domingo, 21 de setembro de 2014

PRATO EM FAIANÇA DO NORTE (?) OU DE COIMBRA (?)


As peças em faiança monocroma azul claro, do Norte (?) ou de Coimbra (?), são um encanto e trazem-nos sempre algum mistério, começando logo pelo desvendar da origem do seu fabrico, pois, criam-nos incertezas e deixam-nos dúvidas.

A faiança sem qualquer marca, caracter alfanumérico ou mesmo um “arabesco” torna difícil a sua atribuição a uma zona específica de fabrico, podendo, frequentemente, haver dúvidas, situação que se passa com as faianças ditas de Coimbra ou do Norte, tal como a presente.




Tudo a propósito de um prato covo, com decoração monocroma azul claro, com uma flor no covo, um filete grosso a separar o covo da aba e na aba uma decoração vegetalista repetitiva.


Decoração estampilhada, em série, ingénua, sem muito cuidado na colocação do stencil, notando-se diferenças de posição e afastamentos diferentes na decoração repetitiva da aba.



O tardoz do prato possui um esmalte branco, leitoso, recordando-nos a louça malegueira, o que poderá ser um sintoma de ser faiança do Norte – não conseguimos garantir!

Mas o esmalte branco, leitoso, a decoração a azul claro, o motivo da decoração central, a decoração repetitiva da aba e a sua execução, digamos, algo ingénua, leva-nos a considerar que seja fabrico do Norte, dos  finais do século XIX ou mesmo do início do século XX.

A comparação com outras peças semelhantes divulgadas na net (em locais de venda e em blogues) permitiu-nos ajudar na decisão e tornar a mesma mais consistente, pese embora frequentemente, esses sites indiquem como produção provável "Miragaia", quando, na verdade, se trata de faiança, azul e branca, provavelmente, do Norte (?), ou será de Coimbra (?). A dúvida persiste, para nós, pese embora gente mais avalizada que nós indique ser Coimbra. 

Da fonte (1) recolhemos as seguintes imagens (que entretanto nos asseguraram ser fabrico de Coimbra):


Da fonte (5) registamos as imagens:


E finalmente da fonte (3) recolhemos ensinamentos e a imagem (seguramente fabrico do Norte):

9 comentários:

  1. Prezado Jorge Amaral,

    Peço licença para fazer um comentário em seu tão atraente Blogue.

    Parabéns pelo visual das fotos e detalhes das peças, fundo, pormenores...

    Depois vou olhar com calma suas postagens, uma vez que apareceram em minhas buscas por louças portuguesas. Aí então, embora eu conheça tão pouco das louças portuguesas, tentarei uma apreciação. São minhas preferidas.

    Também tenho um blog (Louça e Arte Sacra, principalmente):

    http://velhariasdomaurinho.blogspot.com.br/

    Quando puder, de uma olhadinha. Tb tenho algumas da Sacavém e outras não marcadas.

    Um abraço bem brasileiro.

    Amarildo Blanc

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  2. Caro Amarildo Blanc,

    É com enorme satisfação e regozijo que recolho as suas belas palavras e elogiosos comentários àcerca do meu blog - penso que exagerou em demasia.

    Como amante das faianças portuguesas, tão somente, ocupando parte do meu pouco tempo livre, pretendo analisar peças que acho interessantes e divulgá-las, para conhecimento geral.

    Muitas das vezes, não tenho certezas das suas origens ou fabrico, antes mais, são bastantes as dúvidas e as incertezas - mas a sua divulgação e o indicar eventuais pistas do fabrico, penso ser um trabalho interessante, motivador de análise e que possibilita comentários dos visitantes do blogue.

    Já dei uma boa vista de olhos ao seu blogue e fiquei maravilhado ! Parabéns, é espectacular!

    Tem umas peças de faiança portuguesas interessantíssimas. Não sabia que aí no Brasil havia peças de faiança portuguesa tão valiosas e raras.

    Folgo também pelo seu bom gosto, organização e apresentação.

    Irei ficar seguidor do seu blogue.

