sábado, 14 de junho de 2014

UMA INVULGAR PEÇA DE CANTÃO POPULAR


UMA INVULGAR PEÇA DE CANTÃO POPULAR

 
O motivo Cantão Popular continua sempre a ser interessante, cativante e cada vez que surge uma peça nova, diferente e inusual, mais apaixonante se torna e constitui mais uma razão de pesquisa, comparação, estudo e …. de mais dúvidas.

É irresistível, apaixonante… merece a nossa dedicação e empenho!

Hoje vamos reportar-nos a mais três peças, uma delas, a ultima que apresentamos, que constitui o motivo deste “post”.


1ª. Peça:


 
Prato de sobremesa em faiança, com o motivo Cantão Popular, vulgarmente dita de fabrico de Miragaia, com uma decoração livre ao gosto do pintor, com tons de azul muito escuro, em que a árvore estilizada é uma conífera e em que a cercadura na aba entre os filetes da sua bordadura e os do seu covo, possui pelo exterior a grinalda ondulada e pelo interior o espinhado. Diâmetro 17,3 cm.



É perfeitamente notório no fundo do prato e no seu verso os três pontos dos apoios das trempes utilizadas para os empilhar na cozedura.
 

Não possui qualquer marca e o seu verso, aparenta um vidrado semelhante à louça malegueira.
 

Presumimos tratar-se de um fabrico de Aveiro, de meados ou finais do século XIX,  pois o fabrico do Norte tem a grinalda ondulada da bordadura pelo interior e o espinhado pelo exterior, se fosse de Coimbra, o azul da pintura seria mais claro e mais “desmaiado”.


  2.ª Peça:

 
Prato de sopa em faiança, com decoração motivo Cantão Popular, com marca pintada e manuscrita “LUSITANIA”, com uma decoração mais “industrial” e menos ao livre gosto do pintor. Possui no verso uma gravação na massa – um conjunto de dois números “52” e “149”. Diâmetro 25,0 cm.
 
 

Possui vários tons de azul na decoração, em que os elementos alegóricos ao motivo, desenhados no fundo do prato estão a azul-escuro, tal como o filete largo da sua bordadura. A árvore estilizada é uma árvore de fruto. Quer no limite do fundo quer a meio da aba, possui faixas rodadas esponjadas a azul claro e sobre as mesmas decorações a azul mais escuro.
 
 

Crê-se ser fabrico, provavelmente da década de 30 do século XX, e por conseguinte da fábrica Lusitânia, desconhecendo se da fábrica de Lisboa, se da de Coimbra.


 
3.ª Peça:
 

Invulgar peça em faiança com motivo de Cantão Popular, chamemos-lhe de taça quadrada, decorada com uma variante não habitual do motivo. Possui pintura manual, muito ao gosto e estilo do seu pintor.
 

Possui como decoração central um pequeno palácio oriental e não tem qualquer árvore estilizada. Com decoração “sui generis” na aba exterior.
 

Não possui qualquer marca e as suas dimensões são: 15,3 x 15,3 com a altura de 4,8 cm.
 

Quer no fundo da taça, quer no seu verso apresenta os três pontos dos apoios das trempes utilizadas para as empilhar na cozedura e o seu verso, aparenta um vidrado semelhante à louça malegueira.
 

Aparenta ser fabrico do final do século XIX, não configurando ser Miragaia (fabrico do Norte), podendo, eventualmente, ser fabrico de Coimbra?
 

Mas para ser Coimbra, parece-nos que as cores aplicadas possuem tons fortes de mais para o habitual e o desenho e decoração aplicado nos cantos não é habitual nem característico de Coimbra.
 

Poderá eventualmente ser fabrico de Aveiro? Ou mesmo de Alcobaça? De Santo António do Vale da Piedade não cremos. Aceitam-se sugestões e indicações de quem nos possa ajudar.

 
Sem dúvida uma bela peça, pela sua particularidade, ingenuidade e criatividade da decoração e pela sua raridade!

terça-feira, 10 de junho de 2014

PRATO DECORATIVO DA "RAUL DA BERNARDA"


PRATO DECORATIVO DA RAUL DA BERNARDA


A Faiança de “Raul da Bernarda” foi, como sabemos, provavelmente a mais afamada faiança artística de Alcobaça e sem dúvida a sua mais antiga fábrica, e com maior longevidade que infelizmente também já encerrou.


Tudo isto a propósito de um pratodecorativo, de bordadura gomada,  com a cor de fundo a azul claro e decoração a azul-escuro, amarelo, vermelho, verde e violeta, encontrado numa tenda, sobre um pano amarelecido, há dias numa feira de velharias.

 
 
Cercadura de arranjos esquematizados, com azuis carregados e bem cozidos, que dão um reflexo notório à peça, enaltecendo a sua imagem.
 
 
 
 
A composição floral do fundo do prato tem uma forma e expressão mais simples de tratamento, com cores menos fortes, mas mantendo os habituais tons.

Em suma, prato decorativo de interessante recorte de bordadura, com decoração policrómica na aba e uma simples flor no covo, mantendo a policromia habitual.

 


No verso do prato a marca e assinatura (sigla): RB – ALCOBAÇA – A.J.

  


A marca é a correspondente ao período de Raul Ferreira da Bernarda (a partir de 1933) e até final da década de 40.
 
 

A sigla do pintor, “A.J.” corresponde à de um dos melhores pintores que passaram pela Fábrica – António José Saraiva Mendes

 


Sabe-se que este pintor, conjuntamente com António Rosa, José Serafim, Luís Salvador, José Salvador e José Luís Gonçalves constituíram o núcleo responsável pela qualidade estética e inegável afirmação da faiança de “Raul da Bernarda” nos anos 30 e 40, criando um estilo e uma imagem que perdura.

