sábado, 18 de outubro de 2014

PRATO DA FÁBRICA DE LOUÇA DE SACAVÉM, MOTIVO 1060

As peças de louça utilitária fabricadas pela Fábrica de Louça de Sacavém são “infindáveis” e transcendem o nosso imaginário e o motivo “Cavalinho” ou “Estátua” que toda a gente conhece…

As peças desconhecidas ou não catalogadas da mais conhecida e com maior longevidade de fabrico, a FLS, são sempre uma grata satisfação quando encontradas e constituem um desafio para a sua identificação, catalogação e divulgação.
Há-as com motivos que não conseguimos identificar por os mesmos não estarem estampados em conjunto com o respectivo carimbo, mas há as que têm o motivo numérico e aí a sua identificação é evidente.
Reportamos-nos ao MOTIVO 1060, desconhecido para nós, até ao momento, e que consideramos uma interessante realização da Fábrica de Louça de Sacavém, com motivos geométricos vários estampados na aba, rematando na bordadura com um filete de contas e de igual modo no limite do covo.
A bordadura da aba é recortada ou levemente lobada. A decoração é monocromática, na cor verde seco.
É perfeitamente notório o desencontro de decoração, quando do remate do acabamento da estampa.
Possui no tardoz do covo a marca estampada correspondente ao período Gilman & Cta.,período de 1921-1970, com a marca do motivo numérico 1060, bem assim como as gravações na pasta de “52 C”, “10’4” e “SACAVÉM”.

Deste modo aqui fica mais um motivo identificado e referenciado.

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

PRATO “CAVALINHO” DE JOSÉ DOS REIS (ALCOBAÇA)


Há já algum tempo que pensávamos efectuar uma postagem sobre o motivo popularmente conhecido por “Cavalinho”, ou seja o “Estátua”, provavelmente o motivo mais divulgado; produzido em larga escala na Fábrica de Louça de Sacavém (a partir de 1863), e também na fábrica de Alcântara, mas também em várias fábricas na zona do Porto, como exemplo, Massarelos, Devesas, Corticeira e Soares dos Reis, e ainda, noutras, menos conhecidas, como Coimbra, Outeiro ou mesmo Alcobaça.

Imagem recolhida da fonte 1

Imagem recolhida da fonte 3



 Imagem recolhida da fonte 3
Tudo isto a propósito de um prato, com o motivo “Cavalinho”, numa interpretação popular, que presumimos ser fabrico de José dos Reis (dos Santos), durante o seu fabrico, entre 1875 até 1897, em Alcobaça, ou seja, depois de ter abandonado a sua actividade de mercador de faianças em Coimbra, não deixando de a sua louça apresentar alguns traços ou reminiscências das faianças de Coimbra.

Prato em apreciação

Prato em apreciação
Há dias, e no seguimento de conversa com colega e apreciador de faianças, esta situação foi reavivada e eis que surgiu então este apontamento.

Como dizíamos, a decoração do motivo deste prato foi aplicada a stencil (com recurso a chapa recortada) e com esponjados, na decoração central, sendo na aba a decoração aplicada igualmente a stencil.

Em suma a estampagem não foi o método escolhido e foi substituída pela estampilha - aplicação a stencil e pelo esponjado.

Este prato apresenta várias variantes decorativas que o diferencia entre os demais, com o mesmo motivo, senão vejamos:

- Possui uma interessante bordadura, com remate em filete grosso e escuro e decoração da aba com esponjados, com motivos vegetalistas, pintados a estampilha, constituindo um ornato floriado, num tom azul acinzentado, que recorda os floriados antes praticados em Coimbra;

Decoração da aba do prato
- Possui reserva central aplicada a stencil, com uma variante “popular” do motivo “Cavalinho”, pese embora com os elementos emblemáticos presentes: a estátua equestre; a coluna, o rio, o barco, os palácios e demais casario, a decoração arbórea de enquadramento, sendo utilizado também o esponjado;

Decoração reserva central - covo
A pintura é monocromática, num tom azul-acinzentado. Prato não marcado, com uma textura (fina), quase porcelana, com um esmaltado leitoso que poderia indiciar fabrico de Coimbra, mas que pelas análises efectuadas e pela bibliografia disponível (4, 5) nos permite concluir ser fabrico de José dos Reis (Alcobaça), do final do século XIX, com um período de fabrico entre 1875 e 1897.


