domingo, 19 de julho de 2015

POTE EM FAIANÇA DECORADO COM A CRUZ DE CRISTO DA FCCL


Interessante pote miniatura em faiança, com decoração policromática, com a Cruz de Cristo e demais motivos alusivos as descobrimentos, fabrico da FCCL - Fábrica de Cerâmica Constância da Lapa (?), de Lisboa (?) ou Limitada (?).


Uma pequena peça, com soberba decoração de uma importante fábrica de Cerâmica, por onde passaram ilustres artistas plásticos, decoradores, como Leopoldo Battistini, Wenceslau Cifka, Maria de Portugal, mais propriamente, Albertina dos Santos Leitão, e mais recentemente (final do século XIX), Lima de Freitas, Chartres de Almeida, Luís Pinto Coelho, Francisco Relógio e outros mais.



Esta fábrica foi fundada, segundo consta em 1836 e encerrou definitivamente já no início do actual século, em 2001, a 30 de Novembro, tendo sido dissolvida a respectiva sociedade em Fevereiro de 2008.


A decoração desta peça, bem como a sua composição cromática, evidenciam sem dúvida, influências de Battistini ou mesmo de Maria de Portugal, crendo-se que se trata de uma peça fabricada no final da década de 30 ou mesmo eventualmente na década de 40, possuindo a característica marca a manganés, uma cruz, tendo em cada quadrante, as iniciais F, C, C, L, encontrando-se assinada com a sigla do seu decorador ou pintor J r., que presumimos tratar-se do pintor José (Rosa) Rodrigues, que trabalhava nesta fábrica.


Pequeno pote ou mesmo um pequeno cachepot de boca larga, com um filete grosso a azul forte na mesma, secundado por dois filetes finos na cor manganés.


A decoração à volta do bojo, é constituída por elementos decorativos alegóricos aos descobrimentos, com elementos relembrando o estilo manuelino português, com cores, amarelo, castanho e azul – conjuntos com três bagas de uvas – um simbolismo cristão; possuindo uma Cruz da Ordem de Cristo, vermelha, com um traço inseguro do artista, e por conseguinte, sem geometria.


Junto à base, outro filete, largo, na cor azul, a rematar a decoração do pote.


Trata-se, sem dúvida, de uma peça de rara beleza e significativo valor artístico.


A sua decoração, os tons utilizados e os motivos desenhados, indiciam-nos, inequivocamente, que se trata de uma peça de fabrico da Fábrica Constância.



FONTES:











12) – “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença, 3ª Edição, Lisboa, 1987.


13) – “Faiança Portuguesa – Seculos XVIII-XIX”, de Arthur de Sandão, Livraria Civilização, 2º Volume, Barcelos, 1985.

quarta-feira, 8 de julho de 2015

JARRA DE LOUÇA DE ALCOBAÇA – FABRICO OLAJUL


Estamos numa de Louça de Alcobaça, recordando e enaltecendo o fabrico de uma fábrica que só laborou sete anos, de 1949 a 1955 – a OLAJUL, que começou a laborar no Juncal, tendo cinco anos depois mudado para a localidade da Fervença, vindo a encerrar volvidos dois anos.


Apresentamos uma pequena jarra, bojuda, de boca ondulada, com a típica decoração floral policromática, em tons de amarelo, verde, azul-escuro e lilás, sobre um fundo em tom de azul-claro.



Na base dois filetes em tom de azul-escuro, uma mais larga e outro mais estreito, rematados com uma fiada de contas.



A bordadura da boca, ondulada, possui uma decoração em azul-escuro e com o habitual espinhado, quer interior, quer exteriormente.



No fundo, a marca manual, de perfeita identificação da peça: “OLAJUL”, “R.S.R.”, “ALCOBAÇA”, “PORTUGAL”, o número de catálogo da peça “202” e a sigla do seu decorador/pintor, do artista “AG”.


Aqui fica a peça apresentada.




Para mais conhecimentos:



terça-feira, 7 de julho de 2015

FRUTEIRO DE LOUÇA DE ALCOBAÇA – FABRICO OLAJUL

Continuando com a apresentação da Louça de Alcobaça, agora de uso comum, utilitário, apresentamos um interessante fruteiro, de produção da fábrica OLAJUL.


Peça vazada, com interessante forma, de aba recortada, em lobos, com soberba decoração em cores fortes, com tons de amarelo, vermelho, azul, verde e roxo ou lilás, sob um fundo ou base em tom de azul claro.