  
 
 
As faianças de “Raul da Bernarda” foram evoluindo no tempo em função das modas, estilos e gostos, mas a época de 30/40 ficou marcada para sempre, com a particularidade, beleza, desenho e pintura das peças decorativas então produzidas.
 
Peça com sigla do pintor António Rosa
 
Pratos decorativos, mais "recentes" das décadas de 50 e 60:
 
Peça com sigla do pintor José da Costa
 
 
 Peça com sigla do pintor João José Oliveira
 
Infelizmente em Maio de 2008, a empresa fechou as portas e iniciou o processo de insolvência, vindo a ser declarada insolvente em Maio de 2011 tendo o BES – Banco Espirito Santo ficado como proprietário do imóvel onde funcionava a Fábrica. 
 
 

Resta agora, conseguir obter, apreciar e colecionar peças decorativas da Faiança Artistica de Alcobaça, da mítica fábrica de  "Raul da Bernarda".
 

domingo, 8 de junho de 2014

MOTIVO 170 DA FÁBRICA DE LOUÇA DE SACAVÉM


Ciclicamente regresso à louça de Sacavém e lá vou descobrindo um novo motivo ou uma nova peça, que me fascina e me encanta, com a pesquisa, com a análise e com as informações e conclusões que obtenho.

Fala-se em Sacavém e logo vem à memória o motivo Estátua ou Cavalinho, mas os motivos são às centenas, uns mais conhecidos, outros menos, quer com nomes, quer simplesmente com numeração.

Dos motivos só com numeração, houve um, não muito vulgar, que me suscitou especial interesse, pois houve um desafio com um “amigo de lides”, que também tinha um prato igual e não sabia qual era o motivo.

Reportamo-nos ao motivo 170, não muito frequente, aparecendo somente e de vez em quando, algum prato,


Possui marca estampada Gilman & Cta. Que corresponde ao período 1921-1970.


Ou então soberbas travessas, sempre na cor azulão,

com pormenores encantadores:



e as respectivas marcas:


Aqui fica mais um motivo identificado e referenciado.

EXPOSIÇAO COMEMORATIVA DO BI-CENTENARIO DA MANUFACTURA NACIONAL DE SÉVRES (1738-1938) – LISBOA 1939: 75 ANOS


Fazem agora 75 anos, que ocorreu a Exposição, em Portugal, das porcelanas de Sèvres, no Museu das Janelas Verdes, em Lisboa, organizada sob o patrocínio dos Governos Francês e Português, da Association de Action Artistique, de França, da Academia de Ciências de Lisboa e da Academia Nacional de Belas Artes.

                                                                         (Imagem da capa do catálogo)

Tratou-se de uma excecional exposição das afamadas porcelanas de Sèvres, que na primeira metade do século XIX alguma influência tiveram nos fabricantes portugueses de porcelanas, mas que não se encontravam com digna representação nos Museus em Portugal.



                                        (Imagem da fachada do Museu Nacional de Cerâmica de Sèvres)

O então Diretor dos Museus Nacionais de Arte Antiga, João Couto, dizia: “Não era, por consequência, de perder a oportunidade, agora proporcionada ao nosso público, de poder tomar melhor contacto, de admirar e de estudar as belas peças que são justo orgulho de França”.

O catálogo, por épocas, por tipo de porcelanas e por tipo de peças características e de referência, as descriminava de forma minuciosa. Eram as porcelanas tenras e as porcelanas duras, eram as esculturas esmaltadas e não esmaltadas.



                               (Imagens de porcelanas e peças escultoricas apresentadas na exposição)

 
Eram as peças pertencentes à Manufatura Nacional de Sèvres e as Peças pertencentes ao Estado Português.
 
                                                    (imagem de porcelana de Sèvres exibida no catálogo)

A marca adotada pela fábrica de Vincennes, era composta por dois LL´ entrelaçados, encimados ou não pela coroa real. Sèvres continuou a usar a mesma marca mas indicava conjuntamente o ano de fabrico, por uma letra, correspondendo a letra A, ao ano de 1756. A partir de 111778, as letras começaram a ser dobradas (AA, para 1778).

Na Primeira Republica adaptaram o monograma R.F. e a data era indicada pelo milésimo do ano.



                                                   (marcas da Manutactura de Sèvres)

As porcelanas de Sèvres são produzidas usando métodos tradicionais, possuindo um superior prestígio, quer em França, quer pelo Mundo, dada a beleza das suas peças decorativas e ornamentais, com o recurso a alegorias mitológicas.









                           Algumas imagens representativas das peças decorativas e das louças de Sèvres)

Tudo isto a propósito e para relembrar a escassez de exposições de cerâmica, faianças e porcelanas efetuadas em Portugal, para que se tenha conhecimento, se aprecie e estude o que foi efetuado e produzido nesta área e em Portugal, já que cada vez mais há menos fábricas e mais se utilizam outros produtos e de outras origens, que não nacionais.

Exposições de cerâmicas, faianças e porcelanas nacionais, com realização de catálogos, com imagens de todas as peças, permite que seja efetuado um registo do que melhor e mais tradicional se efetuou em Portugal, já que a maioria das fabricas tem vindo a encerrar e não tem sido realizadas recolhas das peças que as mesmas fabricaram para virem a serem expostas em Museus.

Essas peças continuam a ser guardadas, estimadas e acarinhadas por particulares, não sendo do conhecimento geral, perdendo-se uma importante divulgação pública do que se fabricou e produziu em Portugal a nível da Cerâmica, das Faianças e das Porcelanas.