 Imagem recolhida da fonte 5
Imagem recolhida da fonte 5
Um interessante prato, com o motivo “Cavalinho”, numa interpretação livre e popular, com recurso à estampilhagem e ao esponjado: Fabrico de José dos Reis (dos Santos),  em Alcobaça, provavelmente entre 1875-1897 – Século XIX.



Prato em apreciação
FONTES:




4) - “Cerâmica em Alcobaça – 1875 até ao presente: CeRamiCa PLUS” – Galeria de Exposições Temporárias – Mosteiro de Alcobaça; 6 de Abril a 4 de Maio 2011; Município de Alcobaça, 2011.

5) – “Faiança Portuguesa Séculos XVIII-XIX”, Colecção Pereira de Sampaio, Editores ACD, 2008.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

PRATOS DE ALCANTARA, MOTIVO INVICTA, CARIMBO L&C E MARCA CHAMBERS


As faianças da fábrica de Alcântara continuam-nos a surpreender diariamente, conforme se vai descobrindo peças que há muito se encontravam guardadas, armazenadas, esquecidas e que vêm, agora, à luz do dia.

Tal facto permite-nos descobrir novas peças, novos motivos, novas decorações e a reescrever, em parte, o muito que já se disse sobre a fábrica de Alcântara.

Tudo isto por um par de pratos que “descobrimos” recentemente….
 

 
Quando nos deleitamos a apreciar, a desvendar e a catalogar peças de fabrico de Alcântara, não podemos deixar de recorrer à fonte principal (1), do Mercador Veneziano.

Um prato e motivo que sempre nos intrigou foi o denominado motivo “VARINA” (?), em que para além desta a decoração do prato era completada com motivos do Porto.

Nesse blogue a descrição desse prato era a seguinte:
Prato de motivo desconhecido até à data. Espécime decorado em tom monocromado a vermelho, de desenhos apelativos à cidade do Porto.
No topo do prato estão representados dois monumentos simbólicos da cidade, mais à esquerda a Torre dos Clérigos e à direita a Ponte Maria Pia com paisagem cénica para o Rio Douro. Em baixo, a figura de Varina com cesta à cabeça. Referir ainda que ambos os desenhos descritos são enquadrados com composições florais de diversos géneros. Exemplares com o mesmo motivo podem variar, pelo menos, entre a tonalidade apresentada, verde e castanho.

Relativamente ao período de produção da peça analisada, devido a não ter acesso à marca de fabrico, não foi possível precisar uma data concreta da sua produção, no entanto, pelo molde da peça diria pertencerá aos finais do século XIX.”

Pois os pratos que “descobrimos” recentemente, na tonalidade verde, apresentam esse motivo e o mesmo está identificado no respetivo carimbo “INVICTA” – fica pois, a partir de agora identificado e catalogado o motivo.

Mas algo mais deslumbrante:

- o prato de tons mais fortes e de decoração mais nítida, apresenta no tardoz do seu fundo um carimbo monocromático, verde, com as seguintes indicações: L & C, FABRICA D’ ALCANTARA, FAIANÇA FINA e INVICTA – o nome do motivo. Possui igualmente na pasta a marca circular de LOPES & C, ALCANTARA e LISBOA;

 
- o prato de tons mais esbatidos e de decoração menos nítida, mais esbatida, mais imperfeita, em que a varina aparece de menores dimensões e em que os armazéns na margem do Rio Douro, do lado de Gaia, são em maior número e com melhor identificação da sua fenestração, no seu tardoz, possui somente a marca circular na pasta, mas com a seguinte indicação CHAMBERS & C.


Estamos pois perante dois pratos de Alcântara, com o mesmo motivo “INVICTA”, mas de períodos diferentes de fabrico.




