domingo, 15 de fevereiro de 2015

TERRINA, EM FAIANÇA AZUL E BRANCA, DO NORTE? DE MIRAGAIA ?

A vida é feita de uma continuidade de acontecimentos, mais ou menos previsíveis e imprevisíveis, e são estes, especialmente, que nos condicionam e nos limitam na forma de actuar, de existir e viver.

Mas, “só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã, portanto hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver”, como diz Dalai Lama.

E a viver, vamos continuando a ocupar algum do tempo de ócio com uma das paixões que temos, a Faiança, a sua análise, estudo e divulgação.


Hoje apresentamos uma interessantíssima terrina, em Faiança Azul e Branca, muito antiga, já um pouco “desgastada” e “carcomida” pelos anos.


Uma deslumbrante peça em faiança azul e branca, de fabrico … do Norte? Cremos que sim! Fabrico de ???? A grande incógnita. Não teremos a leviandade de sugerir que seja de “Miragaia” ou de “Santo António de Vale de Piedade” ou de “Darque” ou de outra fábrica.


Trata-se de uma terrina, de forma oval; peça moldada, com tampa de encaixe, em cúpula, com pega elevada, em forma de asa.


A decoração é pintada a azul, sobre fundo branco, possuindo a toda a volta e na tampa uma exuberante paisagem tipo oriental, com edifícios composto com vários corpos, o central, mais alto e mais expressivo, todos ao gosto oriental.


A esta decoração têm-se vindo a denominar como o motivo “País”, ou “País Miragaia”, sendo que é inspirado num motivo inglês largamente produzido pela Fábrica Inglesa Herculaneum Pottery.


Terrina interessante, que cativa o olhar de um qualquer – é o fascínio da Faiança Azul e Branca, mas que sem carimbo ou marca não permite uma identificação concreta da sua origem de fabrico, da fábrica e do período em que foi efectuada.


Sob o vidrado de aspecto leitoso e com alguma porosidade apercebemos-nos de uma pasta amarelada, tipo cor de grão, mas que não nos dá mais pistas para além disso mesmo.


Apesar de tudo, parece-nos que poderá ser uma peça fabricada no século XIX, mais provavelmente na primeira metade, pois consideramos que não apresenta semelhanças ou influências do fabrico da Faiança da Fábrica de Miragaia, do seu segundo período de fabricação, 1822-1850. Será mesmo assim?


Os elementos preponderantes desta decoração são as paisagens e os conjuntos edificados, ao gosto e estilo oriental, na cor azul, com linhas que nos podem encaminhar para o motivo “País”, mas numa fase mais primária da sua implementação na faiança em Portugal, sem estampilhagens ou esponjados, mas com a decoração efectuada manualmente, sem recurso a técnicas “especiais”.


A terrina em Faiança Azul e Branca de que fabrico será, então? Miragaia? – não cremos. De que fábrica será?


A incógnita mantém-se, mas a peça em faiança Azul e Branca, vale por si só, mesmo sem se conhecer o seu fabrico.

Para regalo de todos nós aqui fica a apresentação da mesma.

FONTES:

1) – “Faiança Portuguesa Séculos XVIII-XIX”, Colecção Pereira de Sampaio, Editores ACD, 2008.

2) – “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença, 3ª Edição, Lisboa, 1987.

3) – “Faiança Portuguesa – Seculos XVIII-XIX”, de Arthur de Sandão, Livraria Civilização, 2º Volume, Barcelos, 1985.

4) – “Cerâmica Artística Portuense dos Séculos XVIII e XIX”, Vasco Valente, Livraria Fernando Machado – Porto,

5) – “Cerâmica Portuense – Evolução Empresarial e Estruturas Edificadas”, Teresa Soeiro, Jorge Fernandes Lacerda, Silvestre Lacerda, Joaquim Oliveira, Edição Portugália, Nova série, volume XVI, 1995.

