terça-feira, 27 de janeiro de 2015

TRAVESSA EM FAIANÇA, FABRICO DO NORTE (?); MOTIVO CANTÃO POPULAR, EM TONS DE DOURADO - INVULGAR

É do conhecimento geral o nosso fascínio pela faiança decorada com o motivo “Cantão Popular”, quer pela diversidade da decoração, quer pela incógnita do seu fabrico, quando não marcadas ou pelo desvendar de um novo fabrico, quando marcadas ou mesmo pela cromática aplicada.

Eis senão quando, muito recentemente, nos surgiu pela frente uma invulgar peça com este motivo, a qual passamos a descrever.

Uma travessa em faiança, de cantos arredondados, com aba recortada, em tons dourados – invulgar!

O mais frequente são os tons de azul, azul e preto ou amarelo-ocre e preto.

Cremos tratar-se de um fabrico do Norte, provavelmente do final do século XIX, assemelhando-se um pouco ao que se diz, fabrico “Miragaia”, mas sem certezas….


Os motivos básicos e repetentes deste motivo estão presentes: os dois edifícios (palácios-?) orientais com as suas cúpulas características; as duas ombreiras curvas sobre dois vãos de fenestração no da direita, o maior; a ponte de três arcos; os salgueiros – neste caso de sete ramos; a demais vegetação, as nuvens; os espelhos de água…


A característica cercadura da aba da travessa: um duplo filete, ladeando uma faixa larga, de espaçamento e afastamento irregular – demonstrando de forma indelével a mão e o traço não perfeita do seu artista; a seguinte cercadura com o espinhado pelo exterior, denotando-se, perfeitamente, onde o mesmo começou, com um traço mais grosso e curto e que conforme se iam desenvolvendo continuava por ser mais fino e mais comprido e com uma canelura ondulada pelo interior (no sentido do covo).


Finamente a cercadura da aba termina, já na transição para o covo igualmente com um duplo filete ladeando um faixa larga, tudo na cor dourada.


É na verdade a característica desta cercadura e a sua composição que nos leva a considerar ser uma peça de fabrico do Norte.


Por outro lado, a sua textura, o peso da peça, o traço, o cuidado aplicado no mesmo, conjugado com a imperfeição ou hesitação do artista, para além do tipo da pasta – cor de grão (visível numa das falhas que a travessa apresenta), o tipo de vidrado – leitoso e escorrido, com falhas que exibe, para além da configuração recortada da aba da travessa e da configuração do seu tardoz; no seu conjunto, leva-nos a induzir que o fabrico seja provavelmente do século XIX – será?


Não temos certezas, mas a travessa fascinou-nos!


É a primeira vez que encontramos uma peça em Faiança, com o motivo “Cantão Popular”, na cor dourada.


Aqui fica o seu registo.

FONTES:

1) – “Faiança Portuguesa Séculos XVIII-XIX”, Colecção Pereira de Sampaio, Editores ACD, 2008.

2) – “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença, 3ª Edição, Lisboa, 1987.

3) – “Faiança Portuguesa – Séculos XVIII-XIX”, de Arthur de Sandão, Livraria Civilização, 2º Volume, Barcelos, 1985.

4) – “Cerâmica Artística Portuense dos Séculos XVIII e XIX”, Vasco Valente, Livraria Fernando Machado – Porto,

5) – “Cerâmica Portuense – Evolução Empresarial e Estruturas Edificadas”, Teresa Soeiro, Jorge Fernandes Lacerda, Silvestre Lacerda, Joaquim Oliveira, Edição Portugália, Nova série, volume XVI, 1995.

6) – “Fábrica de Louça de Miragaia”, Museu Nacional Soares dos Reis, Edição IMC, Lisboa, 2008.