    Um grande abraço de um português (saloio). (Sabe qual é a região ?)

    Jorge Amaral

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  3. Caro Jorge Amaral

    Recomendo-lhe que consulte o catálogo "Fábrica de Louça de Miragaia. Lisboa: IMC, 2008" e verificará que esse prato covo não é Miragaia. Miragaia terminou em 1850 e esse prato é já dos finais do XIX, se não for mais tardio. Tenha cuidado, pois nem tudo o que está escrito na net é de confiança e há que procurar ter igualmente um suporte bibliográfico, que sustente as nossas afirmações.

    Um abraço

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  4. Caro Luis Y,

    Mais uma vez altamente reconhecido pelos seus comentários e ajudas.

    Vou realmente consultar em pormenor a fonte que me indica e tomar mais em atenção a sua dica.

    Muito Obrigado.

    Um abraço.

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  5. Jorge

    Há uma certa tendência nas feiras de velharias a considerar toda a louça azul e branca, do século XIX e ainda início do XX, como Miragaia, o que é um exagero grosseiro. Miragaia tem uma produção muito característica e ter o livro que lhe indiquei na mão é essencial para distinguir o trigo do joio.

    Um abraço

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  6. Caro Luis Y,

    Concordo totalmente consigo! Na verdade, nas feiras tudo o que é louça azul e branca é "Miragaia" - e com tanto martelar "até vamos na onda"....

    O livro que indica é na verdade um excepcional guião e eu não devia, nunca, esquecer-me dele.

    Brevemente vou fazer uma postagem de uma peça azul e branca e tentar desmistificar um pouco o"Miragaia", das feiras de velharias.

    Um abraço.

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  7. Respostas
    1. Cara Isa Coy,

      Pese embora tenha removido o seu comentário, apreciei o mesmo e por isso lhe respondo.

      Antes de mais os meus maiores agradecimentos pelos seus comentários, indicações e conselhos, os quais vou tomar, desde já, em consideração.

      Reconheço de cometi "gaffes" de mero aprendiz; mas penso que tentar aprender e fazer algo, não é crime!

      Quando não sabemos tentamos aprender, sempre, e geralmente recorremos aos que pensamos e cremos que sabem mais que nós e por vezes, sem querermos ou darmos por isso, podemos repetir algo que disseram – não estamos de modo algum a plagiá-los, pois até indicamos as fontes onde fomos “beber” as informações.

      Aceito perfeitamente que tenha falta de criatividade, a outros sobra; mas o tentar transmitir o gosto que tenho pelas faianças, e o divulgar peças que considero interessantes, talvez disfarce essa “insuficiência”.

      Tal como já pedi desculpas a outros, também lhe peço a si, e publicamente, desculpa, pela utilização de imagens que recolhi no Google – imagens, sem registo de direito de autor e publicamente divulgadas, fazendo assim parte do “domínio público” – gaffe de aprendiz – prometo não usar mais alguma imagem sua – irei ter a máxima de atenção, para confirmar a proveniência das imagens e se considerar importante, para o que esteja a escrever, em termos comparativos, pedirei previamente autorização para as apresentar.

      Peço desculpa, tal como já lhe disse sou um “mero aprendiz”, louvo-a por fazer cursos de cerâmica e dou-lhes os parabéns – são pessoas como a Senhora que necessitamos, para que escrevam sobre a faiança portuguesa para que o passado da mesma se projete no futuro, pois foi uma importante arte decorativa nacional que se perdeu.

      Penso que o que escrevi em nada a desvalorizei ou efectuei qualquer comentário não abonatório sobre si ou sobre as suas postagens no seu blogue – nunca me referi, pessoalmente, a ninguém até hoje.

      Perante a enorme ajuda que me deu, em relação à eventual origem do prato – Coimbra, vou corrigir a postagem que pus.

