domingo, 21 de setembro de 2014

PRATO DE SACAVEM, MOTIVO METZ, PERIODO DE GILMAN, LDA.


Entre os imensos motivos fabricados pela Fábrica de Loiças de Sacavém, destacamos, hoje, o motivo “METZ”, um motivo relativamente vulgar.

Tudo a propósito de um prato, motivo “METZ”, com a estampagem na cor verde, do período Gilman, Lda., e por conseguinte relativamente raro, no qual são nítidos os três pontos na aba, de assentamento da trempe de empilhamento de pratos para cozedura, bem com os três conjuntos de três pontos no tardoz, por igual motivo.






Este, como outros motivos, “Estátua” ou “Cavalinho”, “Chorão”, e eventualmente outros, como “Beira”, “Reino”, “Togo”, “Congo”, “Júpiter”, etc. foram fabricados durante vários períodos, identificados, como é óbvio, pelo carimbo da respetiva época (ou variante de um carimbo).

No entanto, um dos períodos, que menos se encontra é o Gilman, Lda., sendo o mais habitual, o Gilman & Cta., como sabe.
Considera-se que a marca Gilman & Cta., se manteve “inalterada”, desde o princípio do século XX (1905-1910) até ao início da década e 70 (1970), o que por vezes dificulta a determinação da data provável de fabrico, simplesmente pela consulta da marca.

Na verdade esta marca e referente ao período citado, teve, pelo menos quatro variantes, que correspondem, certamente, a épocas diferentes de fabrico, mas que não conseguimos estabelecer perfeita correspondência com esses períodos.

As variações da fivela do cinto, o número de furos à direita e à esquerda da fivela, bem como o remate do cinto criam essas variantes. 

G&Cta. 1
G&Cta. 2
Assim, a marca G&Cta., dita n.º1, possui uma fivela mais assumida, três furos no cinto à direita da fivela e dois à esquerda; a dita n.º 2, possui uma fivela menos assumida, mais fina, com três furos no cinto à direita da fivela e somente um à esquerda, e com um remate do cinto menos forte que a dita n.º 1.


G&Cta. 3
Quanto à marca, dita n.º 3, a fivela é mais simples, o número de furos no cinto à direita da fivela não são nítidos e à esquerda são três.

G&Cta. 4

G&Cta. 4-a
Quanto à marca dita n.º 4, a fivela passa a ser arredondada, o remate do cinto é diferente, o número de furos no cinto à esquerda da fivela são de dois e à direita não se vislumbram furos, mas um sombreado listado.

Segundo a fonte (1) a marca G&Cta., 1 e 2 deverão ser provavelmente correspondentes a fabricos entre 1900 e 1930, podendo ocorrer, ocasionalmente, até 1950, em peças estampadas.

Igualmente a marca G&Cta., 3 e 4 deverão corresponder, genericamente ao período compreendido entre 1930 e 1970.


A marca correspondente ao período Gilman, Lda., caracteriza-se pelo habitual cinto, com três furos à direita da fivela, um furo ao meio, entre a fivela e a ponta do cinto dobrada sobre o cinto e um outro à esquerda da fivela, tendo nesse cinto a indicação GILMAN Lda. - a subtiliza e particularidade deste carimbo torna a peça especial e de existência escassa.

Habitualmente, a complementar o carimbo citado, havia uma marca ou um código alfanumérico, estampado ou incisivo na pasta, mas a presente peça não possui nenhuma.

Como se sabe, a marca Gilman Lda. é considerada como aplicada apenas por volta de 1918, embora continue a haver dúvidas ainda, por falta de documentação que o comprove.

Há quem afirme (5) que será fabrico provavelmente de 1905 – subsiste a dúvida.

No entanto através de fatura à época, da Fábrica de Louça de Sacavém, com indicação de GILMAN & COMMANDITA, datada de 30 de junho de 1918, sobre as estampilhas do imposto de selo de recibo, datadas de 11 de julho de 1918, está aposto o carimbo de GILMAN, LIMITADA, o que comprova que a empresa em 1918 era pois, Gilman, Lda.