6) – “Fábrica de Louça de Miragaia”, Museu Nacional Soares dos Reis, Edição IMC, Lisboa, 2008.


TAMPA DE TERRINA, EM FAIANÇA DE JOSÉ DOS REIS - ALCOBAÇA

“Vão-se os anéis, ficam os dedos”… vão-se as terrinas ficam as tampas!

Hoje apresentamos mais uma tampa de terrina, deveras interessante: pequena, monocromática, na cor vinoso (cor de amora).


Trata-se de uma tampa de terrina, de forma rectangular de cantos arredondados; peça moldada, de encaixe, em cúpula, com pega elevada, de interessante configuração.

A decoração é pintada por estampilhagem e esponjado a cor de amora (vinoso), sobre fundo branco, possuindo dos dois lados da pega uma paisagem tipo “Casario e Árvores”, com um conjunto de edifício, um deles com uma cúpula, possuindo este e outro à sua esquerda, uma mastro com uma bandeira.


O terceiro edifício, de menor porte, com telhados de duas águas, possui um
óculo na empena, estando todos enquadrados em vegetação luxuriante, em que os troncos foram efectuados por estampilhagem, com recurso a “stencil” (chapa recortada) e a folhagem a técnica de esponjado.


Na bordadura da tampa uma cercadura vegetalista estampilhada, assemelhando-se a uma grinalda, terminando junto ao bordo com a aplicação de um esponjado


Trata-se de uma tampa de travessa não marcada, com uma massa de textura fina, de esmaltado leitoso, mais ou menos homogéneo, mas com falhas pontuais do mesmo.


Peça interessante, que cativa o olhar de um qualquer – é o fascínio da Faiança de José dos Reis (dos Santos), de Alcobaça, que mesmo sem carimbo ou marca, permite-nos considerar que será desse fabrico, e do seu período de fabricação, provavelmente, entre 1875 e 1898.


Pela análise da decoração, do tipo de pintura realizada e da comparação efectuada com outras peças, atribuídas a José dos Reis, apresentadas, nomeadamente no livro “ Cem anos de Louça em Alcobaça”, de Jorge Pereira de Sampaio e Luís Peres Pereira (2008), leva-nos a considerar, sem quaisquer dúvidas, ser uma peça de José dos Reis.


FONTES:

1) – “ Cem anos de Louça em Alcobaça”, de Jorge Pereira de Sampaio e Luís Peres Pereira, 2008;

2) – “Faiança de Alcobaça, de 1875 a 1950”, de Jorge Pereira de Sampaio, Estar Editora, Coleção Fundamental, 1997 (?);


3) - “Cerâmica em Alcobaça – 1875 até ao presente: CeRamiCa PLUS” – Galeria de Exposições Temporárias – Mosteiro de Alcobaça; 6 de Abril a 4 de Maio 2011; Município de Alcobaça, 2011.

4) – “Faiança Portuguesa Séculos XVIII-XIX”, Colecção Pereira de Sampaio, Editores ACD, 2008.

5) – “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença, 3ª Edição, Lisboa, 1987.

6) – “Faiança Portuguesa – Seculos XVIII-XIX”, de Arthur de Sandão, Livraria Civilização, 2º Volume, Barcelos, 1985.

7) – “A Loiça de Alcobaça”, de João da Bernarda, Edições ASA, 1ª Edição, Porto - Outubro de 2001.


8) – “A Faiança de Raul da Bernarda & F.os, Lda. – Fundada em 1875 – ALCOBAÇA”, de Jorge Pereira de Sampaio, Edição Particular da Fábrica Raul da Bernarda & F.os, Lda., Alcobaça, Outubro, 2000.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

PRATO COVO EM FAIANÇA DA CERÂMICA ALCOA INDUSTRIAL - ALCOBAÇA

Mais uma apresentação de um prato covo em faiança branca de uma fábrica da região de Alcobaça.