7) - http://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/75570/3/72863.1.pdf; (A Fábrica de Louça de Santo António de Vale de Piedade, em Gaia: arquitetura, espaços e produção semi-industrial oitocentista; LAURA CRISTINA PEIXOTO DE SOUSA, 2013).

domingo, 25 de janeiro de 2015

PRATO EM FAIANÇA, DE COIMBRA, SÉCULO XIX, MOTIVO “CASARIO” DOS BRASILEIROS “TORNA-VIAGEM” (?)

Para começar o novo ano, após um interregno forçado, apresentamos um interessante prato, pequeno, em faiança, que presumimos ser de Coimbra, do século XIX, com a decoração “Casario”.


Prato pequeno, mas deveras interessante; com uma reserva central, monocromática, na cor vinoso (cor de amora).

A decoração é pintada por estampilhagem e esponjado na cor de amora (vinoso), sobre fundo branco, possuindo uma paisagem tipo “Casario”, com um conjunto de três edifícios e árvores e elementos vegetalistas a ladear os mesmos.


Os edifícios, os troncos das árvores e o elemento vegetalista foram aplicados por estampilhagem (chapa recortada) e os ramos das árvores e o solo/paisagem de enquadramento foram aplicadas por esponjado.

O conjunto de edifícios, em número de três, ao gosto da época, com dois e três níveis de fenestração, exibem dois, coberturas piramidais e outro uma cúpula.


Estes edifícios eram característicos à época, meados a final do século XIX, existindo vários em Vilas em torno de Coimbra, bem como em diversas Vilas das Beiras, para além das do Norte e Nordeste do País, os quais eram mandados edificar pelos “Torna-Viagem”…

Isto era, os portugueses que regressavam do Brasil, abastados, com características de homem burguês e moderno e que queriam demonstrar essa situação, entre outras exibições, através das edificações que faziam, geralmente mais altas que as existem, com telhados com coberturas piramidais ou em cúpulas.

A estes “torna-viagem”, também lhe chamavam “Brasileiros”, e a sua influência, a nível do edificado em Portugal, também influenciou a cerâmica, e ficou registado para a posteridade, como é o caso do presente pequeno prato.

A arquitectura das edificações destes Brasileiros “torna-viagem” era elegante, inspirada nas casas coloniais vitorianas, com soluções afrancesadas e com alguma influência italiana.

Tal como caracteriza Miguel Monteiro:

A casa do "Brasileiro" de "Torna - Viagem" constituiu uma das representações mais evidentes desse retorno, quer na estrutura e fachada das edificações, quer nas novas demarcações internas, dividindo espaços e pessoas, evidenciando novas hierarquias e novas fronteiras sociais.

As inovações arquitectónicas e decorativas da casa do Brasileiros representam, na maior parte dos casos, uma reprodução ‘desfocada’ de soluções formais de uma arquitectura ‘elegante’ adoptada na construção residencial brasileira a partir de meados do século XIX mercê da actividade de arquitectos e companhias de construção europeias: um modelo onde pontuam influências da casa colonial vitoriana, soluções formais afrancesadas, misturadas com algum revivalismo de cariz italiano".

Nesta perspectiva, as edificações remetem para um quadro de leitura urbana da “Casa” que poderá ser categorizadas em três tipos: o palácio, a casa apalaçada e o palacete.”

Estes Brasileiros “torna-viagem” foram vastamente retratados por Eça de Queiroz, bem como por Camilo Castelo Branco.

São exemplos disso, o “torna-viagem” em “O primo Basílio” (1878), de Eça de Queiroz; o “retornado” Eusébio Seabra em “A Morgadinha dos Canaviais” (1868) de Júlio Dinis; e os vários “brasileiros” em “Eusébio Macário” (1879), em “A Brasileira de Prazins” (1883), “A Corja” (1880), “Os diamantes do Brasileiro” (1869), entre muitos outros romances, todos de Camilo Castelo Branco.

Voltando à peça: trata-se de um pequeno prato não marcado, com uma massa de textura fina, de esmaltado leitoso, mais ou menos homogéneo, mas com alguns escorridos, sob o qual se denota uma massa na cor de grão.


