domingo, 10 de maio de 2015

PRATO DE ALCÂNTARA, MOTIVO MANUELINO

A Faiança da Fábrica de Louça de Alcântara encanta-nos de forma superior, pelo que ciclicamente fazemos uma revisitação à mesma e apresentamos uma peça, de modo a mantê-la presente.
Todos sabemos, que quando a Fábrica de Louça de Alcântara iniciou a sua fabricação, em 1885 tinha de rivalizar e concorrer com a faiança inglesa, da qual teve uma enorme influência, de mais a mais que um dos seus primeiros proprietários e gestor era inglês, Stringer.
Por tal razão, a qualidade da louça que começou a produzir era de muito boa qualidade, a dita “faiança à ingleza” e quando passou para a gestão portuguesa, exclusiva, com Lopes & C.ª, e a denominada “faiança fina”.
Pese embora tivesse utilizado alguma estampagem igual ou semelhante à inglesa, a linha diferenciadora e cativante para impulsionar o seu consumo foi a utilização de estampagem com motivos próprios e ao gosto nacionalista.
Um desses motivos, e que permitiu a concepção de um prato fabuloso foi o “Motivo Manuelino”, com um perfeito toque nacionalista, reportando, evidenciando e enaltecendo a época áurea dos descobrimentos portugueses, aos quais se associa o estilo Manuelino.
O estilo Manuelino, ou seja o estilo gótico português, tardio ou também denominado flamejante cujo expoente máximo e edificação emblemática é o Mosteiro dos Jerónimos, mandado construir por D. Manuel I, e destinado a perpetuar o regresso de Vasco da Gama, da Índia, em 1502.
O exemplar que apresentamos possui o motivo “Manuelino”, com uma exuberante decoração na aba do prato, sopeiro, em tom monocromático grená, decoração essa com a exibição de seis pormenores arquitectónicos do referido estilo gótico português tardio ou manuelino, alternados com outros seis elementos decorativos em que exibidos figuras ou bustos com trajes à época.
No centro do covo do prato sopeiro, uma esfera armilar e envolvendo a mesma uma coroa circular com motivos vegetalistas, igualmente na cor monocromática grená ou rosa escuro.
A esfera armilar é o motivo preponderante e mais frequente na arquitectura manuelina, tendo sido a divisa conferida pelo rei D. João II ao futuro rei D. Manuel I, e mais tarde considerada como um sinal de afirmação divina para o reinado do citado D. Manuel.
Possui no tardoz do prato marca monocromática grená com a indicação de “L & C” – (Lopes & C.ª), “FAIANÇA FINA”, “FABRICA D’ALCANTARA”, e encaixilhado “MANUELINO”, ou seja o nome do motivo da peça, pelo que o seu provável período de fabricação, segundo a fonte 1), se terá iniciado no ano de 1886, quando a fábrica passou para a propriedade e gestão de Lopes & C.ª.
Segundo palestra dada pelo Sr. Jaime Regalado em 23 de Janeiro do corrente ano, no Museu de Cerâmica de Sacavém, a designação de “FAIANÇA FINA”, em substituição de “LOUÇA À INGLEZA”, começou a ser aplicada provavelmente a partir de 1890.
Trata-se pois de uma peça, muito provavelmente com cerca, ou mais, de 125 anos, em perfeito estado de manutenção, sem qualquer cabelo, nem qualquer coloração de gordura ou outra.
Pelo motivo, pelo seu estado de conservação, trata-se de uma peça que podemos considerar rara!

Fontes:

1)“Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, com Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença – 3ª Edição – 1987;

4) - “Cerâmica Portuguesa – Marcas da Cerâmica Portuguesa”, de José Queirós, 2ª Edição, II Volume, (1ª reedição em fac-simile), José Ribeiro – Editor e Livraria Estante Editora, Aveiro – 1987;


2 comentários:

  1. Caro Jorge Amaral.
    é realmente um prato de desenho invulgar, ainda para mais na tonalidade em que se apresenta.
    na minha colecção tenho dois exemplares de tonalidades azul-claro e azul-escuro, penso que foi produzido também em castanho se não me falha a memória.
    um abraço.

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    1. Caro Ricardo Ferreira,

      Grande satisfação pela sua visita e pelo seu comentário. Na verdade trata-se de um prato interessantíssimo!
      As peças que foram produzidas na Fábrica D' Alcântara são espectaculares.
      Boa semana,
      Um abraço,
      Jorge Amaral Gomes

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