domingo, 8 de junho de 2014

MOTIVO 170 DA FÁBRICA DE LOUÇA DE SACAVÉM


Ciclicamente regresso à louça de Sacavém e lá vou descobrindo um novo motivo ou uma nova peça, que me fascina e me encanta, com a pesquisa, com a análise e com as informações e conclusões que obtenho.

Fala-se em Sacavém e logo vem à memória o motivo Estátua ou Cavalinho, mas os motivos são às centenas, uns mais conhecidos, outros menos, quer com nomes, quer simplesmente com numeração.

Dos motivos só com numeração, houve um, não muito vulgar, que me suscitou especial interesse, pois houve um desafio com um “amigo de lides”, que também tinha um prato igual e não sabia qual era o motivo.

Reportamo-nos ao motivo 170, não muito frequente, aparecendo somente e de vez em quando, algum prato,


Possui marca estampada Gilman & Cta. Que corresponde ao período 1921-1970.


Ou então soberbas travessas, sempre na cor azulão,

com pormenores encantadores:



e as respectivas marcas:


Aqui fica mais um motivo identificado e referenciado.

EXPOSIÇAO COMEMORATIVA DO BI-CENTENARIO DA MANUFACTURA NACIONAL DE SÉVRES (1738-1938) – LISBOA 1939: 75 ANOS


Fazem agora 75 anos, que ocorreu a Exposição, em Portugal, das porcelanas de Sèvres, no Museu das Janelas Verdes, em Lisboa, organizada sob o patrocínio dos Governos Francês e Português, da Association de Action Artistique, de França, da Academia de Ciências de Lisboa e da Academia Nacional de Belas Artes.

                                                                         (Imagem da capa do catálogo)

Tratou-se de uma excecional exposição das afamadas porcelanas de Sèvres, que na primeira metade do século XIX alguma influência tiveram nos fabricantes portugueses de porcelanas, mas que não se encontravam com digna representação nos Museus em Portugal.



                                        (Imagem da fachada do Museu Nacional de Cerâmica de Sèvres)

O então Diretor dos Museus Nacionais de Arte Antiga, João Couto, dizia: “Não era, por consequência, de perder a oportunidade, agora proporcionada ao nosso público, de poder tomar melhor contacto, de admirar e de estudar as belas peças que são justo orgulho de França”.

O catálogo, por épocas, por tipo de porcelanas e por tipo de peças características e de referência, as descriminava de forma minuciosa. Eram as porcelanas tenras e as porcelanas duras, eram as esculturas esmaltadas e não esmaltadas.



                               (Imagens de porcelanas e peças escultoricas apresentadas na exposição)

 
Eram as peças pertencentes à Manufatura Nacional de Sèvres e as Peças pertencentes ao Estado Português.
 
                                                    (imagem de porcelana de Sèvres exibida no catálogo)

A marca adotada pela fábrica de Vincennes, era composta por dois LL´ entrelaçados, encimados ou não pela coroa real. Sèvres continuou a usar a mesma marca mas indicava conjuntamente o ano de fabrico, por uma letra, correspondendo a letra A, ao ano de 1756. A partir de 111778, as letras começaram a ser dobradas (AA, para 1778).

Na Primeira Republica adaptaram o monograma R.F. e a data era indicada pelo milésimo do ano.



                                                   (marcas da Manutactura de Sèvres)

As porcelanas de Sèvres são produzidas usando métodos tradicionais, possuindo um superior prestígio, quer em França, quer pelo Mundo, dada a beleza das suas peças decorativas e ornamentais, com o recurso a alegorias mitológicas.









                           Algumas imagens representativas das peças decorativas e das louças de Sèvres)

Tudo isto a propósito e para relembrar a escassez de exposições de cerâmica, faianças e porcelanas efetuadas em Portugal, para que se tenha conhecimento, se aprecie e estude o que foi efetuado e produzido nesta área e em Portugal, já que cada vez mais há menos fábricas e mais se utilizam outros produtos e de outras origens, que não nacionais.

Exposições de cerâmicas, faianças e porcelanas nacionais, com realização de catálogos, com imagens de todas as peças, permite que seja efetuado um registo do que melhor e mais tradicional se efetuou em Portugal, já que a maioria das fabricas tem vindo a encerrar e não tem sido realizadas recolhas das peças que as mesmas fabricaram para virem a serem expostas em Museus.

Essas peças continuam a ser guardadas, estimadas e acarinhadas por particulares, não sendo do conhecimento geral, perdendo-se uma importante divulgação pública do que se fabricou e produziu em Portugal a nível da Cerâmica, das Faianças e das Porcelanas.

domingo, 18 de maio de 2014

Faiança da Estatuária Artistica de Coimbra - Taça rasa com duas asas




FÁBRICA ESTATUÁRIA ARTÍSTICA DE COIMBRA

1.INTRODUÇÃO

Uma interessante peça de cerâmica da Estatuária de Coimbra, uma taça rasa com duas asas, encontrada numa feira de velharias do centro do país, despertou-nos o óbvio interesse e depois de muita negociação conseguimos, em conjunto com outras peças de menor valor, adquirir a mesma.






