domingo, 15 de fevereiro de 2015

PRATO EM FAIANÇA COM DECORAÇÃO FLORAL ESTAMPILHADA NA ABA. FABRICO DO NORTE OU DE COIMBRA (?),

Porque será que os pratos em faiança, mais antigos, de uso mais comum e popular, eram mais pequenos? Seria para os seus utilizadores comerem menos?


Este pequeno prato, em faiança “grossa”, simples, com intensa decoração floral, simétrica, monocromática, cor-de-rosa forte, na aba chamou-nos a atenção. A decoração no covo é singela e reporta-se a dois filetes, concêntricos, na mesma cor.


A decoração da aba foi aplicada por estampilhagem, com uso a stencil – chapa recortada, para a pintura do motivo em causa.


O tardoz do prato evidencia um esmalte leitoso, muito poroso, com a apresentação da massa.


A atribuição do seu fabrico não é fácil, pois não há qualquer marca ou carimbo que o permita identificar com segurança.


É de Coimbra! É fabrico do Norte!, Afinal em que ficamos.

Na fonte (1) é exibido um pratão em que o mesmo é considerado como “possível fabrico de Coimbra”.

A decoração da aba do mesmo, é precisamente igual ao do prato que estamos a apresentar.


Igualmente na mesma fonte (1) surge um novo prato, a seguir exibido, e em que é dito que “embora estes pratos tenham surgido em inumeradas fábrica do Norte, a decoração simétrica da aba sugere origem de Coimbra


Mais uma vez a decoração da aba é igual à do nosso prato.

Ainda através de uma outra consulta à mesma fonte (1) é exibido um pratão, em que, mais uma vez, a decoração da aba é igual ao do nosso prato, mas a identificação do mesmo é diferente: “…Pratão em faiança do Norte, provável origem da fábrica Cavaco” (????)


Mais pesquisas efectuámos e convictos ficamos que se trata na verdade de um fabrico de Coimbra.
  
Pela decoração floral simétrica estampilhada na aba e a singeleza dos dois filetes limitadores do covo, leva-nos a considerar como sendo de fabrico de Coimbra e não do Norte.


Fontes:


2) – “Faiança Portuguesa Séculos XVIII-XIX”, Colecção Pereira de Sampaio, Editores ACD, 2008.

3) – “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença, 3ª Edição, Lisboa, 1987.


4) – “Faiança Portuguesa – Seculos XVIII-XIX”, de Arthur de Sandão, Livraria Civilização, 2º Volume, Barcelos, 1985

9 comentários:

  1. Caro Jorge

    Gostei muito de ler o seu texto, em que tenta sistematizar as dúvidas que tomos sentimos.

    Em primeiro lugar, no passado, no século XIX e ainda no início do XX abundavam pratos de grandes dimensões, pois nas famílias pobres ou nas remediadas ainda era hábito servir-se a refeição num único prato de grandes dimensões, do qual todos se serviam usando apenas uma faca ou um garfo. O hábito de comer em individuais começa na nobreza e o seu uso, vai descendo gradualmente pela escala social. Há relatos literários e orais sobre esse hábito comum nas pessoas do povo de comerem do mesmo prato.


    Tenho um ou outro desses grandes pratos de meados do século XIX, cujo nome variava muito, consoante a região, pratos galinheiros, palanganas (dimensões iguais ou superiores a 35 cm) ou fontes.


    Em suma, talvez o seu prato como é individual não seja assim tão antigo como isso, pois o uso dos individuais só se generaliza nos grupos sociais menos favorecidos já tarde. Creio que o seu prato será dos inícios do XIX

    É um prato muito bonito e com um encanto cheio de ingenuidade.

    Quanto à decoração, julgo que o Jorge acabou por demonstrar que há determinados tipos decorativos usados de Norte a Sul do País. Correspondiam a um gosto popular e eram copiados de fábrica para fábrica e nem sempre servirão para fazer atribuições de fabrico.

    Por mero instinto, talvez por causa da pasta amarelada, também penso que este prato será da região centro. Tenho ideia que a faiança do Porto e Gaia é de melhor qualidade. Mas, como lhe referi isto são palpites, sem qualquer outra fundamentação, além da experiência.

    Um abraço e gosto muito destas suas tentativas de sistematização

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  2. Caro Luis,

    Obrigada pelo seu comentário, esclarecimentos e informações.

    Comungo totalmente com as suas opiniões.

    A Faiança é um "mundo", e as suas incógnitas um manancial - são essas premissas que nos encantam e motivam a pesquisa e tentar desvendar um passado desconhecido...

