domingo, 9 de novembro de 2014

LEITEIRA DE FAIANÇA DA FÁBRICA D’ ALCÂNTARA (?), MOTIVO “PAIZAGEM”

O baú nacional das velharias e antiguidades vai periodicamente revelando-nos peças de faiança deveras interessantes e não ainda catalogadas.


São peças que nos deslumbram, mas que nos criam incertezas acrescidas, pois com a ausência de marcas ou carimbos, a identificação do seu fabrico, da sua época ou mesma da sua atribuição a uma fábrica são sempre problemáticas.


Tudo isto a propósito de uma pequena leiteira, com o MOTIVO “PAIZAGEM”, na cor sépia, em que as principais características identificadoras do motivo estavam presentes, devidamente enquadradas num caixilho de troncos de árvores e de ramos entrelaçados.


Vejamos pois, o que está presente:

- a cena campestre, bucólica e com uma paisagem rural;

- a casa campestre ou rural, de dois pisos e com a chaminé a fumegar,

- a cabana ou palheiro, em primeiro plano, à esquerda;

- as vedações em paliçada de madeira e cancelas em madeira com travessas cruzadas;

- a presença de uma personagem (agricultor ou caseiro), junto a uma vedação,

- as árvores após a edificação campestre…

A peça em faiança com base creme ou cor de grão, com a estampagem monocromática na cor sépia, e com o motivo em presença “PAIZAGEM” leva-nos logo para o fabrico da “Fábrica d’Alcântara – Louça à Ingleza”, ou mesmo “Fábrica d’Alcântara – Faiança Fina”, mas a peça não possui qualquer marca ou carimbo (verdade se diga, não tem superfície no fundo para tal) e daí as nossas dúvidas quanto à sua atribuição.


(da Fonte 1)


(da Fonte 2)

(da Fonte 3)
(da Fonte 4)
Simplesmente possui uma letra “B.“, a qual não conseguimos identificar de forma simples e fácil e correlacionar ao seu provável fabrico, mas noutras peças da Fábrica de Alcântara (5) devidamente carimbadas e com gravação na massa, possuem igualmente a letra “B”, o que poderá constituir uma “aproximação” para a sua identificação.


(Fundo e Marca e Sinal Figurativos da Le

(da Fonte 5)

A, assim ser, crê-se tratar de uma peça da segunda metade do século XIX, provavelmente do 1º período de 1885-1886 ou do 2º período entre 1886 e 1889 (?), mas sem certezas.

E por conseguinte, uma peça rara da fábrica em causa, de pequenas dimensões: altura máxima, na asa:14,5 cm; diâmetro, na base: 6,0 cm e no bojo: 8,0 cm.


Conhece-se (6) um exemplar de um jarro, desta fábrica e do mesmo motivo, decorado a cor monocromado a negro.

Com tudo isto, e perante a pouca informação sobre esta fábrica ou informação não sistematizada (6), mais uma vez se vê a necessidade urgente de criar uma obra bibliográfica dedicada à Fábrica de Louça de Alcântara, ou pelo menos a uma catalogação sistematizada da mesma.

Soubemos e já lemos algures que o Sr. Jaime Regalado se deu ao empenho e árdua tarefa de efectuar um trabalho sobre a Fábrica de Louça de Alcântara. Fazemos votos que a conclua com a brevidade possível e que a publique, pois será algo, certamente, muito importante, para a identificação e caracterização da louça de Alcântara.


Fontes:








sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Caneca Cerâmica de José Franco

É um dever e uma obrigação colocar uma postagem sobre peças cerâmicas e para tal escolhemos uma de um dos Ceramistas Maiores de Portugal – José Franco.


Mais conhecido e afamado pelas esculturas que efectuou, não podemos deixar de apresentar uma peça mista de utilitária e decorativa: uma caneca moldada, alta com uma asa particular e característica de José Franco.


Pintada de cor monocromática, amarela, escorrida, com o interior com vidrado brando e o fundo evidenciado o simples barro com a inconfundível assinatura de José Franco.




Cremos ser uma peça dos anos cinquenta do século passado.

José Franco, ceramista mafrense, que o conhecemos mais de 30 anos e com quem convivemos durante mais de 15 anos foi um ceramista e escultor espectacular.


Jorge Amado definiu-o magistralmente: “Artista do barro e da vida… homem honesto e simples que traz no coração e nos dedos o dom da criação”.


Sem dúvida, … quem foi um dos maiores, ou senão o maior barrista português de todos os tempos!



FONTES:

1) – “José Franco – A Razão de um Sonho”, de João Osório de Castro, Edições ELO, Mafra – Outubro 2000;

2) - “ A Cerâmica Tradicional de Mafra”, de Manuel J. Gandra, com Prefácio de António Maria de Sousa, Colecção Lugares de Memória, Editora Mar de Letras, Ericeira – Maio de 1999;


3) – “Tesouros do Artesanato Português – Olaria e Cerâmica”; de Teresa Perdigão e Nuno Calvet, Editorial Verbo 2003.