Trata-se de uma peça carimbada, com carimbo circular, na cor verde com a indicação, na coroa circular, de CERÂMICA – ALCOA – INDUSTRIAL e no círculo interior J. R. – Tel. 63165 - ?????????.


Trata-se na verdade de uma outra fábrica de faiança da região de Alcobaça, segundo cremos já extinta, e que se dedicou em meados e finais do século passado ao fabrico de faiança utilitária de uso doméstico, vidrada na cor branca e com decorações semelhantes a outras faianças de outras fábricas, nomeadamente da Fábrica de Loiça de Sacavém.


O presente prato covo, possui no limite da aba e na concordância desta com o covo, um filete fino, a dourado.


A decoração policroma, com o motivo, dito “Pintassilgo”, assemelha-se a motivo idêntico largamente produzido nas décadas de 50 e 60 Pela Fábrica de Loiça de Sacavém.

 


A decoração policromática é constituída por um pintassilgo, com plumagem exuberante, pousado sobre um ramo, com flores rosas e folhas verdes e com outros dois motivos, diferentes, mas semelhantes, de um pequeno ramo com flor e folhas idênticas ao da decoração com o pintassilgo.


Constitui, sem dúvida, uma cópia de motivo e decoração semelhante ao que a Fábrica de Loiça de Sacavém produzia, pese embora com ligeira menos qualidade, mas que a “olho simples” se confundia com a mesma e assim beneficiava comercialmente da fama granjeada pela louça de Sacavém, permitindo a sua inserção no mercado, pese embora de âmbito regional – mais uma vez à volta de Alcobaça, Leiria e pouco mais.

No tardoz do prato, a marca a cor verde, é concludente – faiança da CERAMICA – ALCOA – INDUSTRIAL – J. R. – Tel. 63165 – sem dúvida uma outra Fábrica de Cerâmica de existiu na zona de Alcobaça, entretanto extinta.



Pelas pesquisas efectuadas, concluímos que tratava, provavelmente da Cerâmica Alcoa, Lda, que se dedicava à fabricação de artigos de uso doméstico de faiança, porcelana e grés fino (do seu título constitutivo), possuía o NIPC 500908532, mas que em 18-07-2012 já não existia, o que pressupõe o seu antecipado encerramento.

Mais não conseguimos, mas gostaríamos, pois trata-se de mais uma Fábrica de Cerâmica da zona de Alcobaça que existiu e que se torna relevante a sua inventariação e registo, pese embora de produção com âmbito restrito de comercialização, como cremos.

O motivo ”Pintassilgo” foi algo recorrente e imitado por outras fábricas de faiança, para além da Fábrica de Loiça de Sacavém, vejamos pois o mesmo motivo, desenvolvido quer por esta, qquer por outras:

1- Fábrica de Loiça de Sacavém:



2- Faianças da Pinheira –Aveiro:



Fontes:
1) - https://www.jornaldeleiria.pt/files/_Historia_da_Industria_Ceramica_537cc5fa24cb3.pdf

2) – “Faiança de Alcobaça, de 1875 a 1950”, de Jorge Pereira de Sampaio, Estar Editora, Coleção Fundamental, 1997 (?);

3) – “A Loiça de Alcobaça”, de João da Bernarda, Edições ASA, 1ª Edição, Porto - Outubro de 2001.



segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

PRATO COVO EM FAIANÇA DE ALCOBAÇA – OAL

Quando se fala em Faianças de Alcobaça logo se pensa em peças de decoração, na cor azul e raramente em peças utilitárias, de uso doméstico, em faiança branca.


Tudo a propósito da faiança utilitária de uso doméstico, vidrada na cor branca e com decorações semelhantes a tantas outras faianças de outras fábricas, nomeadamente da Fábrica de Loiça de Sacavém.


Apresentamos um prato covo, de covo acentuado, com aba recortada, reforçada com um filete grosso, a dourado. Possui igualmente outro filete a demarcar o limite da aba para o covo, igualmente a dourado, mais fino e interrompido pela decoração vegetalista da peça.