Peça interessante, com decoração relevante, que pelas suas características, nos permite considerar que será fabrico de Coimbra, desconhecendo-se, como sempre, a respectiva fábrica ou cerâmica, e , provavelmente, fabricada entre 1850 e 1890.

Mas certezas absolutas, não as há.


Quer no covo, quer no tardoz deste prato notam-se os três pontos de falhas de vidrado, decorrentes da colocação do mesmo nas trempes, para a vidragem.

Não possui qualquer filete, nem qualquer decoração vegetalista ou geométrica na bordadura do mesmo.

Pelo tipo de decoração, do esponjado e do “casario”, consideramos que não será Alcobaça, fabrico de José dos Reis, mas Coimbra.


Na Fonte 7) encontramos uma tigela com tampa, com uma decoração semelhante, com a indicação:  ”TIJELA COM TAMPA EM FAIANÇA DE FABRICO DO SÉC XIX OU ANTERIOR QUE PODERÁ  SER DE ALCOBAÇA QUE USOU INICIALMENTE ESTE MOTIVO DO CASARIO MONOCROMADO. ALGUMAS FÁBRICAS DO NORTE TAMBÉM USARAM ESTE MOTIVO”.

No entanto, pelo motivo continuamos a considerar como sendo de Coimbra.


FONTES:

1) – “Faiança Portuguesa Séculos XVIII-XIX”, Colecção Pereira de Sampaio, Editores ACD, 2008.

2) – “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença, 3ª Edição, Lisboa, 1987.

3) – “Faiança Portuguesa – Séculos XVIII-XIX”, de Arthur de Sandão, Livraria Civilização, 2º Volume, Barcelos, 1985.




segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Prato Grande em Faiança de Aradas (Aveiro). Fabrico da Cerâmica Manuel Gonçalves (Vitória)?


Apresentamos mais uma peça em Faiança, um prato grande, ou dito de cozinha, de Aveiro, mais propriamente de uma das Fábricas de Aradas.


Trata-se de um prato grande, covo acentuado com decoração estampilhada monocroma azul, com uma aplicação aerografada na bordadura da aba, em degradação para o interior do covo, na mesma cor.


Possui na aba uma decoração com motivo vegetalista repetido: dez rosas aplicadas a estampilha, com recurso a chapa, monocromas na cor azul.


No limite do covo há dois filetes, o exterior fino e o interior mais espesso, possuindo o covo uma reserva central e circundando a mesma, mais cinco motivos vegetalistas monocromos, iguais aos aplicados na aba, igualmente na cor azul.


A reserva central é também um motivo vegetalista, interessante composição floral, intensamente preenchida e igualmente estampilhada através de stencil (chapa recortada), monocroma, em tom de azul mais forte.


No tardoz do prato, sobre um vidrado esbranquiçado, leitoso somente uma marca monocroma azul circular, tendo na coroa circular exterior as palavras “FAIANÇAS” e “ARADAS” e no círculo interior o Monograma: “CMG”, pensamos estar correcta a nossa leitura.


Presumimos que seja fabrico da Cerâmica de Manuel Gonçalves (Machado Vitória), fábrica que fundou em 1955, em Aradas.

Cremos ser assim, mas não temos a certeza.



Enquadramento desta Fábrica, um pouco de história:

Em 1922,  Manuel Gonçalves da Vitória,   João Gonçalves Vitória Machado, o “Jarreto” e Anunciação de Jesus Gomes, esposa de Manuel Gonçalves da Vitória, fundam a primeira fábrica de louça branca e começam a fabricar louça de "barro branco churro", em 1923, em Aradas.

Consta que o oleiro Manuel da Vitória, trabalhou antes em Coimbra e Viseu, em fábrica de barro branco, quanto ao irmão, João Vitória Machado, também oleiro, desconhecemos os seus antecedentes.

