terça-feira, 16 de setembro de 2014

PRATO DA FABRICA CORTICEIRA DO PORTO, MOTIVO CASTELO – PEÇA RARA


Entre os vários motivos de faianças produzidos nos finais do século XIX e início do século XX, um dos mais frequentes foi o motivo Estátua ou Cavalinho, com as suas variantes, quer a nível da estampagem, quer a nível da sua fabricação, já que as várias fábricas não repetiam ou utilizavam estampagens iguais aos motivos das outras.

Contudo, alguns motivos surgiram, raros, não imitados ou copiados, somente numa das fábricas de então: reportamo-nos a um prato da Fábrica da Corticeira do Porto, com o motivoCastelo” (raro), em que a estampagem monocromática é grená (vermelha).

 
Possui carimbo circular laureado, monocromático, na cor grená, correspondendo provavelmente ao 1º período da fábrica.

 
Trata-se de um prato com uma soberba decoração na aba, que se prolonga até ao covo, possuindo este uma composição decorativa que quase absorve o seu espaço, sendo assim mínima a zona sem decoração.

 
A decoração no covo do prato é constituída por um conjunto edificado de nobres edificações, realçando uma torre de três pisos, amuralhada no cume, (torre de castelo?) circundada por outras edificações de menor porte, mas com amplos vãos e bancadas debruçadas sobre áreas de água – lago ou rio.

 
Ao fundo e entre a vegetação lateral que enquadra o conjunto edificado vislumbram-se duas elevações (montanhas - picos).

No rio, presumimos que assim seja, vê-se uma embarcação, com carga, com dois vultos sentados e outro vulto, em pé, à popa, com um remo, de encaminhamento da embarcação.



A decoração da aba, com composição vegetalista repetitiva, com molduras em forma de ferradura, nas quais se exibem decorações com edificações, vegetação de enquadramento, elevações, em forma de picos ao fundo e na parte frontal eventualmente um lago. Como remate na bordadura da aba possui um entrelaçado de dois cordões.



 
Esta decoração possui algumas características que se assemelham ao dito motivo Estátua ou Cavalinho, mas o carimbo identificativo “Castelo”, não deixa dúvidas.

Este motivo, fez-nos recordar a apresentação de um prato da fábrica de Alcântara (5), com motivo desconhecido, mas sugerido como origem no motivo “Roselle” ???, já que o preenchimento da decoração da aba é semelhante, embora com diferenças significativas a nível da decoração vegetalista, contudo a decoração de preenchimento do covo tem algumas semelhanças com a que apresentamos, nos seus aspetos essenciais: edificações (castelo), arvoredo, lago, orografia do horizonte.

(imagem - fonte 5)
 
Por outro lado, a Fábrica de Massarelos, também nos finais do século XIX e início do século XX também fabricou pratos com motivo semelhante, nos seus aspetos essenciais, tendo sido identificado como o motivo “Roselle” (6).

(imagem - fonte 5)
 
Será que poderemos considerar que são do motivo “Castelo”, perante esta constatação?

Crê-se (1) que esta fábrica – Corticeira do Porto - laborou desde os finais do século XIX até meados da década de sessenta do século XX, pelo que se presume que o fabrico desta travessa remonte a finais do século XIX ou início do XX, quando o carimbo era mais cuidado e com maior beleza.

 
A marca neste período era constituída por uma coroa circular, dentro da qual estava indicado “CORTICEIRA” e “PORTO”, no círculo central o monograma “CP” e exteriormente à coroa, ladeando a mesma, dois ramos de louro – uma marca “laureada”; em fases posteriores o carimbo era muito mais simples: só o monograma: um entrelaçado “C-P”.

Em suma, uma peça que consideramos rara, pois até ao presente nunca conseguimos identificar este motivo catalogado, e que perante a sua exibição poderá permitir identificar motivo semelhante produzido noutras fábricas de faiança; à mesma época.

 
FONTES:






6) – Fábrica de Massarellos – Porto, 1763-1936, edição do Museu Nacional Soares dos Reis;

3 comentários:

  1. Caro Jorge Gomes,

    realmente não tinha conhecimento deste motivo produzido pela Corticeira. bem bonito, os meus parabéns.

    mais logo envio-lhe um e-mail para lhe mostrar umas coisas.

    obrigado,
    Mercador Veneziano

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  2. Caro Mercador Veneziano,

    Agradeço o seu comentário, reconhecido.
    Como sabe, interesso-me por peças que foram pouco correntes, ou mesmo raras, tendo todo o prazer e satisfação em as tentar catalogar e divulga-las ao público em geral.
    Mais tenho para divulgar, mas escasseia-me o tempo.
    Um abraço,

    Jorge Gomes

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