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Bomboneira policromática da Estatuária Artística de Coimbra

As peças da Estatuária Artística de Coimbra continuam a deslumbrar-nos, quer pelo seu tipo, quer pela decoração.


A que agora apresentamos, em termos de decoração, e por uma simples visualização, não cuidada, leva-nos a opinar ser uma peça de Alcobaça de uma das suas muitas fábricas, mas na verdade trata-se de uma peça da Estatuária Artística de Coimbra, devidamente marcada e identificada.



A sua decoração, com monocromia azul, alternada com policromia em tons de azul, amarelo, rosa e verde, assemelham-se, sem dúvida, à decoração de Alcobaça.




Trata-se de um objecto utilitário: bomboneira circular com tampa, policromática, com pintura manual, peça moldada, com marca pintada no fundo da base, com a identificação do número de catálogo: 269 e com a pintura manual de “Estatuária”, “Coimbra”, “Portugal” e a assinatura do autor, cremos, “M”.


Trata-se de uma interessante peça com decoração floral policromática: verde, azul, amarela, vermelho e castanho claro, inserida em ornatos configurando ferraduras, quer na tampa, quer no bojo, sendo a base constituída por quatro pequenos pés cilíndricos.


A decoração está aplicada sobre uma base azulada, clara. Possui filetes azuis junto à aba da tampa e na bordadura do bojo, bem como no limite inferior do bojo.


A pega da tampa é cónica, com dois filetes grossos azuis e com uma decoração raiada alternada em amarelo largo e azul fino.

Presume-se que seja uma peça de fabrico no período entre 1943 e 1947 do século passado, antes da Fábrica das Lages.


Mais uma interessantíssima peça da Estatuária Artística de Coimbra, para contribuir para a identificação do diversificado fabrico desta fábrica.



FONTES:


2) – “Cerâmica – Artes Plásticas e Artes Decorativas – Normas de Inventário”, Museu Nacional do Azulejo, Ana  Anjos Mântua, Paulo Henriques, Teresa Campos, Instituto dos Museus e Conservação, 1ª Edição, Maio de 2007;


Caneca de Massarelos – Período Lusitânia (1936 – 1945)

Para variar apresentamos hoje uma caneca, em faiança, da Fábrica de Massarelos – Porto, do período Lusitânia.

Caneca moldada, de forma tronco-cónica, de boca larga, com pequeno frete reentrante junto à base, mais larga, e asa lateral vertical em forma de aleta lisa, com decoração monocromática azul, sob fundo creme, por técnica de impressão, com um ramo de duas papoilas, uma de cada lado, e um filete fino, junto ao bordo e outro no frete da base.

Possui marca estampada, monocromática na cor azul, com as indicações MASSARELOS – LUSITANIA – PORTUGAL, encimada pela coroa real e com a coroa de louros, lateral.

A Fábrica de Massarelos, em Roriz, então propriedade da sociedade por quotas Chambers & Wall, Lda., foi vendida, em 1936, à Companhia das Fábricas Cerâmica Lusitânia, S.A.R.L., empresa de Lisboa que possuía um conjunto de fábricas e armazéns de distribuição de materiais de construção, nas principais cidades do país.

Mais tarde, em 1945 a marca CFCL, Companhia das Fábrica Cerâmica Lusitânia, é substituída por LUFAPO LUSITÂNIA PORTUGAL, pelo que, a partir de 1945, passou a ser usada a marca LUFAPO MASSARELOS

Por conseguinte, é desse período (1936 – 1945), a caneca que apresentamos.



FONTES:

1) – “ A Fábrica de Louça de Massarelos – Contributos para a caraterização de uma unidade fabril pioneira” – Volume I, de Armando Octaviano Palma de Araújo; Dissertação de Mestrado em Estudos do Património, Universidade Aberta – Departamento de Ciências Sociais e de Gestão, Lisboa – 2012” 

2) - “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, com Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença – 3ª Edição – 1987;

3) - Fábrica de Massarellos – Porto 1763 – 1936”, Exposição Fábrica de louça de Massarelos 1763 – 1936, Porto 1998; Coordenação de Mónica Baldaque, Teresa Pereira Viana e Margarida Rebelo Correia, Museu Nacional Soares dos Reis;


4) -Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, com Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença – 3ª Edição – 1987;

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

FAIANÇAS VESTAL – ALCOBAÇA: CATÁLOGOS

Uma fábrica fascinante foi a VESTAL – Fábrica de Faianças Artísticas, de Alcobaça, mais propriamente sediada na localidade de Vestiaria, empresa ícone na louça de Alcobaça, que infelizmente também já encerrou há alguns anos e cuja proprietária inicial era a empresa Batista & Almeida, Limitada.