Segundo consta a matéria-prima para esta fábrica, “o barro branco churro”, vinha de Coimbra, de comboio, e era transportada desde o mesmo até à fábrica em carros de bois, nos limites de Aradas, mais propriamente em Leirinhas, numa propriedade de ambas e onde construíram a fábrica.

Manuel Vitória, o irmão mais velho, ficou como gerente da fábrica e o irmão mais novo, João Vitória Machado ficou como responsável da “escrituração”.

Entretanto vieram a surgir divergências entre ambos, que culminaram com a dissolução da empresa em meados de 1930 (Julho).

Consta que em 1931 João Vitória Machado fundou nova fábrica em Aradas, a “Fábrica do Jarreto” e Manuel Vitória veio a fundar outra em 1955.

No entanto há a salientar que a única família de oleiros que perdurou ao longo dos anos, em Aradas, e quase até à actualidade foi a família Vitória.

Os filhos de ambos, Licínio Gonçalves Vitória, Ilídio Gonçalves Vitória e António Gonçalves Vitória Machado, primos entre si, vieram a fundar em Outubro de 1970 a Cerâmica Primos Vitória

Aqui fica o carimbo, para que se consiga confirmar o seu fabrico!


Fontes:


domingo, 28 de dezembro de 2014

Bule de chá, modernista, da Fábrica de Loiça de Sacavém, com recuperação kirsch

Há peças de loiça utilitária, em faiança, de valor decorativo menor, mas que por diversas razões ou motivos nos cativam também.


Tal é o caso de um Bule, de faiança moldada, sem qualquer decoração, na cor verde seco, de forma globular/cónica, formato “PORTO”, com uma pega lateral em forma de “C” e bico levemente contra-curvado, com rebordo superior circular para encaixe da tampa, mas sem a mesma.


No fundo da base possui a marca estampada a preto, da Fábrica de Loiça de Sacavém correspondente ao período de fabrico de 1902-1970, isto é, da administração Gilman & Cta., com as indicações “SACAVÉM” e “PORTUGAL” e um símbolo ou marca figurativa, igualmente estampado a preto, um trevo de três folhas, para além de uma gravação na massa “C”.
 
 Presumimos que seja dos anos 50/60 do século passado.



A recuperação kirsch deste bule foi a aplicação e utilização de uma tampa metálica, de perfeito encaixe no rebordo do mesmo. Tampa pesada, com pega circular central e com um padrão alegórico de decoração vegetalista, em baixo relevo, na coroa circular da mesma e entre dois espinhados, um junto ao bordo e outro junto à pega, com traça da Média Ásia ou mesmo Oriental.


Foi, sem dúvida, que esta recuperação kirsch de um bule em faiança da Fábrica de Louça de Sacavém que nos encantou.


Não está em causa o valor da peça, quer em termos de decoração ou de coleccionismo, mas o facto de até onde chega a imaginação para a recuperação de uma peça utilitária em faiança e o sentido de comercialização da mesma!



FONTES:

1) – “150 Anos – 150 Peças – Fábrica de Loiça de Sacavém” – Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Março de 2006;


2) - “Dicionário de marcas de Faiança” de Filomena Simas e Sónia Isidro – Edição Estar Editora - Lisboa – 1996;

TIGELA RARA, DE MOTIVO DESCONHECIDO, DA FÁBRICA DE LOIÇA DE SACAVÉM

TIGELA RARA, COM COMPOSIÇÕES EVOCATIVAS AO NORTE, DE MOTIVO DESCONHECIDO, DA FÁBRICA DE LOIÇA DE SACAVÉM


Tigela em Faiança, da Fábrica de Loiça de Sacavém, com o formato “FRANCÊS”, com a marca estampada, na cor verde, de Gilman & Cta., SACAVÉM, PORTUGAL, correspondente ao período de fabrico de 1902-1970, mais especificamente ao sub-período 1921-1970.


