segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Jarro da Estatuária Artística de Coimbra (EAC) - Período Frutuoso

Mais uma peça deslumbrante da Estatuária Artística de Coimbra, do período pré constituição da EAC, ou seja da “Estatuária Frutuoso” – Coimbra.


Esta fábrica era propriedade de José Augusto Frutuoso (Gaspar de Matos), que a tinha fundado, em 1926 (?), pese embora ainda não tivesse o nome de Estatuária Artística de Coimbra e as peças aí fabricadas fossem marcadas manualmente com as indicações  “ E FRUTUOSO” e “COIMBRA”.


A peça que apresentamos possui o nº 25 de catálogo e encontra-se assinada por C.S.L.
  


Trata-se de um pequeno jarro, mas soberbamente decorado de forma policromática, com cores muito fortes, em especial o azul (cobalto), mas também com castanhos-escuros, amarelos-torrados e verdes fortes, tentando preencher completamente a peça, a qual possui como base um vidrado num azul claro, celeste.


Possui quatro filetes largos, em azul forte, um na base, dois no bojo e um no colo, sendo que a bordadura da boca também possui um remate semelhante.

O motivo central no bojo, intercala motivos vegetalistas, de flores azuis, vermelhas e amarelas, com patos entre folhas verdes, inseridos em cartelas lobadas com um filete fino castanho e um largo, pelo interior em amarelo.


A postura dos dois patos é diferente, um com o bico para cima e outro para baixo.










A preencher exteriormente o espaço às cartelas lobadas e entre os filetes do bojo há arabescos azuis.

Inferior e superiormente nos dois anéis circulares, desenvolve-se uma decoração floral, policromática, repetitiva.



Finalmente, o colo possui uma decoração simples, a vinoso.


A peça possui uma qualidade superior de decoração, demonstrando cuidado no acabamento e firmeza na pintura – correspondendo, provavelmente, ao período de melhor qualidade e com maior requinte de decoração da Estatuária Artística de Coimbra (pré fundação) de 1926 (?) a 1943.


FONTES:



2) – “Cerâmica – artes Plásticas e Artes Decorativas – Normas de Inventário”, Museu Nacional do Azulejo, Ana  Anjos Mântua, Paulo Henriques, Teresa Campos, Instituto dos Museus e Conservação, 1ª Edição, Maio de 2007;

domingo, 9 de novembro de 2014

PRATO COMEMORATIVO DA FESTA DA ÁRVORE – ABRIL 1913 - AMADORA

Em Abril de 1913, na Amadora decorreu a mais importante e maior Festa da Árvore, realizada no despontar do século XX, tendo sido efectuado um prato em Faiança, comemorativo da mesma, o qual vamos apresentar.



Não possui marca ou carimbo, mas pelas suas características, textura e círculos do tardoz, presumimos ser fabrico de uma das fábricas de Lisboa, provavelmente da Fábrica de Louça de Sacavém.


É um interessante e muito raro prato, com decoração vegetalista monocromática na cor verde seco, na aba, com bordo recortado, e com quatro cartelas, que contêm escrito “FESTA DA”, “ÁRVORE”, “ABRIL 1913” e “AMADORA”.




No centro do covo do prato possui uma decoração monocromática, na cor castanha, com uma coroa, uma mão com um facho, e por baixo, encaixilhado “PELA AMADORA”.


Um pouco de história (para o enquadramento deste prato):

A primeira “Festa da Árvore” realizou-se em 1907, no Seixal; por iniciativa da Liga Nacional de Instrução.

Os seus “valores” apoiavam-se nos ideais republicanos, que à data estavam a despontar fortemente por várias localidades na área envolvente de Lisboa, e que vieram a culminar com a implantação da República em 1910.

Entre 1912 e 1915 realizaram-se várias “Festas da Árvore”, fortemente impulsionadas pelo jornal “Século Agrícola”.


A que se realizou em 1913, na Amadora, foi significativamente importante, onde contou com a presença do Presidente da República, Manuel de Arriaga, tendo efectuado, para além do prato que apresentamos, um Cartaz comemorativo que apresentamos de imediato.


Faziam parte dos ideais desta Festa a sensibilização para a protecção das florestas nacionais, para além dos ideais educativos, pedagógicos e cívicos em geral.


Dentro do âmbito dos pratos comemorativos, o presente é interessante e bastante raro.

Fontes:




LEITEIRA DE FAIANÇA DA FÁBRICA D’ ALCÂNTARA (?), MOTIVO “PAIZAGEM”

O baú nacional das velharias e antiguidades vai periodicamente revelando-nos peças de faiança deveras interessantes e não ainda catalogadas.