Por outro lado, há marcas iguais a esta (variantes) mas em que à esquerda da fivela do cinto há dois furos, situação que não conseguimos decifrar, em termos de datação de fabrico, e que é mais um mistério da Loiça de Sacavém.
Um próprio folheto antigo da Fábrica de Loiça de Sacavém, de 1981, omite este carimbo ou marca particular: Gilman Lda., como a seguir se pode confirmar perante a apresentação do mesmo.


Especificamente em relação ao motivo “METZ”, o mesmo foi fabricado durante os vários períodos de fabrico da Fábrica de Loiça de Sacavém como já se disse:

- Período de 1863 -1870 (Fábrica de Sacavém):



- Periodo de 1885 – 1894 (Real Fábrica de Sacavém):



Em suma, um prato da Fábrica de Louça de Sacavém, com um motivo vulgar, mas com um carimbo pouco usual que o torna raro.

FONTES:



3) – “Fábrica de Louça de Sacavém – Contribuição para o estudo da indústria cerâmica em Portugal 1856-1974” de Ana Paula Assunção, Coleção História da Arte – Edições INAPA – 1997;

4) – “150 Anos – 150 Peças – Fábrica de Loiça de Sacavém” – Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Março de 2006;

5) – “Dicionário de marcas de Faiança” de Filomena Simas e Sónia Isidro – Edição Estar Editora - Lisboa – 1996;

6) - “Porta aberta às memórias” – 2ª edição, Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Setembro de 2009;

7) – “Porta aberta às memórias” – Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Setembro de 2008;







14) “Primeiras Peças da Produção da Fábrica de Louça de Sacavém – o papel do colecionador” - Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Setembro de 2003;

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

TRAVESSA OITAVADA DA FABRICA DE LOUÇA DE SACAVÉM


O motivo “Estátua” ou “Cavalinho” foi fabricado em Portugal, a larga escala, com várias estampagens, por várias fábricas de faiança.

Tal motivo corresponde ao inglês “Grecian Statue”, que foi fabricado, a partir de 1840, essencialmente em 2 fábricas, a “Wood & Brownfield” e a “C & J Shaw”, mas também na  “Browfields (Guild) Pottery Society Ltd”, na “John Thomas Hudden”, na “Thomas & John Carey – John Carey & Sons”.

Em Portugal, em especial a Fábrica de Louça de Sacavém, a Fábrica de Massarelos, a Corticeira do Porto e a Fábrica das Devesas do Porto, produziram imensa faiança; com este motivo, desde pratos a travessas, passando pelos serviços de chá e café a outras mais peças utilitárias.

Tudo isto a propósito de mais uma peça que vamos apresentar: uma grande travessa oitavada ou octogonal, em faiança da Fábrica de Louça de Sacavém, motivo “estátua” ou “cavalinho”, com estampagem, cor verde.


Estampa com cavaleiro com chapéu de penas e adornos diferentes do habitual da estampa 1, da FLS, com castelos diferentes dos habituais, um rio, com um barco à vela.


Com exuberantes cercaduras vegetalistas e adornos florais, com castelos ou palácios.

 
 

Trata-se de uma peça com intensa decoração estampada, na aba, com cercaduras vegetalistas inserindo-se nas mesmas castelos e palácios.
 


 
Os adornos florais são intensos, interessantes e bastante trabalhados, sem dúvida uma das melhores estampagens que foram aplicadas em todo o período de fabrico deste motivo.
 



 
Os conjuntos edificados, apalaçados e os seus enquadramentos são cuidados e interessantes.
 


Como referência habitual não podia faltar a presença da água – lago ou rio -e o respetivo barco e no horizonte, os revelos orográficos em forma de picos.
 

Por outro lado também se identifica com facilidade os remates da estampagem, em que se denotam as não concordâncias entre as suas extremidades, bem como os pontos não vidrados das trempes utilizadas aquando da cozedura após a estampagem.


 
 Possui no verso uma marca estampada na paste, na cor verde, usada no período que medeia entre 1870 e 1880 e também uma marca gravada na pasta, com a ancora e parte da corda entrelaçada e a indicação SACAVÉM, para além de possuir ainda uma estampagem de uma imagem figurativa constituída por dois círculos entrelaçados, na mesma cor verde, também habitual na louça de Sacavém dos períodos em causa.
 