Os lobos da aba são decorados de forma alternada em monocromia ou em policromia, cujos motivos florais, se desenvolvem da aba para o covo, no qual existe uma pequena decoração monocromática em tom de azul, forte.














A bordadura recortada da aba possui em decoração em bicos, em tons de azul forte.


No centro do frete de tardoz – o apoio do fruteiro, possui a marca manuscrita “OLAJUL”, “ALCOBAÇA”, “PORTUGAL”, o número de catálogo da peça “202” e a sigla do seu decorador/pintor, do artista “P.S.R.” ou “R.S.R.”.


Pela falta de vidrado no frete consegue-se detectar perfeitamente a pasta usada, na cor de grão e não branca, o que evidencia uma composição de várias argilas, com alguma introdução de argilas vermelhas.




1) Contando um pouco de história:
A fábrica OLAJUL foi fundada em 1949 por José Pedro e seus filhos, Silvino Ferreira Pedro e José Joaquim Pedro, na localidade de Juncal.

Refira-se que José Pedro foi um dos mais influentes e importantes pintores da OAL – Olaria de Alcobaça, Lda., onde também os seus filhos trabalhavam, como aprendizes.


José Pedro aprendeu a arte com o seu pai na pequena fábrica que este possuía na localidade de Juncal, tenho depois trabalhado na fábrica de Manuel Ferreira da Bernarda, de onde é aliciado pelo filho de Manuel da Bernarda, Silvino da Bernarda para ir trabalhar para a empresa que este tinha constituído, a citada OAL.

José Pedro permaneceu na OAL até 1947, indo se seguida trabalhar para a Estatuária Artística de Alcobaça, Lda., com sede em Maiorga, onde trabalhou até 1949, saindo desta para criar a citada OLAJUL.

Alguns anos volvidos, em 1953, a OLAJUL, instala-se na localidade de Fervença nas instalações da Estatuária Artística de Alcobaça, entretanto encerrada, por falência.


A OLAJUL labora até 1955, ano em que os seus proprietários, pai e dois filhos, alteram o pacto social e Silvino Ferreira Pedro e José Joaquim Pedro, fundam a fábrica Pedros, Lda., a qual acompanhou o ímpeto após guerra, a melhoria do poder de compra e o gosto pela Louça de Alcobaça, provavelmente pela renovação e pelas novas decorações nas peças.

Esta fábrica Pedros, sob a orientação de Silvino Ferreira Pedro viria a laborar até 1980, ano em que encerrou.


Em suma, a produção da fábrica OLAJUL está perfeitamente definida entre os anos de 1949 e 1955, ou sejam somente sete anos de produção, situação que mais valoriza as peças e a louça produzida nesta fábrica.

Por outro lado e sob a influência de Silvino Pedro já eram evidentes as evoluções a nível do design e das formas das peças, na senda de novos modelos e de criações próprias, fugindo aos habituais modelos, repetitivos e já cansados.


2) Caracterizando a Louça de Alcobaça:

A Louça de Alcobaça é perfeitamente identificada e reconhecida  através da sua cor e da sua decoração. Pela cor, pelo fundo ou base predominante azul claro e pela demais cor: tons de amarelo, verde, encarnado e roxo ou violeta. Pela decoração, com os seus motivos florais, com alguma base na tradição da produção de louça coimbrã, pintada ou estampilhada.


O azul sempre foi a cor predominante da louça regional de Alcobaça - que ainda actualmente é produzida em algumas fábricas, mas já sem as tonalidades características dos fornos de lenha e caruma, que durante várias décadas do século passado foram utilizados, pois que nos anos cinquenta e sessenta, foram substituídos por outros, eléctricos e de nafta, tendo-se perdido as cores fortes de então e a “patine” que as peças de Louça de Alcobaça tinham.

Agora, as cores e as suas tonalidades são mais suaves, esbatidas, baças – o “resultado” do progresso!


3) À laia de conclusão:

A louça de Alcobaça, desta fábrica, da OLAJUL, reveste-se de particular interesse, pois representa a genuína Louça de Alcobaça, cuja produção se resumiu a sete anos de produção, de 1949 a 1955, a partir da qual e na sua evolução, se começou a fabricar, sob a designação de Pedros, pese embora os mentores e proprietários fossem quase os mesmos, da mesma família.


Digamos que a OLAJUL representa o início da massificação da típica Louça de Alcobaça, com a constante de tons nas suas decorações e arranjos florais sob um fundo geralmente em tom de azul claro.




