domingo, 27 de julho de 2014

Par de Pratos de Massarelos, Motivo Alcântara, com estória

Par de Pratos de Massarelos, Motivo Alcântara, com estória

Descendentes de antigas pessoas, provavelmente, da gerência ou proprietários da Fábrica de Massarelos venderam todo o recheio de uma antiga casa familiar existente no Norte, incluindo faianças.

Entre essas faianças existiam dois pratos, de fabrico de Massarelos, com o motivo “Alcântara”, segundo nos informaram trata-se de pratos de presentear, isto é pratos de coleção, para oferecer e não circulados, para uso utilitário, doméstico.

 
 
Indicaram-nos que os poucos que foram efetuados, foi em “homenagem à Fábrica de Alcântara” e que teriam sido dados alguns aos então proprietários da Fábrica de Alcântara – teria sido assim? Desconhecemos e provas não há.

 

 
Trata-se de pratos covos, motivo “Alcântara”, com decoração vegetalista, triplica, estampada na aba, que se prolonga até ao fundo do prato, na cor monocromática verde, com a qualidade e o requinte que caracteriza a louça de Massarelos.

 
Um deles possui defeito na estampagem (falta uma pequena zona triangular, o que o torna uma raridade).

Trata-se de louça já com influência inglesa, com aplicação de decalques, natural em função da respetiva gestão por ingleses, em que a pasta era composta de barro inglês, caulino inglês, pedra de Cornwall e pederneira de Dieppe moída na Inglaterra, pese embora também se utilizasse barro de Barracão, da zona de Leiria, caulino da Senhora da Hora e areia belga, conforme conseguimos apurar em bibliografia (2).

 

 
É fabrico do período de CHAMBERS e WALL, dito 5º período, pois possuem gravação na pasta “MASSARELOS”, “PORTO” E “2” e carimbo, na cor verde, com as indicações “MASSARELOS”, “C e W” e “PORTO” e por baixo do mesmo o nome do motivo “ALCANTARA” e ainda a letra “H”.

 


Corresponde pois ao período de fabrico de 1912 a 1920 em que a gestão foi inglesa composta por Archibald James, Charles Frederick Chambers e seu filho, Charles John Andresen Chambers, tendo sido formada a sociedade Chambers & Wall, constituída a 18 de Setembro de 1912; até ao incêndio da fábrica em 1920, a 11 de Março.

De referir que este motivo é muito semelhante ao motivo “Peniche” da fábrica de “Alcântara”, diferindo no remate da composição vegetalista e na falta de base decorativa (trama) sob os motivos, conforme as imagens seguintes evidenciam tal situação.



 

Mais uma vez, vemos a “interligação” ou “cruzamento” entre as fábricas de Massarelos e de Alcântara e a “presença” ou “amizade” dos Chambers.

Não nos podemos esquecer que há louça fabricada em Alcântara que possui a gravação na massa de “CHAMBERS e C.ª”, que ainda não conseguimos desvendar, mas que presumimos ser da parte final do fabrico da fábrica de Alcântara, por volta da década de 30, do século passado, sob a administração da mesma família “Chambers”, que foi proprietária e gestora da fábrica de Massarelos.



Após o incêndio da fábrica de Massarelos, a firma “CHAMBERS e WALL” transferiu a sua produção de louça para uma fábrica onde produziam grés em Roriz, Quebrantões do Norte, freguesia do Bonfim a qual venderam em 1936 à Companhia das Fábricas Lusitana, a 29 de Fevereiro.

 
 
 
O referido empresário inglês Charles John Andresen Chambers esteve “muito ligado à fábrica de Massarelos e à indústria cerâmica”, que “ultrapassou duas décadas” – só na de Massarelos foi sócio durante 21 anos.

Algumas destas constatações foram confirmadas, anos mais tarde, por Charles A. Chambers, filho de Charles John Chambers.

Charles Frederick Chambers,  nasceu a 28.05.1867 e faleceu a 04.04.1957, casou com Olinda de Brito Andresen, em 29.08.1889, tendo tido quatro filhos, sendo varão Charles John Andresen Chambers, que nasceu em 29.06.1893 e viria a casar com Branca Lavínia Pankhurst Soares de Bulhão Pato.

(Charles Frederick Chambers, filho)
 

Os pais de Charles Frederick Chambers foram Charles Frederick Chambers, que nasceu em 17.01.1830 e faleceu em 1900 e Maria Júlia Kelly de Aguillar da Cunha Lima, que nasceu a 18.04.1949 e faleceu em 1932.

(Charles Frederick Chambers, pai)
 
De salientar que não se encontram devidamente catalogadas muitas peças, de fabrico de Massarelos, em mãos de colecionadores ou de simples cidadãos atentos e interessados pelo património nacional, demonstrativo do interesse que este tipo de louça motiva perante os mesmos.

Sabemos que há, pelo menos, um colecionador particular que possui um ou dois pratos com o motivo semelhante ao que apresentamos.

Em várias épocas de fabrico se constata que fábricas distintas fabricaram louça com motivos semelhantes.