 
Mas dado que as Faianças com o motivo "Cavalinho" ou "Estatua" são sempre uma revelação a nível da estampagem, vamos apresentar um pequeno conjunto delas, de modo a se identificar tais variantes, muitas delas em comercialização na internet.

 
Esta com formato oitavado, ou octogonal é diferente da “Estatua 1” e da “Estatua 2” de Sacavém, já que possui um cavaleiro com chapéu de penas e adornos diferentes dos habituais, as colunas clássicas à direita do cavaleiro também são diferentes e em maior quantidade.
 
Por outro lado, os palácios também são diferentes dos habituais, um deles numa pequena ilha, terminando a maioria deles com cúpulas, a fábrica vê-se à mesma ao fundo da paisagem, mas antes há um rio, onde circula um barco à vela.
 
 
A cercadura da travessa é simples, só com estampagem de grinaldas e sem qualquer motivo de palácios.
 
No verso possui um marca circular gravada na massa nada nítida, pese embora se assemelhe a uma marca de Sacavém, será?
 
Mas as demais louças com este motivo possuem estampagens diferentes, senão vejamos:

Travessa da F. L. de Sacavém, do período da Real Fábrica de Sacavém.
Particularidade: a decoração da aba é rica com quatro motivos de palacetes.
 
(Imagens do blog: JP Antiguidades e Velharias)
 

Travessa da F. L. de Sacavém, do período da Real Fábrica de Sacavém.
Particularidade: a figura equestre aparente ser uma amazona com o cabelo apanhado a apontar para a frente e a olhar para trás – paisagem com uma ponte e muitos palácios, muito diferente do habitual
(Imagens do site: olx Mafamude.olx.pt)
 
Travessa oval com o motivo cavalinho ou estátua, desconhecendo-se o fabrico
Particularidade: a figura equestre aparente ser uma figura real – a paisagem é semelhante à da travessa que apresentamos
(Imagens do site: olx maia-maia.olx.pt)
 
Travessa octogonal da F.L.S. do período da Real Fábrica - 1885
Particularidade: a figura equestre está do lado esquerdo – a paisagem é também diferente do habitual
(Imagens do site: Travessas – Mercado Antigo)
 
Travessa octogonal da F.L.S. do período da Real Fábrica - 1885
Particularidade: a figura equestre aparente ser uma figura real – a paisagem é semelhante à da travessa que apresentamos, esta com aba rica em decoração de palacetes)
(Imagens do site: Travessas – Mercado Antigo)
 
Travessa octogonal da F.L.S. do período da Real Fábrica - 1885
Particularidade: a figura equestre aparente olhar para trás – a paisagem é diferente da corrente, apresentando uma ponte).
(Imagens do site: Travessas – Mercado Antigo)
 
Travessa octogonal da F.L.S. do período da Real Fábrica - 1885
Particularidade: a figura equestre está do lado esquerdo e aparenta estar a olhar para trás – a paisagem é também diferente do habitual
(Imagens do site: Travessas – Mercado Antigo)
 
Travessa octogonal da F.L.S. do período da Real Fábrica - 1885
Particularidade: a figura equestre está do lado esquerdo e aparenta estar a olhar para trás – a paisagem é também diferente do habitual
(Imagens do site: Travessas – Mercado Antigo)
 
Travessa octogonal da F.L.S. do período de 1870
Particularidade: a figura equestre está do lado esquerdo e aparenta estar a olhar para trás – a paisagem é também diferente do habitual
(Imagens do site: JP Antiguidades e Velharias)

 
Travessa da F. L. de Sacavém, provavelmente do período de 1870-1880
(Imagens do blog: Velhariasdoluís)
 
Muitas mais variantes de estampagens em travessas com o motivo “estátua” ou “cavalinho” há, mas a apresentação de mais tornar-se-ia fastidioso.
FONTES:
3) – “Fábrica de Louça de Sacavém – Contribuição para o estudo da indústria cerâmica em Portugal 1856-1974” de Ana Paula Assunção, Coleção História da Arte – Edições INAPA – 1997;
4) – “150 Anos – 150 Peças – Fábrica de Loiça de Sacavém” – Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Março de 2006;
5) – “Porta aberta às memórias” – Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Setembro de 2008;
6) - “Porta aberta às memórias” – 2ª edição, Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Setembro de 2009;
7) – “Dicionário de marcas de Faiança” de Filomena Simas e Sónia Isidro – Edição Estar Editora - Lisboa – 1996;
 