A decoração policroma com três arranjos vegetalistas diferentes e de tamanhos diversos, com malmequeres azuis e fenos ou parganas amarelas e castanhas, é interessante, e quase que se poderia confundir com algum tipo de faiança da citada Fábrica de Loiça de Sacavém.


Mas voltando ao prato, no seu tardoz, a marca, em tons de azul é inequívoca: OAL – o logotipo da Olaria de Alcobaça, Limitada; inserida numa coroa circular, igualmente azul, com as indicações: OLARIA ALCOBAÇA – ALCOBAÇA.


Esta fábrica laborou entre 1927 e 1984, crendo-se que este tipo de faiança deva ter sido produzido nas décadas de 60 e 70.


Tratava-se de uma faiança simples, para uso doméstico comum, de baixo valor comercial, concorrencial com as demais faianças existentes à época e de implantação regional, em redor de Alcobaça.

Apesar destes factos e dado que constitui um marco diferenciador no fabrico de faianças na região de Alcobaça, numa determinada época, consideramos de realce a sua inventariação e divulgação.


Fontes:

1) - “Cerâmica em Alcobaça – 1875 até ao presente: CeRamiCa PLUS” – Galeria de Exposições Temporárias – Mosteiro de Alcobaça; 6 de Abril a 4 de Maio 2011; Município de Alcobaça, 2011.


3) – “ Cem anos de Louça em Alcobaça”, de Jorge Pereira de Sampaio e Luís Peres Pereira, 2008;

4) – “Faiança de Alcobaça, de 1875 a 1950”, de Jorge Pereira de Sampaio, Estar Editora, Coleção Fundamental, 1997 (?);

5) - – “A Loiça de Alcobaça”, de João da Bernarda, Edições ASA, 1ª Edição, Porto - Outubro de 2001.

6) – “A Faiança de Raul da Bernarda & F.os, Lda. – Fundada em 1875 – ALCOBAÇA”, de Jorge Pereira de Sampaio, Edição Particular da Fábrica Raul da Bernarda & F.os, Lda., Alcobaça, Outubro, 2000.


terça-feira, 27 de janeiro de 2015

TRAVESSA EM FAIANÇA, FABRICO DO NORTE (?); MOTIVO CANTÃO POPULAR, EM TONS DE DOURADO - INVULGAR

É do conhecimento geral o nosso fascínio pela faiança decorada com o motivo “Cantão Popular”, quer pela diversidade da decoração, quer pela incógnita do seu fabrico, quando não marcadas ou pelo desvendar de um novo fabrico, quando marcadas ou mesmo pela cromática aplicada.

Eis senão quando, muito recentemente, nos surgiu pela frente uma invulgar peça com este motivo, a qual passamos a descrever.

Uma travessa em faiança, de cantos arredondados, com aba recortada, em tons dourados – invulgar!

O mais frequente são os tons de azul, azul e preto ou amarelo-ocre e preto.

Cremos tratar-se de um fabrico do Norte, provavelmente do final do século XIX, assemelhando-se um pouco ao que se diz, fabrico “Miragaia”, mas sem certezas….


Os motivos básicos e repetentes deste motivo estão presentes: os dois edifícios (palácios-?) orientais com as suas cúpulas características; as duas ombreiras curvas sobre dois vãos de fenestração no da direita, o maior; a ponte de três arcos; os salgueiros – neste caso de sete ramos; a demais vegetação, as nuvens; os espelhos de água…


A característica cercadura da aba da travessa: um duplo filete, ladeando uma faixa larga, de espaçamento e afastamento irregular – demonstrando de forma indelével a mão e o traço não perfeita do seu artista; a seguinte cercadura com o espinhado pelo exterior, denotando-se, perfeitamente, onde o mesmo começou, com um traço mais grosso e curto e que conforme se iam desenvolvendo continuava por ser mais fino e mais comprido e com uma canelura ondulada pelo interior (no sentido do covo).