São peças que nos deslumbram, mas que nos criam incertezas acrescidas, pois com a ausência de marcas ou carimbos, a identificação do seu fabrico, da sua época ou mesma da sua atribuição a uma fábrica são sempre problemáticas.


Tudo isto a propósito de uma pequena leiteira, com o MOTIVO “PAIZAGEM”, na cor sépia, em que as principais características identificadoras do motivo estavam presentes, devidamente enquadradas num caixilho de troncos de árvores e de ramos entrelaçados.


Vejamos pois, o que está presente:

- a cena campestre, bucólica e com uma paisagem rural;

- a casa campestre ou rural, de dois pisos e com a chaminé a fumegar,

- a cabana ou palheiro, em primeiro plano, à esquerda;

- as vedações em paliçada de madeira e cancelas em madeira com travessas cruzadas;

- a presença de uma personagem (agricultor ou caseiro), junto a uma vedação,

- as árvores após a edificação campestre…

A peça em faiança com base creme ou cor de grão, com a estampagem monocromática na cor sépia, e com o motivo em presença “PAIZAGEM” leva-nos logo para o fabrico da “Fábrica d’Alcântara – Louça à Ingleza”, ou mesmo “Fábrica d’Alcântara – Faiança Fina”, mas a peça não possui qualquer marca ou carimbo (verdade se diga, não tem superfície no fundo para tal) e daí as nossas dúvidas quanto à sua atribuição.


(da Fonte 1)


(da Fonte 2)

(da Fonte 3)
(da Fonte 4)
Simplesmente possui uma letra “B.“, a qual não conseguimos identificar de forma simples e fácil e correlacionar ao seu provável fabrico, mas noutras peças da Fábrica de Alcântara (5) devidamente carimbadas e com gravação na massa, possuem igualmente a letra “B”, o que poderá constituir uma “aproximação” para a sua identificação.


(Fundo e Marca e Sinal Figurativos da Le

(da Fonte 5)

A, assim ser, crê-se tratar de uma peça da segunda metade do século XIX, provavelmente do 1º período de 1885-1886 ou do 2º período entre 1886 e 1889 (?), mas sem certezas.

E por conseguinte, uma peça rara da fábrica em causa, de pequenas dimensões: altura máxima, na asa:14,5 cm; diâmetro, na base: 6,0 cm e no bojo: 8,0 cm.


Conhece-se (6) um exemplar de um jarro, desta fábrica e do mesmo motivo, decorado a cor monocromado a negro.

Com tudo isto, e perante a pouca informação sobre esta fábrica ou informação não sistematizada (6), mais uma vez se vê a necessidade urgente de criar uma obra bibliográfica dedicada à Fábrica de Louça de Alcântara, ou pelo menos a uma catalogação sistematizada da mesma.

Soubemos e já lemos algures que o Sr. Jaime Regalado se deu ao empenho e árdua tarefa de efectuar um trabalho sobre a Fábrica de Louça de Alcântara. Fazemos votos que a conclua com a brevidade possível e que a publique, pois será algo, certamente, muito importante, para a identificação e caracterização da louça de Alcântara.


Fontes:








sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Caneca Cerâmica de José Franco

É um dever e uma obrigação colocar uma postagem sobre peças cerâmicas e para tal escolhemos uma de um dos Ceramistas Maiores de Portugal – José Franco.


Mais conhecido e afamado pelas esculturas que efectuou, não podemos deixar de apresentar uma peça mista de utilitária e decorativa: uma caneca moldada, alta com uma asa particular e característica de José Franco.


Pintada de cor monocromática, amarela, escorrida, com o interior com vidrado brando e o fundo evidenciado o simples barro com a inconfundível assinatura de José Franco.




Cremos ser uma peça dos anos cinquenta do século passado.

José Franco, ceramista mafrense, que o conhecemos mais de 30 anos e com quem convivemos durante mais de 15 anos foi um ceramista e escultor espectacular.


Jorge Amado definiu-o magistralmente: “Artista do barro e da vida… homem honesto e simples que traz no coração e nos dedos o dom da criação”.


Sem dúvida, … quem foi um dos maiores, ou senão o maior barrista português de todos os tempos!



FONTES:

1) – “José Franco – A Razão de um Sonho”, de João Osório de Castro, Edições ELO, Mafra – Outubro 2000;

2) - “ A Cerâmica Tradicional de Mafra”, de Manuel J. Gandra, com Prefácio de António Maria de Sousa, Colecção Lugares de Memória, Editora Mar de Letras, Ericeira – Maio de 1999;


3) – “Tesouros do Artesanato Português – Olaria e Cerâmica”; de Teresa Perdigão e Nuno Calvet, Editorial Verbo 2003.