Várias situações destas já se detetaram nomeadamente entre as Fábricas de Massarelos e de Alcântara, com a utilização de estampagens de motivos muito semelhantes, cada uma com o seu carimbo habitual, à exceção de algumas peças (poucas) de Alcântara com a marca de fabrico gravada na massa de “CHAMBERS & C.ª”, tal como nós já referimos e também no blogue (4).



Algumas peças produzidas entre 1912 e 1920 pela Fábrica de Massarelos, foram “repetidas” na fábrica de Alcântara, mas sem marca na pasta de “Lopes & C.ª”, mas sim de “CHAMBERS & C.ª”.

 
Isto leva-nos a equacionar que provavelmente alguns anos após o incêndio da Fábrica de Massarelos em 1920 e à produção de menor qualidade efetuada na fábrica de Roriz, um dos Chambers, eventualmente Charles Frederick Chambers  ou o seu filho, Charles John Andresen Chambers,  com o espirito empreendedor que tinham e o elevado gosto e dedicação à Cerâmica tenha administrado a Fábrica de Alcântara, eventualmente no final da década de 20 ou início da década de 30, do século passado.

Fábrica esta com um equipamento menos tecnológico que o de Massarelos e com processos produtivos menos industrializados e profissionalizados, que conjuntamente com as dificuldades produtivas, dado as dinâmicas operárias e relacionais serem muito diferentes entre as de Massarelos e de Alcântara, a produção não foi a prevista, com a qualidade desejada e nem adequada às pretensões dos Chambers, começando a fábrica a definhar e criando as condições para o seu encerramento.

Teria sido assim? É uma hipótese! Faltam, ainda, evidencias ou provas!


FONTES:


2) – “ A Fábrica de Louça de Massarelos – Contributos para a caraterização de uma unidade fabril pioneira – Volume I, de Armando Octaviano Palma de Araújo; Dissertação de Mestrado em Estudos do Património, Universidade Aberta – Departamento de Ciências Sociais e de Gestão, Lisboa – 2012”  









 

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Motivo EGYPCIO da Fábrica de Alcântara.


Motivo EGYPCIO da Fábrica de Alcântara


O interesse e o gosto pelas faianças, leva-nos, cada vez mais, a conhecer mais pessoas, maravilhosas e ávidas de conversa e comunicação, em algo que as apraz também, as faianças e as porcelanas de fabrico nacional.

Na verdade, nunca pensávamos que houvesse tantas pessoas interessadas nas faianças, colecionadoras e com vastos conhecimentos.

Temos vindo a aprender bastantes com elas e a saber muitas estórias, da história da fabricação de faianças em Portugal.

E algumas dessas pessoas, vindo a saber do nosso gosto e dedicação às faianças, efetuando o colecionismo possível, dão-nos a conhecer e a indicar onde existem peças que podem ser adquiridas ou de alguém que pelas mais diversas razões e motivos pretende desfazer-se de peças que possuem.

Tudo isto a propósito de uma senhora, uma querida velhinha, muito faladora e simultaneamente encantadora, que na companhia da sua netinha, de forma inibida, pretendia vendar alguns antigos pratos, que possuía na sua casa. Certamente para ajudar a sua netinha.

Indicaram-nos a senhora e lá fomos ter com ela. Fizemos negócio e compramos um dos pratos que consideramos dos mais encantadores da Fábrica de Alcântara – o motivo EGYPCIO, monocromático, na cor azul celeste.




Trata-se de um prato com decoração de composições florais, eventualmente alusiva à flor de lótus, com filetes de remate na bordadura da aba e no limite do covo. O rebordo da bordadura é rematado com uma grinalda de bandeiras triangulares e entre os filetes no limite do covo para a aba uma repetição de figuras geométricas retangulares com um topo arredondado.


Na verdade há algumas semelhanças com a flor de lótus:


No centro do covo do prato desenvolve-se uma rosácea, rematada com uma grinalda de bandeiras triangulares, com repetição pentagonal – tipo composição de caleidoscópio.


Veja-se uma imagem de caleidoscópio e na verdade há semelhanças:

Segundo um blogue consultado (2), este motivo teve influencia, tal como muitos outros, da produção inglesa, em especial na cor castanha ou azul, produzida pela fábrica Copeland, antiga fábrica Spode, por volta de 1855 e a que chamavam o padrão Honeysuckle ou Empire.


Este prato apresenta todas as características inerentes à faiança de Alcântara, a saber:

- Faiança grossa e pesada;

- O tardoz do fundo do prato possui um único círculo extremo saliente;

- Três locais com três pontos cada, no verso da aba do prato, marca do apoio, quando os mesmos iam cozer.



Para além destas características, possui todas as marcas e carimbos identificativos:


- Marca circular gravada na massa, com a indicação “LOPES & C.ª – ALCANTARA – LISBOA” e por baixo da mesma, igualmente gravado na massa: “918”;

- Carimbo monocromático azul, “FABRICA D’ ALCANTARA”, “FAIANÇA FINA”, “LISBOA” e sob a mesma inserida num caixilho retangular o nome do motivo “EGYPCIO”;

- Marca figurativa gravada na massa, um pequeno quadrado;

Tentando identificar o período de fabrico, segundo o livro Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos, de José Queirós, com Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença – 3ª Edição – 1987, a páginas 277, item 186; fabrico de 1886 em diante – Fábrica fundada por Stringer, Silva e C.ª, cujos proprietários atuais são Lopes & C.ª – marca estampada Louça estampada).