Trata-se de uma peça moldada, em forma de calote, assente numa base circular, mais pequena, arredondada e com canelura.


Possui decoração monocroma, na cor verde, sobre fundo branco, por técnica de estamparia, com duas composições diferentes, dispostas simetricamente no bojo exterior.


O motivo decorativo de uma das composições com uma cena campestre e de ruralidade leva-nos a pensar no motivo “LAVOURA”, mas comparando com peças identificadas com este motivo, facilmente concluímos que não é.

Por outro lado, e comparando com outras peças com cenas de “TRABALHO AGRÍCOLA”, de um serviço particular, encomendado à FLS por Estêvão António D’ Oliveira, por volta de 1878-1880, também facilmente concluímos que não se trata do mesmo motivo.

Estamos pois perante um motivo ainda não catalogado!

Este motivo apresenta um carro de bois, com seis varais e com uma carga de feno ou milho, provavelmente, puxado por uma junta de vacas (vêem-se as tetas) eventualmente barrosãs (pela exibição dos cornos) com o agricultor, de vara e barrete, em frente às mesmas, mas não se conseguindo descortinar o jugo que alinhava os dois animais pelas cabeças.




Em função do tipo dos meãos das rodas, pode-se considerar que se trata de um carro de bois do Norte de Portugal, do Minho ou mesmo mais do Nordeste, o que vai ao encontro da raça do bovino, identificada.



A outra composição, bucólica e fluvial apresenta um rio, que presumimos ser o rio Douro, com a exibição de quatro barcos rabelos, dois próximos, de fácil percepção e dois mais afastados.




O mais próximo, sem a vela quadrada alçada, apresenta um carregamento de pipas, deitadas no barco, o qual possui dois vultos à frente e quatro atrás que movimentam o remo longo à popa – a espadela, para fazer navegar o barco, provavelmente do Alto Douro, rio Douro abaixo, com destino ao Porto.


O outro barco, um pouco mais afastado, com velas içadas, leva igualmente um carregamento de pipas, com um vulto à frente e três atrás, à espadela.


No horizonte vê-se a silhueta dos montes e no cimo de um,  uma quinta onde se lê “SANDEMAN” e “QUINTA”, a Quinta do Seixo, na margem sul do Rio Douro, no Cima-Corgo, onde se produz o Vinho do Porto, mundialmente conhecido e apreciado, SANDEMAN.



Em suma, trata-se de duas composições que enaltecem o Norte de Portugal, o Rio Douro, o Vinho do Porto e a sua agricultura.


Que motivo será?; “NORTE”?;  “PORTO”; “DOURO”?


FONTES:

1) – “Roteiro das Reservas”, Museu de Cerâmica de Sacavém, de Ana Paula Assunção, Carlos Pereira e Joana Pina, Edição Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – data?;

2) – “Itinerário pela Produção da Fábrica de Loiça de Sacavém”, Museu de Cerâmica de Sacavém, de Carlos Pereira, Joana Pina, Graciete Rodrigues e Feliciano David, Edição Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Julho de 2000;

3) – “Fábrica de Louça de Sacavém – Contribuição para o estudo da indústria cerâmica em Portugal 1856-1974” de Ana Paula Assunção, Colecção História da Arte – Edições INAPA – 1997;

4) – “150 Anos – 150 Peças – Fábrica de Loiça de Sacavém” – Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Março de 2006;

5) – “Dicionário de marcas de Faiança” de Filomena Simas e Sónia Isidro – Edição Estar Editora - Lisboa – 1996;

6) - “Porta aberta às memórias” – 2ª edição, Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Setembro de 2009;

7) – “Porta aberta às memórias” – Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Setembro de 2008;

8) – “Primeiras Peças da Produção da Fábrica de Loiça de Sacavém – O papel do Coleccionador”, Museu de Cerâmica de Sacavém, de Ana Paula Assunção, Carlos Pereira e Eugénia Correia, Edição Museu de Cerâmica de Sacavém – Julho de 2003;

9) – “História da Fábrica de Loiça de Sacavém”, Museu de Cerâmica de Sacavém, de Ana Paula Assunção e Jorge Vasconcelos Aniceto, Edição Museu de Cerâmica de Sacavém – Julho de 2000;

   

domingo, 21 de dezembro de 2014

TAMPA DE TERRINA, EM FAIANÇA AZUL E BRANCA, MIRAGAIA (?)

