TIGELA RARA, COM
COMPOSIÇÕES EVOCATIVAS AO NORTE, DE MOTIVO DESCONHECIDO, DA FÁBRICA DE LOIÇA DE
SACAVÉM
Tigela
em Faiança, da Fábrica de Loiça de Sacavém, com o formato “FRANCÊS”, com a
marca estampada, na cor verde, de Gilman & Cta., SACAVÉM, PORTUGAL,
correspondente ao período de fabrico de 1902-1970, mais especificamente ao sub-período 1921-1970.
Trata-se
de uma peça moldada, em forma de calote, assente numa base circular, mais
pequena, arredondada e com canelura.
Possui
decoração monocroma, na cor verde, sobre fundo branco, por técnica de
estamparia, com duas composições diferentes, dispostas simetricamente no bojo
exterior.
O
motivo decorativo de uma das composições com uma cena campestre e de ruralidade
leva-nos a pensar no motivo “LAVOURA”, mas comparando com peças identificadas
com este motivo, facilmente concluímos que não é.
Por
outro lado, e comparando com outras peças com cenas de “TRABALHO AGRÍCOLA”, de
um serviço particular, encomendado à FLS por Estêvão António D’ Oliveira, por volta de 1878-1880, também facilmente concluímos que não se trata do mesmo
motivo.
Estamos
pois perante um motivo ainda não catalogado!
Este
motivo apresenta um carro de bois, com seis varais e com uma carga de feno ou
milho, provavelmente, puxado por uma junta de vacas (vêem-se as tetas) eventualmente
barrosãs (pela exibição dos cornos) com o agricultor, de vara e barrete, em
frente às mesmas, mas não se conseguindo descortinar o jugo que alinhava os
dois animais pelas cabeças.
Em
função do tipo dos meãos das rodas, pode-se considerar que se trata de um carro
de bois do Norte de Portugal, do Minho ou mesmo mais do Nordeste, o que vai ao
encontro da raça do bovino, identificada.
A
outra composição, bucólica e fluvial apresenta um rio, que presumimos ser o rio
Douro, com a exibição de quatro barcos rabelos, dois próximos, de fácil percepção e dois mais afastados.
O
mais próximo, sem a vela quadrada alçada, apresenta um carregamento de pipas,
deitadas no barco, o qual possui dois vultos à frente e quatro atrás que
movimentam o remo longo à popa – a espadela, para fazer navegar o barco, provavelmente
do Alto Douro, rio Douro abaixo, com destino ao Porto.
O
outro barco, um pouco mais afastado, com velas içadas, leva igualmente um
carregamento de pipas, com um vulto à frente e três atrás, à espadela.
No
horizonte vê-se a silhueta dos montes e no cimo de um, uma quinta onde se lê “SANDEMAN”
e “QUINTA”, a Quinta do Seixo, na margem sul do Rio Douro, no Cima-Corgo, onde
se produz o Vinho do Porto, mundialmente conhecido e apreciado, SANDEMAN.
Em
suma, trata-se de duas composições que enaltecem o Norte de Portugal, o Rio
Douro, o Vinho do Porto e a sua agricultura.
Que
motivo será?; “NORTE”?; “PORTO”; “DOURO”?
FONTES:
1)
– “Roteiro das Reservas”, Museu de
Cerâmica de Sacavém, de Ana Paula Assunção, Carlos Pereira e Joana Pina, Edição
Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – data?;
2)
– “Itinerário pela Produção da Fábrica de
Loiça de Sacavém”, Museu de Cerâmica de Sacavém, de Carlos Pereira, Joana
Pina, Graciete Rodrigues e Feliciano David, Edição Museu de Cerâmica de Sacavém
– Câmara Municipal de Loures – Julho de 2000;
3)
– “Fábrica de Louça de Sacavém –
Contribuição para o estudo da indústria cerâmica em Portugal 1856-1974” de
Ana Paula Assunção, Colecção História da Arte – Edições INAPA – 1997;
4)
– “150 Anos – 150 Peças – Fábrica de
Loiça de Sacavém” – Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de
Loures – Março de 2006;
5)
– “Dicionário de marcas de Faiança” de Filomena Simas e Sónia Isidro – Edição
Estar Editora - Lisboa – 1996;
6)
- “Porta aberta às memórias” – 2ª edição,
Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Setembro de 2009;
7)
– “Porta aberta às memórias” – Museu
de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Setembro de 2008;
8)
– “Primeiras Peças da Produção da Fábrica
de Loiça de Sacavém – O papel do Coleccionador”, Museu de Cerâmica de
Sacavém, de Ana Paula Assunção, Carlos Pereira e Eugénia Correia, Edição Museu
de Cerâmica de Sacavém – Julho de 2003;
9)
– “História da Fábrica de Loiça de
Sacavém”, Museu de Cerâmica de Sacavém, de Ana Paula Assunção e Jorge
Vasconcelos Aniceto, Edição Museu de Cerâmica de Sacavém – Julho de 2000;
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