O prato com a marca de L & C, poderemos indicar, que provavelmente, o seu fabrico terá sido entre 1889 (ou 1886-?) a 1901, ou seja, do final do Século XIX.



 
O prato com a marca CHAMBERS & C, poderá, eventualmente o seu fabrico ter ocorrido entre 1930 (?) a 1934 (?), será?

Interessantíssimo, dois pratos da mesma fábrica, com o mesmo motivo, mas com apresentações bastante diferentes, separados temporalmente por 30 anos (?), em que o mais antigo apresenta melhor acabamento que o mais recente, sendo que este, no seu verso ainda continua a exibir o triplico “três pontos”, das trempes quando ia cozer o vidrado.

 
 




 
 
FONTES:


2)Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, com Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença – 3ª Edição – 1987





domingo, 5 de outubro de 2014

PRATO EM FAIANÇA DE JOSÉ DOS REIS (ALCOBAÇA)


Há peças em faiança, monocromias, em azul, cor-de-rosa, vinoso ou verde-claro, que são uma incógnita e motivam muitas leituras ou indicações: do Norte (?), de Coimbra (?), de Vilar de Mouros (Caminha) (?), dos Açores (?), de José dos Reis (Alcobaça) (?) – enfim, vários possíveis fabricos!

São peças belas, interessantes na decoração, deslumbrantes nas composições, em especial nos seus casarios – cada artista desenvolvia ao seu gosto pessoal a dimensão e a volumetria do conjunto edificado desenhado.

Neste apontamento de inventário de mais uma peça, apresenta-se um prato covo, monocromado, em cor-de-rosa, com uma decoração vegetalista estampilhada na aba e com uma interessante reserva central com paisagem.

Um conjunto edificado à esquerda, sobre uma pequena colina, constituído por vários edifícios de um, dois e três pisos, com telhados de duas águas e estes com as fugas das chaminés e sobre o telhado mais à direita uma torre com uma cúpula, provavelmente de uma igreja encoberta pelo mesmo.

À direita desenvolve-se um bosque com frondosa e altiva vegetação, entre a qual se vislumbra uma ponte, com dois arcos, pelos quais passa a água que continua, pelo rio fronteiro, onde desliza um enorme e elegante cisne.

A completar esta apresentação bucólica e romântica, algumas nuvens, ao fundo, sobre o casario.

Faiança sem qualquer marca, caracter alfanumérico ou qualquer “sinal” que a pudesse identificar, pelo que se torna difícil a atribuição do seu fabrico.

O tardoz do prato possui um esmalte branco, recordando-nos a louça malegueira, no qual se denotam facilmente as marcas da trempe, quando foi à cozedura.

Pelo tipo de esmalte branco, leitoso, pela decoração a cor-de-rosa, pelo motivo da decoração central, pelo tipo de casario desenhado e pelo seu enquadramento, leva-nos a considerar que seja fabrico de José dos Reis (dos Santos), do período de Alcobaça, pese embora nos tivessem dito que era fabrico do “Norte”.

A comparação com outras peças semelhantes divulgadas na net (em locais de venda e em blogues) permitiu-nos ajudar na decisão e tornar a mesma mais consistente.

Mas ainda nos persiste uma dúvida, quanto a data do fabrico: se será de meados do século XIX, no período em que José dos Reis era mercador em Coimbra, ou de finais desse século, a partir de 1875, quando foi trabalhar para Alcobaça.

Mas pela cor do barro e respectivo vidrado do tardoz, inclinamos-nos para dizer que será de José dos Reis –  Alcobaça.

Da fonte (3) registamos a imagem que a seguir apresentamos e em que as semelhanças da decoração são enormes com a do prato, que inventariamos: casario de vários pisos, a torre com cúpula por trás do ultimo telhado à direita e o enquadramento de gracioso arvoredo.

Igualmente da fonte (3) registámos outro prato, em que as evidências são bastantes: o casario com telhados de duas águas, a cúpula da torre, as árvores de enquadramento, tudo isto no centro do covo, e em especial, a estampilhagem na aba do prato, semelhante à do prato em apreço, confirmando assim a nossa opinião.