A mesma foi pois o mote de partida para tentar descobrir o que foi esta fábrica; mais uma da região de Coimbra.

2. FUNDAÇÃO DA FÁBRICA. ANTECEDENTES:

A data da fundação da Fábrica Estatuária Artística de Coimbra (EAC) é apontada (1) como tenha ocorrido em 1943, a qual se localizava na Rua do Arnado, n.º 147 e possuía um armazém na Rua Dr. Rosa Falcão n.º 28, ambos em Coimbra.

Segundo o que se encontra descrito (1), no Diário do Governo, o capital social da mesma era de 80.000$00 escudos e os seus sócios com respectiva quota eram:

1- José Augusto Frutuoso (Gaspar de Matos): 60.000$00;
2- Carlos Frutuoso (Gaspar de Matos): 12.000$00;
3- Artur dos Santos: 8.000$00.

Mas anterior à sua fundação, consta que José Augusto Frutuoso já tinha fundado uma fábrica de faianças, em 1926 (?), pese embora ainda não tive o nome de Estatuária Artística de Coimbra, e as peças aí fabricadas fossem marcadas com o carimbo “COIMBRA” - “FRUTUOSO”.

Cita-se algures que algum tempo após a fundação da EAC, a fábrica foi para a localidade das Lajes (à entrada de Coimbra) e mais tarde para a Pedrulha, quando passa a chamar-se ESTACO.

Por outro lado, refere-se (2) que em 1946 a EAC alugou uma antiga olaria, inicialmente mandada construir pelo Marquês de Pombal, onde inicia a produção de louça artística, na chamada “Fábrica das Lajes”.

Sabe-se (1) que em 1947 a Estatuária participou na constituição da Cesol, Cerâmica de Souselas, detendo 40% do seu capital social, o qual foi distribuído da seguinte forma:

1- António Bernardo Gonçalves de Carvalho: 500.000$00;
2- Estatuária: 400.000$00;
3- Luís António Duarte Prazeres Pais: 35.000$00;
4- José de Campos: 35.000$00;
5- Francisco da Silva: 30.000$00;

No início o escritório e o estabelecimento da Cesol ficavam contíguos às instalações da Estatuária, na Rua Dr. Rosa Falcão, n.º 30, dado que a orientação técnica estava a cargo de José Augusto Frutuoso e assim este está sempre presente nas duas.

Saliente-se, como surpresa, o facto do capital investido na Cesol, pela Estatuária representar cinco vezes mais que o seu capital social inicial. Tal situação poderá indiciar a prosperidade e o volume de negócios da Estatuária no curto prazo de apenas quatro anos.

No ano seguinte, em 1948, a Estatuária elevou o seu capital social para 400.000$00 escudos, tendo ficado distribuído da seguinte forma:

1- José Augusto Frutuoso (Gaspar de Matos): 225.000$00;
2- António Bernardo Gonçalves de Carvalho: 100.000$00;
3 Carlos Frutuoso (Gaspar de Matos): 45.000$00;
4 Artur dos Santos: 30.000$00.

A Cerâmicas Estaco - Estatuária Artística de Coimbra, S.A., em Pedrulha, à entrada de Coimbra, em 1980, tinha este aspecto aéreo (3):


E ocupava a área identificada a vermelho conforme documento de venda da sua falência (4):


Tendo um percurso de declínio semelhante a tantas outras fábricas portuguesas, no último quartel do século XX, a então ESTACO veio a ser declarada falida em Outubro de 2001, lançando para o desemprego, ainda, cerca de 200 trabalhadores.

A Estaco chegou a empregar cerca de mil trabalhadores e a deter uma unidade de produção em Moçambique.

A fábrica produzia para exportação e para o mercado nacional três produtos – azulejo, sanitário (louças sanitárias) e pavimento (ladrilhos) – o que lhe conferia uma posição de destaque a nível sectorial, nacional e, mesmo, internacional.

No final de um processo que durou cerca de seis anos, a 24 de outubro de 2001, o 2.º Juízo Cível da Comarca de Coimbra sentenciava pela falência das Cerâmicas Estaco (5).


Em 2010, o aspecto do que restava da fábrica era desolador (4), tal como as imagens seguintes documentam:


Perspectiva lateral das imponentes 3 chaminés da Estaco


Uma outra perspectiva do Complexo, com a Triunfo Rações a espreitar ao fundo

Mais uma perspectiva das Chaminés (pavilhão de acabamentos e refeitório ao fundo)








Tristemente abandonado


Perspectiva do Edifício mais alto da Estaco


3. FABRICO DA ESTATUÁRIA ARTÍSTICA DE COIMBRA:

O fabrico da Estatuária Artística de Coimbra desenvolvia-se essencialmente a dois níveis: peças escultóricas e faianças.


3.1. FAIANÇAS DA ESTATUÁRIA:

As faianças desta fábrica eram decoradas com motivos florais, a azul, ou em policromia, pintados à mão sob o vidrado.