Como o prometido é devido aqui vai a segunda “prendinha” para os seguidores do nosso blogue, nesta época natalícia, de paz, amizade e confraternização.


Uma interessante tampa de uma terrina, em Faiança Azul e Branca – o que é logo um fascínio, um deslumbramento!

Será Miragaia? Se for é uma maravilha! Um êxtase!

Trata-se de uma tampa de terrina, de forma oval; peça moldada, de encaixe, em cúpula, com pega elevada, em forma de flor.


A decoração é pintada e estampilhada a azul, sobre fundo branco, possuindo dos dois lados da pega uma paisagem tipo oriental, com um edifício composto com vários corpos, o central, mais alto e mais expressivo, encimado por uma cúpula, com zimbório e uma haste com um crescente.


Os restantes edifícios são de menor porte, com telhados de duas águas, enquadrados em vegetação luxuriante tipo oriental.

O edifício maior exibe uma asna triangular e sob a mesma, em zona lateral um arco de volta perfeita.

Sobre a cúpula, sobrevoam duas aves, graciosamente, parecendo interagirem entre si.


Na bordadura da tampa um largo filete na cor azul, e no intervalo entre as duas decorações referidas, um conjunto de cornucópias ou arabescos, espessos e pintados na cor azul.

Na restante área da tampa não decorada estão pintadas o que presumimos serem aves, mas longe, pela sua dimensão relativa.


A pega, em tipo de flor, encontra-se pintada na cor azul.

Têm-se vindo a denominar este motivo como “País”, ou “País Miragaia”, sendo que é inspirado num motivo inglês largamente produzido pela Fábrica Inglesa Herculaneum Pottery.

Peça interessante, que cativa o olhar de um qualquer – é o fascínio da Faiança Azul e Branca, mas que sem carimbo ou marca não permite uma identificação concreta da sua origem fabrico, da fábrica e do período em que foi efectuada.


Apesar de tudo, parece-nos que poderá ser uma Faiança da Fábrica de Miragaia, do seu segundo período de fabricação, 1822-1850.


A assim ser, corresponde ao período de fabricação final de Francisco da Rocha Soares (pai) e à de seu filho, também Francisco da Rocha Soares, em que a produção de peças de faiança, de uso doméstico, imitava, com frequência a decoração da louça inglesa, tão divulgada e valorizada à época.


Eram elementos preponderantes desta decoração, com paisagens estampilhadas na cor azul, os conjuntos edificados, sempre um deles com uma cúpula, a presença de um crescente e o deslumbrante enquadramento de vegetação tipo oriental.


São sem dúvida, estas semelhanças que nos levam a equacionar que a tampa em apreço seja Miragaia, pese embora, a decoração não seja “igual” a outras identificadas e apresentadas em livros que tratam deste tipo de Faianças – mas as semelhanças são muitas.


Pois também poderíamos equacionar ser uma Faiança da Fábrica de Santo António de Vale de Piedade, de Gaia, mas pelo branco da peça e pelos tons de azul inclinamos-nos mais para que seja de Miragaia.