 
 
 

terça-feira, 16 de setembro de 2014

PRATO DA FABRICA CORTICEIRA DO PORTO, MOTIVO CASTELO – PEÇA RARA


Entre os vários motivos de faianças produzidos nos finais do século XIX e início do século XX, um dos mais frequentes foi o motivo Estátua ou Cavalinho, com as suas variantes, quer a nível da estampagem, quer a nível da sua fabricação, já que as várias fábricas não repetiam ou utilizavam estampagens iguais aos motivos das outras.

Contudo, alguns motivos surgiram, raros, não imitados ou copiados, somente numa das fábricas de então: reportamo-nos a um prato da Fábrica da Corticeira do Porto, com o motivoCastelo” (raro), em que a estampagem monocromática é grená (vermelha).

 
Possui carimbo circular laureado, monocromático, na cor grená, correspondendo provavelmente ao 1º período da fábrica.

 
Trata-se de um prato com uma soberba decoração na aba, que se prolonga até ao covo, possuindo este uma composição decorativa que quase absorve o seu espaço, sendo assim mínima a zona sem decoração.

 
A decoração no covo do prato é constituída por um conjunto edificado de nobres edificações, realçando uma torre de três pisos, amuralhada no cume, (torre de castelo?) circundada por outras edificações de menor porte, mas com amplos vãos e bancadas debruçadas sobre áreas de água – lago ou rio.

 
Ao fundo e entre a vegetação lateral que enquadra o conjunto edificado vislumbram-se duas elevações (montanhas - picos).

No rio, presumimos que assim seja, vê-se uma embarcação, com carga, com dois vultos sentados e outro vulto, em pé, à popa, com um remo, de encaminhamento da embarcação.



A decoração da aba, com composição vegetalista repetitiva, com molduras em forma de ferradura, nas quais se exibem decorações com edificações, vegetação de enquadramento, elevações, em forma de picos ao fundo e na parte frontal eventualmente um lago. Como remate na bordadura da aba possui um entrelaçado de dois cordões.



 
Esta decoração possui algumas características que se assemelham ao dito motivo Estátua ou Cavalinho, mas o carimbo identificativo “Castelo”, não deixa dúvidas.

Este motivo, fez-nos recordar a apresentação de um prato da fábrica de Alcântara (5), com motivo desconhecido, mas sugerido como origem no motivo “Roselle” ???, já que o preenchimento da decoração da aba é semelhante, embora com diferenças significativas a nível da decoração vegetalista, contudo a decoração de preenchimento do covo tem algumas semelhanças com a que apresentamos, nos seus aspetos essenciais: edificações (castelo), arvoredo, lago, orografia do horizonte.

(imagem - fonte 5)
 
Por outro lado, a Fábrica de Massarelos, também nos finais do século XIX e início do século XX também fabricou pratos com motivo semelhante, nos seus aspetos essenciais, tendo sido identificado como o motivo “Roselle” (6).

(imagem - fonte 5)
 
Será que poderemos considerar que são do motivo “Castelo”, perante esta constatação?

Crê-se (1) que esta fábrica – Corticeira do Porto - laborou desde os finais do século XIX até meados da década de sessenta do século XX, pelo que se presume que o fabrico desta travessa remonte a finais do século XIX ou início do XX, quando o carimbo era mais cuidado e com maior beleza.

 
A marca neste período era constituída por uma coroa circular, dentro da qual estava indicado “CORTICEIRA” e “PORTO”, no círculo central o monograma “CP” e exteriormente à coroa, ladeando a mesma, dois ramos de louro – uma marca “laureada”; em fases posteriores o carimbo era muito mais simples: só o monograma: um entrelaçado “C-P”.

Em suma, uma peça que consideramos rara, pois até ao presente nunca conseguimos identificar este motivo catalogado, e que perante a sua exibição poderá permitir identificar motivo semelhante produzido noutras fábricas de faiança; à mesma época.

 
FONTES:






6) – Fábrica de Massarellos – Porto, 1763-1936, edição do Museu Nacional Soares dos Reis;