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Bomboneira policromática da Estatuária Artística de Coimbra

As peças da Estatuária Artística de Coimbra continuam a deslumbrar-nos, quer pelo seu tipo, quer pela decoração.


A que agora apresentamos, em termos de decoração, e por uma simples visualização, não cuidada, leva-nos a opinar ser uma peça de Alcobaça de uma das suas muitas fábricas, mas na verdade trata-se de uma peça da Estatuária Artística de Coimbra, devidamente marcada e identificada.



A sua decoração, com monocromia azul, alternada com policromia em tons de azul, amarelo, rosa e verde, assemelham-se, sem dúvida, à decoração de Alcobaça.




Trata-se de um objecto utilitário: bomboneira circular com tampa, policromática, com pintura manual, peça moldada, com marca pintada no fundo da base, com a identificação do número de catálogo: 269 e com a pintura manual de “Estatuária”, “Coimbra”, “Portugal” e a assinatura do autor, cremos, “M”.


Trata-se de uma interessante peça com decoração floral policromática: verde, azul, amarela, vermelho e castanho claro, inserida em ornatos configurando ferraduras, quer na tampa, quer no bojo, sendo a base constituída por quatro pequenos pés cilíndricos.


A decoração está aplicada sobre uma base azulada, clara. Possui filetes azuis junto à aba da tampa e na bordadura do bojo, bem como no limite inferior do bojo.


A pega da tampa é cónica, com dois filetes grossos azuis e com uma decoração raiada alternada em amarelo largo e azul fino.

Presume-se que seja uma peça de fabrico no período entre 1943 e 1947 do século passado, antes da Fábrica das Lages.


Mais uma interessantíssima peça da Estatuária Artística de Coimbra, para contribuir para a identificação do diversificado fabrico desta fábrica.



FONTES:


2) – “Cerâmica – Artes Plásticas e Artes Decorativas – Normas de Inventário”, Museu Nacional do Azulejo, Ana  Anjos Mântua, Paulo Henriques, Teresa Campos, Instituto dos Museus e Conservação, 1ª Edição, Maio de 2007;


Caneca de Massarelos – Período Lusitânia (1936 – 1945)

Para variar apresentamos hoje uma caneca, em faiança, da Fábrica de Massarelos – Porto, do período Lusitânia.

Caneca moldada, de forma tronco-cónica, de boca larga, com pequeno frete reentrante junto à base, mais larga, e asa lateral vertical em forma de aleta lisa, com decoração monocromática azul, sob fundo creme, por técnica de impressão, com um ramo de duas papoilas, uma de cada lado, e um filete fino, junto ao bordo e outro no frete da base.

Possui marca estampada, monocromática na cor azul, com as indicações MASSARELOS – LUSITANIA – PORTUGAL, encimada pela coroa real e com a coroa de louros, lateral.

A Fábrica de Massarelos, em Roriz, então propriedade da sociedade por quotas Chambers & Wall, Lda., foi vendida, em 1936, à Companhia das Fábricas Cerâmica Lusitânia, S.A.R.L., empresa de Lisboa que possuía um conjunto de fábricas e armazéns de distribuição de materiais de construção, nas principais cidades do país.

Mais tarde, em 1945 a marca CFCL, Companhia das Fábrica Cerâmica Lusitânia, é substituída por LUFAPO LUSITÂNIA PORTUGAL, pelo que, a partir de 1945, passou a ser usada a marca LUFAPO MASSARELOS

Por conseguinte, é desse período (1936 – 1945), a caneca que apresentamos.



FONTES:

1) – “ A Fábrica de Louça de Massarelos – Contributos para a caraterização de uma unidade fabril pioneira” – Volume I, de Armando Octaviano Palma de Araújo; Dissertação de Mestrado em Estudos do Património, Universidade Aberta – Departamento de Ciências Sociais e de Gestão, Lisboa – 2012” 

2) - “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, com Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença – 3ª Edição – 1987;

3) - Fábrica de Massarellos – Porto 1763 – 1936”, Exposição Fábrica de louça de Massarelos 1763 – 1936, Porto 1998; Coordenação de Mónica Baldaque, Teresa Pereira Viana e Margarida Rebelo Correia, Museu Nacional Soares dos Reis;


4) -Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, com Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença – 3ª Edição – 1987;