      Em relação a José dos Reis (dos Santos) e à sua actividade e justificação para o que indiquei, tenho a informá-la que consultei a seguinte bibliografia:

      (segue em comentário seguinte)

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  8. Cara Isa Coy,

    Concluindo,

    Em relação a José dos Reis (dos Santos) e à sua atividade e justificação para o que indiquei, tenho a informá-la que consultei a seguinte bibliografia:

    1) Cerâmica em Alcobaça – 1875 até ao presente; exposição de 6 Abril a 4 de Maio 2011 – Catálogo da exposição, coordenador: Luís Afonso Peres Pereira.

    - a folhas 32, vem expresso “Em 1863, há notícia de José dos Reis dos Santos ser mercador de louça em Coimbra e, certamente conhecedor das necessidades deste concelho, para aqui se desloca, abrindo então em 1875 a sua fábrica junto à Ponte D. Elias – “


    2) Faiança Portuguesa – Séculos XVIII-XIX (2º Volume) de Arthur de Sandão – livraria civilização (exemplar assinado pelo autor.

    - a folhas 235, vem expresso “Era conhecida a Fábrica da Louça no plano regional onde o seu fundador, José dos Reis, a estabeleceu em 1875.”

    - na mesma folha, um pouco mais adiante “A atividade cerâmica de José dos Reis, que veio a falecer em 1897, foi, portanto, de vinte e dois anos. Logo a seguir a fábrica é alugada pela filha a Manuel Ferreira da Bernarda Júnior,..”


    3) Faiança Portuguesa – Séculos XVIII-XIX – Colecção Pereira de Sampaio, editores ACD, Coordenação de Jorge Pereira de Sampaio.

    - a folhas 69, vem expresso: “ A primeira fábrica de louça existente em Alcobaça foi fundada em 18756, cinco anos depois de ter fechado as suas portas a Real Fábrica do Juncal, a principal abastecedora da Região. Em 1863, há notícia de José dos Reis dos Santos ser mercador de louça em Coimbra7, e, certamente conhecedor das necessidades da região de Alcobaça, para aí se desloca, abrindo a sua fábrica junto à Ponte D. Elias….”

    - a nota 6 tem como justificação: “Não existindo quaisquer documentos escritos, a única fonte que nos mostra a data da fundação da fábrica é um prato de grandes dimensões feito para a , em 1925, que aponta ser 1875 o ano de criação.”

    - a nota 7 tem como informação: “Cf. Arquivo Histórico Municipal de Coimbra, Livro Vereações 87º, O/87, Sessão 27 de Agosto de 1863, f. 177v.”

    - a folhas 70 e 71 há uma caracterização e identificação das peças fabricadas por José dos Reis, bem como um pouco mais de história da sua atividade e desempenho, que nos dispensamos de apresentar aqui.


    4) Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos, de José Queiroz – Organização, apresentação, notas e adenda iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença, 1987.

    - a folhas 154, vem expresso: “Fábrica de Alcobaça – Fundada por José dos Reis18, pouco mais ou menos nesta data. Este Reis faleceu em 1897, tomando o seu lugar na fábrica Manuel Ferreira Bernarda Júnior, que alugou à filha do fundador, três anos depois da morte deste industrial. Produz louça ordinária e fina – no género de Coimbra - pintada à mão e estampilhada.”

    - a nota 18 tem como informação: “Deste ceramista são as marcas n.ºs 23 e 174 da presente edição”.

    - as marcas são as seguintes:

    (como sou um aprendiz, também informático, não consegui inserir as ditas marcas, mas depois envia-lhas a si)




    Como vê, não foi levianamente que escrevi, mas com base numa bibliografia que considero altamente credível, idónea e respeitável.

    Agradeço mais uma vez reconhecido pela “aula gratuita que me deu”, mas também como sabe, duas grandes virtudes que devemos ter ao longo da vida é: ser humildes e ensinar quem não sabe – ninguém nasce ensinado. Por isso mais uma vez obrigado.

    Em conclusão, fico agradecido por tudo o que me disse, que entretanto removeu; vou tomar em linha de conta o que escreveu, e como viu, humildade não me falta, sei pedir desculpa e reconhecer os erros, não sou “vaidoso” nem “presunçoso”.

    Cumprimentos,

    Jorge Gomes

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