    Um abraço, e mais uma vez, Obrigado!

    Jorge

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  3. Olá Jorge! Saudações brasileiras!
    Apesar de não comentar as publicações, estou sempre dando uma passada por aqui.
    Sempre para aprender algo a mais.
    Lindo prato, cor e desenho que casaram perfeitamente e que ficaram mais ricas com sua explicação e complementada com o comentário do Luís!
    Um grande abraço!

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    1. Caro C. Deveikis,

      Prazer em receber as suas agradáveis palavras, obrigado!

      Na verdade o Luis Y (Montalvao), com os seus preciosos comentários valoriza, esclarece e completa o que escrevemos. Agradecemos sempre os seus valiosos comentários.

      A si obrigado também pelo oportuno comentário.
      Um grande abraço lusitano.

      Jorge

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    2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. É lamentável que tenham sido usadas fotos cujo autor não foi consultado. Mas enfim, parece que no mundo das antiguidades vale tudo. Daí o meu afastamento definitivo

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  5. Caro Sr.

    Agradeço o seu comentário e compreendo-o, perfeitamente.

    Os verdadeiros amantes de velharias, para além de possuírem algumas peças, gostam de as estudar, efectuar conjecturas, tentar sistematiza-las, compará-las com outras, que são exibidas noutros blogs, de modo a divulgar informação, trocar opiniões, obter esclarecimentos sempre em prol da Faiança Portuguesa.

    Na generalidade são pessoas francas, de espírito aberto, que gostam de ler o que outros escrevem, comentar, opinar, dar pistas, e nunca de forma alguma elencar situações de desagrado por se apresentar uma imagem de uma peça de outro blog, para compará-la com outra ou outras, sem indicar o seu proprietário, pois isso, sim, poderia ser considerado abusivo e inadequado.

    Sou um homem já com bastantes anos e com cabelos brancos, mas que não se preocupa que divulguem ou façam transcrições das postagens do seu blog e das imagens de peças de Faiança que são suas.

    Cada um tem a sua maneira de ser, de viver, de ser cordial, de ser humilde e ser amante da Faiança Portuguesa.

    Resta-me lamentar que se afaste em definitivo do Mundo das Velharias e em especial das Faianças Portuguesas, pois um verdadeiro amante das mesmas nunca se afasta.

    Cordiais saudações.

    Jorge

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  6. Eu vou esclarecer o meu comentário. Há cerca de 15 anos atrás criei o site mercadoantigo (gratuito) e comecei a ordenar as peças que me passavam pelas mãos conforme origem, data de fabrico e demais dados. Fi-lo para me orientar deixando em aberto a possibilidade de quem o visitasse contribuir com criticas, comentários, fotos, para o qual existia um formulário. Todas as fotos que coloquei além das minhas foram autorizadas pelos respectivos donos ou coleccionadores, excepto alguns selos de fabrico que retirei da Google. Este mês, sem qualquer explicação o site foi encerrado e ao inquirir responderam "violação dos termos". Só posso deduzir que alguém cometeu alguma maldade. Tentei que me deixassem ao menos guardar o meu trabalho do qual não tinha backup e não me responderam mais. No entanto vejo que as minhas fotos circulam por diversos blogs e pergunto-me: como não me deixam aceder as minhas fotos e textos se eu sempre as disponibilizei para quem as quisesse usar? Só lamento que as pessoas não sejam frontais e se há alguma coisa que acham que está errado, alguma informação menos correcta, porque não dialogar? Porquê falar por trás ? Ou no caso do Mercado Antigo porquê contribuírem para o seu encerramento em vez do enriquecerem com informação, fotos, correcções? Enfim, sem ressentimentos com ninguém. Muito menos consigo Sr Jorge Amaral. Cump Cristina

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    1. Cara D.ª Cristina,

      Agradeço reconhecido o seu comentário, pois dissipou eventuais dúvidas ou interpretações.

      Na verdade o seu blog "mercadoantigo" era um dos quais visitava, que gostava do que apresentava e das indicações e informações que eram prestadas em relação às peças que exibia.

      No inicio das minhas postagens só colocava como bibliografia ou documentos consultados os livros, mas depois um "colega nosso destas andanças" aconselhou-me a referenciar também os blogs que consultava ou dos quais fazia referencias, o que passeio a fazer, pelo que em postagens posteriores já referenciava os blogs e o "mercadoantigo" foi várias vezes indicado.

      Na verdade, o que relata é lamentável, removendo um blog com tanta informação em relação à Faiança Portuguesa, como era o seu.

      Realmente há situações que não se compreendem...

      Cordiais saudações.

      Jorge Amaral

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