Contudo, efectuada uma aturada análise comparativa com peças de Faiança de Miragaia, com as respectivas marcas, permite-nos identificar as seguintes diferenças: 

         - na presente peça a cúpula é central, nas peças de Miragaia geralmente localiza-se à direita do conjunto edificado;

         - nesta peça o crescente está na haste sobre a cúpula, nas peças de Miragaia, está sobre outro edifício que não possui cúpula, mas geralmente uma torre;

         - a asna triangular localiza-se sob a cúpula, na nossa peça, nas peças Miragaia, localiza-se num edifício lateral à cúpula,

         - os edifícios de menor porte, à esquerda do da cúpula, na nossa peça possuem duas ordens de fenestração, nas peças de Miragaia possuem quatro ou cinco ordens (pisos);

         - na nossa peça, os telhados dos edifícios de menor porte, à esquerda do da cúpula, evidenciam coberturas de duas águas, nos das peças de Miragaia, tal facto não é evidente e por vezes evidenciam quatro águas ou mesmo uma torre;

         - todas as peças de Miragaia rematam inferiormente com uma palma, em leque, a nossa peça apresenta somente uma vegetação rasteira, com um ligeiro esponjado, para além da qual se avistam os edifícios;

         - as peças de Miragaia exibem todas uma palmeira elevada, geralmente ao lado e superiormente à cúpula, a nossa peça não apresenta a palmeira mas árvores de outra espécie;

         - a nossa peça, sob o edifício da cúpula e no seu plano anterior exibe um arco de volta perfeita, e em todas as peças de Miragaia essa situação não ocorre, sendo exibido o que nos parece um relevo ou obstáculo orográfico irregular;

         - o filete de bordadura, azul, que apresenta a nossa tampa de terrina, não é habitual aparecer nas peças classificadas como de Miragaia, conforme marca ou carimbo que possuam;

         - os arabescos ou cornucópias que a nossa tampa possui, também não identificamos em peças de Miragaia…

Então a nossa peça em Faiança Azul e Branca não é de Miragaia, que pena! De que fábrica será?


Mas é linda.

Aqui fica a “prendinha” para todos os seguidores deste blogue ou para os bem-vindos visitantes! 

Comentário de 06.04.2015:

No seguimento de comentário de Luís Montalvão, do blog http://velhariasdoluis.blogspot.pt/

a nossa tampa de terrina é mais uma das muitas peças inspiradas no motivo "País" ou "País de Miragaia", mas que muito provavelmente, tal como já tínhamos concluído, não será fabrico de Miragaia, mas mais uma imitação.

Na Fonte 7, é apresentada mais uma imitação de Miragaia, em que é afirmado "este prato magnífico, que é uma também uma recriação da série País, que a fábrica Miragaia celebrizou entre 1822 e 1850. Lá encontramos o casario com um edifício de cúpula no centro, envolto em arvoredo e a aba com bordadura de flores".

(Prato com o motivo "País" ou "País de Miragaia", imitação ou recriação de fabrico"Miragaia", exibido na Fonte 7)

Para se comparar com uma peça reconhecida como fabrico de Miragaia, aqui fica a imagem da mesma:

(Travessa da série País de Miragaia do Museu Nacional de Soares dos Reis, inv 103 Cer)
(exibida na Fonte 7)

FONTES:

1) – “Faiança Portuguesa Séculos XVIII-XIX”, Colecção Pereira de Sampaio, Editores ACD, 2008.

2) – “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença, 3ª Edição, Lisboa, 1987.

3) – “Faiança Portuguesa – Séculos XVIII-XIX”, de Arthur de Sandão, Livraria Civilização, 2º Volume, Barcelos, 1985.

4) – “Cerâmica Artística Portuense dos Séculos XVIII e XIX”, Vasco Valente, Livraria Fernando Machado – Porto,

5) – “Cerâmica Portuense – Evolução Empresarial e Estruturas Edificadas”, Teresa Soeiro, Jorge Fernandes Lacerda, Silvestre Lacerda, Joaquim Oliveira, Edição Portugália, Nova série, volume XVI, 1995.

6) – “Fábrica de Louça de Miragaia”, Museu Nacional Soares dos Reis, Edição IMC, Lisboa, 2008.

7) - http://velhariasdoluis.blogspot.pt/2010/02/mais-uma-imitacao-da-serie-pais-de.html;