também fazia parte – quem sabe!




José Queirós, em 1907, e na fonte citada (4), já identificava esta marca, conforme apresentada no item 419, a páginas 300, como “marca de fabrico recente”, o que era verdade pois referia-se ao período de 1873 a 1878.




Para que conste e para que  se tenha conhecimento deste tipo de faiança produzida pela Fábrica de Massarelos, de um período mesmos conhecido da mesma.




 

FONTES:

1) – “A Fábrica de Louça de Massarelos – Contributos para a caraterização de uma unidade fabril pioneira” – Volume I, de Armando Octaviano Palma de Araújo; Dissertação de Mestrado em Estudos do Património, Universidade Aberta – Departamento de Ciências Sociais e de Gestão, Lisboa – 2012;



4)- “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, com Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença – 3ª Edição – 1987;


6)- “Fábrica de Massarellos – Porto 1763 – 1936”, Exposição Fábrica de louça de Massarelos 1763 – 1936, Porto 1998; Coordenação de Mónica Baldaque, Teresa Pereira Viana e Margarida Rebelo Correia, Museu Nacional Soares dos Reis;


 

 

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