Tentando sistematizar as datas pelos carimbos e marcas, poderemos considerar as seguintes situações:

1.Fabrico de 1885 a 1886: S.& S. - F.ª DE LOUÇA INGLEZA - ALCANTARA - LISBOA - firma Stringer, Silva e C.ª:


2. Fabrico de 1886 a 1889: L & C – LOUÇA À INGLEZA -FABRICA D'
ALCANTARA  - LISBOA – firma Lopes & C.ª.


 

2.a Idem, variante – 1889 a 1897 (?) : L & C – LOUÇA À INGLEZA – FABRICA D´ALCANTARA - LISBOA - TRAVESSA D’ ASSUMPÇÃO 37 E 39


Imagem de prato que evidencia o carimbo em apreço:

ou outro carimbo semelhante,

3. Fabrico de 1889 a 1901: L & C – FAIANÇA FINA– FABRICA D´ALCANTARA - LISBOA – firma Lopes & C.ª


Uma variante de carimbo, em que a raquete de FAIANÇA FINA está voltada para cima (ao contrário, para uma adequada leitura):


outra variante é a troca de "raquetes", a de baixo para cima diz "FAIANÇA FINA" e de cima para baixo diz "FÁBRICA D' ALCANTARA":



3.a Idem, variante – 1889(?) a 1898 : L & C – FAIANÇA FINA – TRAVESSA D’ ASSUMPÇÃO 37 E 39
(O respectivo prato que possui o carimbo comprova ser o mesmo de 1898)
4. Fabrico de 1897 (?) a 1930 (?): LOPES & C.ª - ALCANTARA - LISBOA




Cremos que o carimbo seguinte será da fase final do período indicado (1925 - 1930) (?), em que "ALCANTARA" e "LISBOA", possuem menor dimensão:


5. Fabrico de 1930 (?) a 1934 (?): firma CHAMBERS & C.ª
Não conhecemos qualquer carimbo referente a este período, mas sómente marca gravada na massa. 
Existem outras marcas de fabrico, que se confundem com faiança inglesa, mas que ao possuirem "F A" - de Fábrica de  Alcântara, ou "FAL & Cª" - de "Fábrica de Alcântara - Lopes & Cª" conjuntamente com a marca gravada na massa correspondente ao período de Lopes & C.ª, não deixam dúvidas.


As marcas gravadas na pasta, leva-nos a sistematizar as mesmas pelos vários períodos de fabricação, da seguinte maneira:
1.Fabrico de 1885 a 1886: S.& S. - F.ª DE LOUÇA INGLEZA - ALCANTARA LISBOA - firma Stringer, Silva e C.ª:





2. Fabrico de 1886 a 1897 (?): LOPES & C – ALCANTARA - LISBOA – firma Lopes & C.ª.

(desconhece-se qual a gravação na pasta - se a houve)

2. Fabrico de 1897 a 1930 (?): LOPES & C – ALCANTARA - LISBOA – firma Lopes & C.ª.



 
3. Fabrico de 1930 a 1934 (ou 1935): firma CHAMBERS & C.ª:

Trata-se de um período de fabrico que é ainda uma incógnita, mas que há marcas gravadas nas peças de Alcântara:



Por outro lado, o sinal ou marca figurativa identificada no prato em apreço não nos permite ainda assegurar com rigor a data, sendo que o autor supra citado identificou um sinal (um circulo gravado na massa) – pagina 343, item 834, do livro atrás identificado, como fabrico de 1901, da época de Lopes & C.ª, mas para a “marca quadrada” ainda não conseguimos identificar o ano de fabrico, mas vamos tentando.
Em suma: certezas não temos, dúvidas temos muitas; esta postagem tão sómente teve em vista tentar fazer uma sistematização dos carimbos, marcas, gravações na pasta e marcas figurativas igualmente gravadas na pasta, conjuntamente com a identificação do motivo EGYPCIO.
Contamos com a contribuição e correcção de todos, no sentido de melhorar o efectuado e agora postado, corrigindo eventuais falhas, erros ou imprecisões.
Oportunamente voltaremos ao tema, em especial para tentar desvendar a marca - gravação na massa  "CHAMBERS & C.ª, bem como ao facto da Fábrica de Massarelos ter tido um motivo "ALCÂNTARA", em homenagem à fábrica de Alcântara, que é identico ao motivo "PENICHE" desta ultima.

FONTES:
1) - http:// fabricadealcantara.blogspot.com;

2) - http:// artelivrosevelharias.blogspot.com/;

3) - http:// mercadoantigo.weebly.com/alcantara.html;

4) - http:// leriasrendasvelhariasdamaria.blogspot.com;

5) - http:// mfls.blogs.sapo.pt/tag/alcântara;

6) - http:// artevelha-lm.blogspot.com;
7) -Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, com Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença – 3ª Edição – 1987;