Da fonte (6) registamos a imagem de um prato da colecção de Luís Pereira Sampaio, embora em tons de azul, mas em que o casario era semelhante, o que nos ajudou a consubstanciar a nossa opinião, quanto ao fabrico.


Da fonte (2) recolhemos a imagem que a seguir se apresenta, embora com motivo semelhante, mas com diferencias perfeitamente notórias e atribuído o seu fabrico a Manuel Ferreira da Bernarda, continuador no fabrico de peças “semelhantes” às de José dos Reis, após a sua morte em 1898.

Em suma, uma interessante peça de faiança da primeira fábrica de faianças de Alcobaça, localizada junto à Ponte D. Elias, fundada em 1875, por José dos Reis dos Santos, anteriormente com fabrico em Coimbra.

As características das peças produzidas em Alcobaça, neste período (1875-1898) assemelhavam-se às de Coimbra, nomeadamente na estampilhagem das abas com características da produção da ultima metade de Oitocentos, bem assim como na decoração da reserva central, com casario, paisagem de enquadramento, com estampilhas e esponjados, monocromáticos, azul ou cor-de-rosa.

FONTES:





6) - “Cerâmica em Alcobaça – 1875 até ao presente: CeRamiCa PLUS” – Galeria de Exposições Temporárias – Mosteiro de Alcobaça; 6 de Abril a 4 de Maio 2011; Município de Alcobaça, 2011.


7) – “Faiança Portuguesa Séculos XVIII-XIX”, Colecção Pereira de Sampaio, Editores ACD, 2008.

8) – “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença, 3ª Edição, Lisboa, 1987.

9) – “Faiança Portuguesa – Seculos XVIII-XIX”, de Arthur de Sandão, Livraria Civilização, 2º Volume, Barcelos, 1985.

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

PEQUENO PRATO DA OAL – OLARIA DE ALCOBAÇA LIMITADA


Às pequenas peças de faiança, por vezes, não lhe é dada a devida atenção, e são amontoadas no chão, sobre o pano, ou então colocadas a um canto da banca e vendidas a 1,00 Euro.

Da paciência com a pesquisa e sempre no intuito do alcance de alguma de interesse, por vezes surgem, e é uma satisfação, pese embora a aquisição se faça de forma simples e sem evidenciar tal.

Mais uma pequena aquisição dessas: um pequeno prato em faiança, da OAL – Olaria de Alcobaça Limitada, policromático, com decoração rural, interessante.



Uma camponesa de blusa azul, saia acastanhada, e lenço grená sobre o pescoço, sentada de lado sobre a albarda de um burro, que penosamente fazia o seu trajeto, provavelmente, a caminho de casa, vendo-se a paisagem ao fundo, onde são evidentes as silhuetas de dois montes.


Para enaltecer o prato, dois filetes de bordadura, o exterior, mais largo, acastanhado e o interior, menos largo e na cor amarelada.



Atendendo à natureza de pasta utilizada, ao motivo da decoração e ao tipo de pintura realizada, bem como ao vidrado, leva-nos a considerar que será uma peça fabricada na segunda metade dos anos quarenta ou primeiros anos da década de cinquenta, do século passado.




No tardoz do prato o carimbo, monocromático, na cor castanha, com a Indicação de *Olaria Alcobaça *Alcobaça* e no círculo interior, o logotipo OAL.




Trata-se de uma peça utilitária com uma decoração ao gosto nacional, bastante cultivado na época da sua fabricação e que é uma referencia de uma época do fabrico da OAL, na qual recorria a uma decoração evocando a ruralidade do país e utilizando cores do gosto popular.


Fontes:






6) – “Cerâmica em Alcobaça – 1875 até ao presente: CeRamiCa PLUS” – Galeria de Exposições Temporárias – Mosteiro de Alcobaça; 6 de Abril a 4 de Maio 2011; Município de Alcobaça, 2011.