A qualidade das suas peças, perfeitamente identificáveis, no conjunto das louças de Alcobaça, quer pelos elementos decorativos, quer pelas suas cores, evidenciavam a qualidade dos seus artesões, em especial dos seus decoradores.
A sua história é conhecida, e foi bastante bem retratada, através de uma interessante publicação (fonte 1), a qual aqui reproduzimos:

“A “Vestal” – ou “Vistal”, como também era denominada nos seus primeiros anos – foi fundada em Fevereiro de 1947 por António Branco, Joaquim Batista Branco, Veríssimo de Almeida e Acácio Bizarro.

A sua primeira fornada teve lugar em 11 de Julho do mesmo ano. Nessa data, eram pintores Leopoldo Machado, Noel Costa, Augusto Moreira, Joaquim Dias Marques e Mário Silva; Carlos Fernandes era oleiro rodista; Acácio Bizarro, o forneiro; Veríssimo de Almeida era fornista; o quador de barro era Manuel Clementino; eram aprendizes José Coelho e António Amado – onze pessoas, no início.

A sua produção destinava-se essencialmente ao mercado local e Lisboa. Entretanto, em 1948, a quota de Joaquim Batista Branco foi comprada por António Henriques Real. Uma vez que o novo sócio possuía já uma empresa de distribuição sediada na capital, a “Vestal” atingiu assim novos horizontes. Com efeito, após a I Feira das Indústrias, a fábrica projectou-se no mercado externo, tendo sido a Grã-Bretanha o primeiro foco. Até 1960, a “Vestal” desenvolveu-se atingindo cerca de cento e cinquenta funcionários.

As matérias primas utilizadas eram o barro dos Capuchos, chumbo proveniente da sucata, estanho de Belmonte e tintas importadas de Inglaterra e da Alemanha. A sua produção consistia em pratos de parede, jarras, fruteiras, bengaleiros, castiçais, galheteiros, entre outras variadíssimas peças. Além das decorações populares características desta louça, em que as flores são elemento dominante, a “Vestal” introduziu também temas históricos, pintados em talhas e pratos – desde efemérides como a Restauração de 1640 ou a Tomada de Lisboa aos Mouros. Outros motivos de sabor erudito figuram em algumas peças de faiança daquela fábrica: sonetos de Camões, poemas de Guerra Junqueiro e João de Deus, figuras como Vasco da Gama, António de Oliveira Salazar ou Chopin, foram retratados, tal como alguns pintores e seus quadros – Goya, Da Vinci. Também a visita da Rainha Isabel II de Inglaterra a Alcobaça, em 20 de Fevereiro de 1957 levou à elaboração de uma interessante talha. Todos estes motivos foram introduzidos por um funcionário que foi admitido na empresa em 1952 – Hélder Lopes – que veio a tornar-se sócio da “Vestal” em 1962.

Pela “Vestal” passaram destacados pintores, além dos que estavam na data da fundação: Almeida Ribeiro, António José, Luís Cipriano da Silva, Luís Ferreira da Silva e Joaquim Pereira Assunção (conhecido por Marcos).

Tal como a “Olaria de Alcobaça”, também a “Vestal” fez imitações da louça antiga do Juncal, bem como dos pratos conhecidos por “aranhões”. Nos dias de hoje ainda a “Vestal” continua a fabricar a louça típica de Alcobaça. No entanto, em 1968, os seus antigos fornos artesanais foram substituídos por outros eléctricos, que mecanizaram e aumentaram a produção – mas que tiraram de vez a cor genuína da louça regional.”

A Vestal encerrou as suas portas no início deste século, mais precisamente em 2002, pese embora só passados 9 anos foi considerada falida, a 9 de Setembro de 2011, a então denominada VESTAL – Faianças de Alcobaça, Lda.

Para caracterizar, identificar e catalogar as peças de uma fábrica, confirmando a veracidade das mesmas, nada melhor que ter os catálogos.

Que saibamos a Vestal durante os seus 54 anos de laboração teve dois catálogos, um na década de 50, que nem encadernado era, mas que possuía duas ilhoses para agrupar as páginas e outro posterior, cremos, na década de 70, em que todas as peças que produziam eram apresentadas, de forma temática e devidamente numeradas.










Há bastante tempo que porfiávamos pelo primeiro catálogo, pois sabíamos que o mesmo existia, mas não o tínhamos, o que finalmente conseguimos, mas não foi fácil….





É um fascínio e uma grande satisfação ter catálogos das peças de faiança artística, neste caso da VESTAL, o que facilita grandemente a identificação e inventariação das peças que surgindo.

Esta satisfação, distribua-a convosco, amantes das faianças.


FONTES:

1) - “Cerâmica de Alcobaça, Duas Gerações”, edição do Museu de Alcobaça, 1992, texto de Jorge A. F. Ferreira Sampaio e Raul J. Silveira da Bernarda.

2) – “Cerâmica em Alcobaça – 1875 até ao presente”; exposição de 6 Abril a 4 de Maio 2011 – Catálogo da exposição, coordenador: Luís Afonso Peres Pereira.

3) – “História da Industria na Região de Leiria – Cerâmica”, Edição Jornal de Leiria, revista integrante da edição n.º 1558, do Jornal de Leiria, em 22.05.2014.