Algumas dessas peças apresentam a designação ”FRUTUOSO” entre parêntesis, imediatamente após a designação de “ESTATUÁRIA”, o que indicia que se trata de peças anteriores a 1943, ou seja antes da fundação da fábrica da Estatuária.
Eis uma dessas peças, um prato para aperitivos, policromo, anunciadas no OLX (2014), para comercialização:

 
 









  

   


Prato para aperitivos policromo                                                                                         A respectiva marca         

Mas existe uma variante, de peças de 1945, em que a marca é E.C. FRUTUOSO, como este soberbo prato a ser anunciado no OLX (2014):













Prato                                                                                                                                   Marca do prato 

E uma jarra:

              


Jarra Policromia n.º 21                                                              A respectiva marca: Frutuoso

Após 1943, as marcas eram semelhantes a esta:



Está marcada na base de uma jarra exibida nas Memórias e Arquivos da Fábrica de Louça de Sacavém e que aqui reproduzimos (2).


A nossa peça de faiança, também possui marca semelhante, que a seguir reproduzimos:


Tal como a seguinte bomboneira:


 


Bomboneira policromia, com o n.º 498                           Marca da Bomboneira
Crê-se que se tratam de peças fabricadas entre 1943 e 1947.

Assim como esta:


                  










 



Jarra com duas asas evocativa a Coimbra                                                                 Marca respectiva

Uma interessante peça, uma jarra, com a descrição “Recordação de Vidago”, igualmente a ser comercializada no OLX (2014):





















                      

              Jarra “Recordação de Vidago”                                  Marca (não muito nítida) e o n.º de peça 2272:

Que se crê corresponder ao período de 1947-1960


De período mais recente, provavelmente de 1960-1980, tem-se este tipo de faiança














         
Prato a ser comercializado no OLX (2014)                                    Respectiva  marca

Provavelmente do mesmo período, esta interessante chávena com pires, ricamente decorada com dourados, igualmente a ser comercializada no OLX(2014):






Chávena com pires, com o n. 934,                                                                                              Respectiva  marca

Tal como este prato:



 












Prato, com o n. 2186,                                                                                                               Respectiva  marca


3.2. PEÇAS ESCULTÓRICAS DA ESTATUÁRIA:

As peças escultóricas da Estatuária eram efectuadas, entre outros materiais, em terracota pintada, como o que a seguir se reproduz (2):




                   














Peça escultória                                                                                                                  Respectiva marca

Outra peça escultória em terracota pintada que reproduzimos (2), para identificar o tipo de peças que a Estatuária efectuava:






















Peça escultória                                                                                                   Respectiva marca

Peça escultória exibida (2), sendo do antiquário Arca d’Arte (Mercado Sta Clara – Feira da Ladra) e que evidencia mais uma marca diferente das habituais:



 












As peças escultórias são vastas, aqui se deixam algumas, identificadas em sites de comercialização (OLX), ditas da Estatuária de Coimbra (?):



Imagem da República, dourada










Menina com duas cestas e sombrinha                                                             A marca na base desta peça escultória

Mais peças escultórias:


Boneca da Estatuária com o n.º 432



                                                          A marca na base desta peça escultória

Esta peça, possui um carimbo ou marca que cremos corresponder ao períodos de 1943 – 1947;


   




Caixa Peru da Estatuária, n.º 187                             A marca na base desta peça escultória











Coelho, cartas, dados e cartola de mago, nº 163 (?)                                    A marca na base desta peça escultória





                  














 Menino da Oração, peça nº 42 (?)                                            As marcas na base desta peça escultória









Peça escultória nº 2346                                                                                    A marca  na base desta peça escultória


3.3 OUTRAS FAIANÇAS DA ESTATUÁRIA DE COIMBRA (?)

Outras peças que têm sido colocadas à venda em sites, como o OLX, vêm igualmente referenciadas com sendo da Estatuária de Coimbra, possuem identificações diferentes da sistematização que tentamos fazer.


Senão vejamos, esta por exemplo, um bule e uma leiteira:











Bule e leiteira                                                                                                                       Marca não muito habitual

MARCAS:

Tentando fazer uma inventariação cronológica das várias marcas das faianças e peças escultóricas da Estatuária Artística de Coimbra, sugerimos a seguinte e provável organização:


1º Período (1926-1943):








2º Período (1943-1947):









Quanto a faianças:

     



Quanto a peças escultórias:


3º Período (1948-1960 (?)):



4º Período (1960 (?)-1980):







5º Período (1980-2001):

???


NOTA FINAL:

Certezas poucas, dúvidas muitas.... quem sabe, poderá ajudar e contribuir para corrigir, melhorar e completar esta mensagem ? 

Agradecemos, estamos a engrandecer Portugal, divulgando o seu passado e as suas Coisas !
NOTAS BIBLIOGRAFICAS:

(2)- http://modernaumaoutranemtanto.blogspot.pt/2011/11/grupo-escultorico-da-hutschenreuther.html


(5)-http://www.asbeiras.pt/2013/03/estaco-apesar-de-tudo/

(6)-Vários sites de venda de peças de faiança: OLX, CUSTO JUSTO, COISAS,