FONTES:

5) – Bernarda, João da; “A Loiça de Alcobaça”, Edições ASA, 2001
7) – “História da Industria na Região de Leiria – Cerâmica”, edição do Jornal de Leiria, edição de 22.05.2014


domingo, 5 de julho de 2015

PRATOS RENDILHADOS DE PENDURAR DA VESTAL


É grande a nossa admiração pela Louça decorativa de Alcobaça, em especial a que foi produzida pela fábrica VESTAL ou inicialmente VISTAL, situada na localidade de Vestiaria e que tão bela e de excepcional decoração policromática sobre fundo azul claro, produziu.


Hoje apresentamos dois belos e soberbos pratos rendilhados, de pendurar, com interessantíssimas decorações florais, policromáticas, no covo dos mesmos e com cercaduras de voluptas a delimitar a separação entre o covo e a aba rendilhada.


No primeiro o rendilhado da aba é feito a base de triângulos e configurações reniformes, que foram subtraídas à mesma, com pequenas decorações florais entre as mesmas e com decorações na cor roxa, junto à bordadura, com 5 bicos, terminando a bordadura com um largo filete em azul muito forte.






No segundo prato, o rendilhado da aba é feito à base de orifícios circulares, uma fiada de menos diâmetro junto à separação da aba do covo e outra de maiores círculos, junto à bordadura da aba, com uma decoração simples, harmoniosa e interessante: um rendado que circunda todos os orifícios e umas pintas avermelhadas, demarcando os espaços entre o arrendado.


O primeiro prato possui no tardoz, ao centro do frete, que possui quatro orifícios para passar o cordel ou o arame para o pendurar a seguinte marca “VESTAL”, “ALCOBAÇA”, “PORTUGAL”, a sigla do artista decorador “JL” e o número de catálogo da peça 601.



O segundo prato, que presumimos de produção mais recente que o primeiro, possui igualmente, ao centro do frete, quatro orifícios para passar o cordel ou o arame para o pendurar a seguinte marca “VESTAL”, “ALCOBAÇA”, “MADE IN PORTUGAL”, a sigla do artista decorador “LD” e o número de catálogo da peça 1045.



Aqui ficam apresentadas mais duas belas peças, para o regalo de todos nós, amantes das Faianças e em particular da louça de Alcobaça.





FONTES:

1) - “Cerâmica de Alcobaça, Duas Gerações”, edição do Museu de Alcobaça, 1992, texto de Jorge A. F. Ferreira Sampaio e Raul J. Silveira da Bernarda.

2) – “Cerâmica em Alcobaça – 1875 até ao presente”; exposição de 6 Abril a 4 de Maio 2011 – Catálogo da exposição, coordenador: Luís Afonso Peres Pereira.

3) – “História da Industria na Região de Leiria – Cerâmica”, Edição Jornal de Leiria, revista integrante da edição n.º 1558, do Jornal de Leiria, em 22.05.2014.



sábado, 4 de julho de 2015

LINDA TAÇA TRIPÉ OAL – OLARIA DE ALCOBAÇA, LDA.

Linda taça, de bordadura gomada, de covo acentuado, com tripé de apoio, decorada também pelo tardoz, com decoração dita de Louça (artística) de Alcobaça, em que o azul era a cor predominante com marca manual “OAL”, “ALCOBAÇA” e “M” – a identificação da artista, a “Maria”, do acabamento.

(A taça - vista geral de frente)
(A decoração floral central)
(A tripla decoração floral lateral e a decoração de bordadura em azul forte)
(A taça vista de tardoz, decorada com um triplico arranjo floral e o tripé de apoio)
(A marca no tardoz: OAL, ALCOBAÇA e a sigla M)


1. Um pouco de história da OAL:

A propósito da OAL – Olaria de Alcobaça, Lda. e historiando um pouco, há a recordar que a mesma foi fundada em 1927, por Silvino Ferreira da Bernarda, um dos seis filhos de Manuel Ferreira da Bernarda, António Vieira Natividade e seu irmão, professor, Joaquim Vieira Natividade, e veio a encerrar em 1984.

Começou a laboração com seis operários e tinha como meios de produção: dois fornos, oito rodas de oleiro, um moinho de bolas para moer vidro e um motor de combustão interna de um cavalo de força.

Desde o início da sua actividade, que se dedicou ao fabrico de louça utilitária, de uso doméstico, produzindo peças que replicavam o estilo Coimbrão.