Finamente a cercadura da aba termina, já na transição para o covo igualmente com um duplo filete ladeando um faixa larga, tudo na cor dourada.


É na verdade a característica desta cercadura e a sua composição que nos leva a considerar ser uma peça de fabrico do Norte.


Por outro lado, a sua textura, o peso da peça, o traço, o cuidado aplicado no mesmo, conjugado com a imperfeição ou hesitação do artista, para além do tipo da pasta – cor de grão (visível numa das falhas que a travessa apresenta), o tipo de vidrado – leitoso e escorrido, com falhas que exibe, para além da configuração recortada da aba da travessa e da configuração do seu tardoz; no seu conjunto, leva-nos a induzir que o fabrico seja provavelmente do século XIX – será?


Não temos certezas, mas a travessa fascinou-nos!


É a primeira vez que encontramos uma peça em Faiança, com o motivo “Cantão Popular”, na cor dourada.


Aqui fica o seu registo.

FONTES:

1) – “Faiança Portuguesa Séculos XVIII-XIX”, Colecção Pereira de Sampaio, Editores ACD, 2008.

2) – “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença, 3ª Edição, Lisboa, 1987.

3) – “Faiança Portuguesa – Séculos XVIII-XIX”, de Arthur de Sandão, Livraria Civilização, 2º Volume, Barcelos, 1985.

4) – “Cerâmica Artística Portuense dos Séculos XVIII e XIX”, Vasco Valente, Livraria Fernando Machado – Porto,

5) – “Cerâmica Portuense – Evolução Empresarial e Estruturas Edificadas”, Teresa Soeiro, Jorge Fernandes Lacerda, Silvestre Lacerda, Joaquim Oliveira, Edição Portugália, Nova série, volume XVI, 1995.

6) – “Fábrica de Louça de Miragaia”, Museu Nacional Soares dos Reis, Edição IMC, Lisboa, 2008.


7) - http://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/75570/3/72863.1.pdf; (A Fábrica de Louça de Santo António de Vale de Piedade, em Gaia: arquitetura, espaços e produção semi-industrial oitocentista; LAURA CRISTINA PEIXOTO DE SOUSA, 2013).

domingo, 25 de janeiro de 2015

PRATO EM FAIANÇA, DE COIMBRA, SÉCULO XIX, MOTIVO “CASARIO” DOS BRASILEIROS “TORNA-VIAGEM” (?)

Para começar o novo ano, após um interregno forçado, apresentamos um interessante prato, pequeno, em faiança, que presumimos ser de Coimbra, do século XIX, com a decoração “Casario”.


Prato pequeno, mas deveras interessante; com uma reserva central, monocromática, na cor vinoso (cor de amora).

A decoração é pintada por estampilhagem e esponjado na cor de amora (vinoso), sobre fundo branco, possuindo uma paisagem tipo “Casario”, com um conjunto de três edifícios e árvores e elementos vegetalistas a ladear os mesmos.


Os edifícios, os troncos das árvores e o elemento vegetalista foram aplicados por estampilhagem (chapa recortada) e os ramos das árvores e o solo/paisagem de enquadramento foram aplicadas por esponjado.

O conjunto de edifícios, em número de três, ao gosto da época, com dois e três níveis de fenestração, exibem dois, coberturas piramidais e outro uma cúpula.


Estes edifícios eram característicos à época, meados a final do século XIX, existindo vários em Vilas em torno de Coimbra, bem como em diversas Vilas das Beiras, para além das do Norte e Nordeste do País, os quais eram mandados edificar pelos “Torna-Viagem”…

Isto era, os portugueses que regressavam do Brasil, abastados, com características de homem burguês e moderno e que queriam demonstrar essa situação, entre outras exibições, através das edificações que faziam, geralmente mais altas que as existem, com telhados com coberturas piramidais ou em cúpulas.

