O motivo “Cantão Popular” é uma obsessão
que temos a nível da faiança, devido à diversidade da sua decoração, à
incógnita do seu fabrico, às tonalidades de azul aplicadas, às suas semelhanças
e diversidades, enfim devido à sua beleza.
Apresentamos agora um grande prato,
partido, colado, gateado com dez “agrafos” já muito enferrujados, enfim
estimado.
Cremos tratar-se de um fabrico do
Norte, provavelmente do final do século XIX, ou início do XX, assemelhando-se
um pouco ao que se diz, ser fabrico “Miragaia”, mas sem certezas….
Os motivos básicos e repetentes
deste motivo estão presentes: o edifício (tipo pagode ou palácio?) ao gosto
oriental, com as suas cúpulas características; os vários vãos de fenestração; a
vegetação, as nuvens; os espelhos de água…
A característica cercadura da aba do
prato: um duplo filete, ladeando uma faixa larga, com espaçamento e afastamento
irregular – evidenciando a mão e o traço não firme do seu artista ou a rapidez
da sua execução.
Após este duplo filete envolvendo a faixa,
aprecia-se uma cercadura com o espinhado pelo exterior, irregular, secundado por
uma canelura ondulada já mais próxima do covo.
No limite do covo vê-se, igualmente,
um duplo filete ladeando uma faixa larga, tudo na cor azul, mais escura. Vê-se
igualmente um borrão nesta decoração, certamente por descuido do seu artista,
ou por escorrimento do pincel.
É a configuração desta cercadura e a
sua composição que nos leva a considerar ser uma peça de fabrico do Norte.
Por outro lado, a sua textura, o
tipo a cor da pasta – cor de grão (visível no tardoz do prato), o tipo de
vidrado – leitoso e escorrido, leva-nos a induzir que o seu fabrico seja
provavelmente da segunda metade do século XIX ou inicio do XX – será?
Certezas – não se têm, mas o prato é
interessantíssimo, por isso, aqui fica o seu registo.
FONTES:
1) – “Faiança Portuguesa Séculos
XVIII-XIX”, Colecção Pereira de Sampaio, Editores ACD, 2008.
2) – “Cerâmica Portuguesa e Outros
Estudos”, de José Queirós, Organização, Apresentação, Notas e Adenda
Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial
Presença, 3ª Edição, Lisboa, 1987.
3) – “Faiança Portuguesa – Seculos
XVIII-XIX”, de Arthur de Sandão, Livraria Civilização, 2º Volume, Barcelos,
1985.
4) – “Cerâmica Artística Portuense dos
Séculos XVIII e XIX”, Vasco Valente, Livraria Fernando Machado – Porto,
5) – “Cerâmica Portuense – Evolução
Empresarial e Estruturas Edificadas”, Teresa Soeiro, Jorge Fernandes Lacerda,
Silvestre Lacerda, Joaquim Oliveira, Edição Portugália, Nova série, volume XVI,
1995.
6) – “Fábrica de Louça de Miragaia”, Museu
Nacional Soares dos Reis, Edição IMC, Lisboa, 2008.
7) - http://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/75570/3/72863.1.pdf;
(A Fábrica de Louça de Santo António de Vale de Piedade, em Gaia: arquitetura,
espaços e produção semi-industrial oitocentista; LAURA CRISTINA PEIXOTO DE
SOUSA, 2013).
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