As peças eram decoradas pela técnica da estampilha, bem como pela pintura à mão ou então pelos dois processos em simultâneo.

Por volta de 1928 a fábrica OAL dá início à produção de várias réplicas de louça antiga.
 
(O logótipo da Fábrica na Fachada Principal)
Em 1935, época em que produziu com qualidade, apresenta algumas das suas melhores peças na exposição "Lisboa Antiga" e executa a sua centésima fornada.

Consta que por volta de 1939 ingressam as primeiras mulheres no quadro do pessoal da fábrica, para a secção do acabamento (pintura), como aprendizes – as denominadas serventes.

Em 1944 procede-se à instalação de um terceiro forno para possibilitar o aumento da produção e a partir de 1946 ocorre a fase de maior comercialização, a par com o aumento das exigências de mercado que provocaram a necessidade de transformação dos processos fabris.

Adoptou-se a faiança de pasta branca e a progressiva mecanização das instalações, com a consequente redução da mão-de-obra.

Por volta de 1947 na fábrica trabalhavam cerca de quarenta operários.
 
(A peculiar fachada da fábrica com o seu logótipo)
No ano seguinte (1948) procede-se à ampliação da fábrica bem como à alteração do seu processo produtivo, em que o barro, a matéria-prima principal, é substituído pelo pó de pedra (pasta branca) e em que a pintura é aplicada sobre a chacota cozida sendo posteriormente vidrada.

Em 1959 procedeu-se à construção de novo edifício e à alteração dos existentes, adaptando-se às necessidades e aos novos processos de produção.
 
(A austera imagem da fachada lateral da fábrica)
João da Bernarda aplicou nesta fábrica os ensinamentos estéticos de cerâmica artística, aprendidos em Paris, e inicia uma linha de peças decorativas, que foram expostos na 1ª Feira Industrial de Lisboa. As  peças expostos vieram a distanciar-se claramente do protótipo português e popular, bastante diferente do que era a designada “loiça de Alcobaça”.

Na década de 60 foi influente e preponderante a intervenção de Mário Tanqueiro, na contratação e gestão do pessoal, o qual viria mais tarde, no final dessa década a intervir na então criada SPAL – Sociedade de Porcelanas de Alcobaça, Lda., em que a OAL foi uma das empresas fundadoras da mesma.

Nas décadas seguintes, a produção começa a reduzir-se e a fábrica começa a definhar, vindo a encerrar definitivamente em 1984.



2. A Localização da OAL:

Situava-se próximo do Rio Côa, junto à sua margem direita e estava implantada no perímetro da antiga cerca conventual do Mosteiro de Alcobaça.

Estava implantada próximo de um edifício de construção recente (um hotel), e em que o seu alçado lateral esquerdo estava delimitado por um arruamento de acesso à urbanização do Lameirão.

Por outro lado, o alçado a tardoz (posterior) desenvolvia-se em paralelismo com a margem direita do rio Alcoa, a uma distância de cerca de 200 metros, sendo que a sul, se situava o Mosteiro de Alcobaça.

Na verdade, era um edifício característico, em especial a sua fachada, sendo que foi o primeiro edifício fabril deste género em Alcobaça e por onde passaram gerações de trabalhadores, alguns a sua vida inteira de trabalho.



3. O que fabricava a OAL:

Desde o seu início de fabricação que foi uma fábrica inovadora, quer no seu processo produtivo, quer nos motivos decorativos.

No que se refere ao processo produtivo, criaram (réplicas) peças tendo como base a inspiração na cerâmica portuguesa dos séculos XVII, XVIII e XIX, recorrendo ao desenho de peças existentes nos museus e até mesmo em colecções particulares.
 
(Prato monocromático azul inspirado em modelo do século XVII)
 (Peça do Museu Nacional do Azulejo)