A estes “torna-viagem”, também lhe chamavam “Brasileiros”, e a sua influência, a nível do edificado em Portugal, também influenciou a cerâmica, e ficou registado para a posteridade, como é o caso do presente pequeno prato.

A arquitectura das edificações destes Brasileiros “torna-viagem” era elegante, inspirada nas casas coloniais vitorianas, com soluções afrancesadas e com alguma influência italiana.

Tal como caracteriza Miguel Monteiro:

A casa do "Brasileiro" de "Torna - Viagem" constituiu uma das representações mais evidentes desse retorno, quer na estrutura e fachada das edificações, quer nas novas demarcações internas, dividindo espaços e pessoas, evidenciando novas hierarquias e novas fronteiras sociais.

As inovações arquitectónicas e decorativas da casa do Brasileiros representam, na maior parte dos casos, uma reprodução ‘desfocada’ de soluções formais de uma arquitectura ‘elegante’ adoptada na construção residencial brasileira a partir de meados do século XIX mercê da actividade de arquitectos e companhias de construção europeias: um modelo onde pontuam influências da casa colonial vitoriana, soluções formais afrancesadas, misturadas com algum revivalismo de cariz italiano".

Nesta perspectiva, as edificações remetem para um quadro de leitura urbana da “Casa” que poderá ser categorizadas em três tipos: o palácio, a casa apalaçada e o palacete.”

Estes Brasileiros “torna-viagem” foram vastamente retratados por Eça de Queiroz, bem como por Camilo Castelo Branco.

São exemplos disso, o “torna-viagem” em “O primo Basílio” (1878), de Eça de Queiroz; o “retornado” Eusébio Seabra em “A Morgadinha dos Canaviais” (1868) de Júlio Dinis; e os vários “brasileiros” em “Eusébio Macário” (1879), em “A Brasileira de Prazins” (1883), “A Corja” (1880), “Os diamantes do Brasileiro” (1869), entre muitos outros romances, todos de Camilo Castelo Branco.

Voltando à peça: trata-se de um pequeno prato não marcado, com uma massa de textura fina, de esmaltado leitoso, mais ou menos homogéneo, mas com alguns escorridos, sob o qual se denota uma massa na cor de grão.


Peça interessante, com decoração relevante, que pelas suas características, nos permite considerar que será fabrico de Coimbra, desconhecendo-se, como sempre, a respectiva fábrica ou cerâmica, e , provavelmente, fabricada entre 1850 e 1890.

Mas certezas absolutas, não as há.


Quer no covo, quer no tardoz deste prato notam-se os três pontos de falhas de vidrado, decorrentes da colocação do mesmo nas trempes, para a vidragem.

Não possui qualquer filete, nem qualquer decoração vegetalista ou geométrica na bordadura do mesmo.

Pelo tipo de decoração, do esponjado e do “casario”, consideramos que não será Alcobaça, fabrico de José dos Reis, mas Coimbra.


Na Fonte 7) encontramos uma tigela com tampa, com uma decoração semelhante, com a indicação:  ”TIJELA COM TAMPA EM FAIANÇA DE FABRICO DO SÉC XIX OU ANTERIOR QUE PODERÁ  SER DE ALCOBAÇA QUE USOU INICIALMENTE ESTE MOTIVO DO CASARIO MONOCROMADO. ALGUMAS FÁBRICAS DO NORTE TAMBÉM USARAM ESTE MOTIVO”.

No entanto, pelo motivo continuamos a considerar como sendo de Coimbra.


FONTES:

1) – “Faiança Portuguesa Séculos XVIII-XIX”, Colecção Pereira de Sampaio, Editores ACD, 2008.

2) – “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença, 3ª Edição, Lisboa, 1987.

3) – “Faiança Portuguesa – Séculos XVIII-XIX”, de Arthur de Sandão, Livraria Civilização, 2º Volume, Barcelos, 1985.