(Pratos pintados a azul e manganês, com motivos inspirados na cerâmica do século XVII de Lisboa. Com sigla de José Pedro e António da Natividade)
(Apresentados no documento: Museu Nacional do Azulejo (2001) - Cerâmica de Alcobaça de João da Bernarda (1875-1947)
(Jarra rodada pintada na cores azul, manganês e amarelos, inspirada em motivos na Cerâmica do século XVIII, com sigla de Alberto Anjos)(Apresentada no documento: Museu Nacional do Azulejo (2001) - Cerâmica de Alcobaça de João da Bernarda (1875-1947)
(Canudos, pintados na cor azul e manganês; e azul amarelo, verde e manganês, ambos com a sigla José Pedro - Período 1927-1947)(Apresentados no documento: Museu Nacional do Azulejo (2001) - Cerâmica de Alcobaça de João da Bernarda (1875-1947)
Em relação aos motivos decorativos, foi frequente o uso de figuras humanas e de quadras, de inspiração pura coimbrã – louça ratinha – loiça ratinha – assim denominada por ser vendida a preços módicos aos trabalhadores das Beiras, que se deslocavam sazonalmente para o sul do país para auxiliarem nas actividades agrícolas - com origem em Coimbra, com grande circulação em finais do século XIX e início do século XX, dará origem a peças de gosto e manufactura popular de poderosa expressividade– fonte 7).

Na verdade esta fábrica iniciou um autêntico período de renovação da produção cerâmica, tendo provocado a requalificação técnica e artística da cerâmica, quer com cópias de peças antigas, quer com apostas em  peças modernistas, especialmente até 1947. 

Na verdade, na década de 1930 e nos primeiros anos de 1940, as peças da Olaria de Alcobaça tiveram muito sucesso junto dos mercados brasileiro e americano, começando a declinar a partir de 1948, quando as imposições dos compradores prevaleciam, não se impunham modelos estéticos com qualidade e a degradação da fábrica iniciava-se. 

Um dos factores para a renovação da produção cerâmica, foi o surgimento das peças de autor.

O pintor naturalista Martinho da Fonseca (1890-1972)  e o aguarelista Jorge Maltieira  (1908-1994), foram os primeiros a assinar as suas peças. Mais tarde outros pintores de cerâmica também assinaram as suas peças, como: Joaquim Natividade, Irene Natividade, Leonor Natividade, José Pedro, Silvino da Bernarda, Alberto Anjos, Arnaldo Marques e Noel Costa. 

(Jarra rodada com pintura policroma a azul, manganês, amarelo e verde, com sigla de Noel Costa, depois de 1935)(Apresentada no documento: Museu Nacional do Azulejo (2001) - Cerâmica de Alcobaça de João da Bernarda (1875-1947)
(Jarra rodada com pintura monocroma a manganês, com sigla de Alberto Anjos)(Apresentada no documento: Museu Nacional do Azulejo (2001) - Cerâmica de Alcobaça de João da Bernarda (1875-1947)

É frequente a representação denominada "compota de ginjas", pratos decorados com “rendas” e corações trespassados.

(Saladeira montada com decoração policroma a azul, verde e manganês, com inspiração na cerâmica lisbonense do Monte Sinai)(Apresentada no documento: Museu Nacional do Azulejo (2001) - Cerâmica de Alcobaça de João da Bernarda (1875-1947)

Outras peças, também pintadas a azul e branco, apoiaram-se em modelos cerâmicos de finais do século XVII e inícios do século XVIII, produzidos em Lisboa, os quais possuíam cercaduras de acanto e cenas centrais com veados, cães e paisagens com motivos arquitectónicos.

(Prato com decoração pintada e esponjada, nas cores azul, amarelo e manganês, inspirada na loiça "ratinha" de Coimbra)  (Apresentado no documento: Museu Nacional do Azulejo (2001) - Cerâmica de Alcobaça de João da Bernarda (1875-1947)

Algumas das peças iniciais da Olaria de Alcobaça, da dita de cerâmica ornamental, indiciavam já para uma renovação na forma e no tipo de peças - jarras, potes, bases de candeeiros, pratos decorativos; bem assim como na temática decorativa, naturalista, com fantasiosas elaborações de desenho.

(Tinteiro em faiança moldada com pintura policromática, a azul, amarelo e manganês)(Apresentado no documento: Museu Nacional do Azulejo (2001) - Cerâmica de Alcobaça de João da Bernarda (1875-1947)
As formas eram bastante simplificadas, com volumes esféricos e cilíndricos, e até volumes rectos, prismáticos e piramidais.

A decoração era envolvida por motivos vegetalistas, em registos naturalistas, preenchendo a quase totalidade das peças ou delimitando-as em barras bem traçadas, separadas pela intensa policromia aplicada ou pela escala dos motivos. 
(Cajirão em faiança rodada, com decoração policromática nas cores azul, verde, amarelo e manganês, com a sigla de José Pedro)(Apresentado no documento: Museu Nacional do Azulejo (2001) - Cerâmica de Alcobaça de João da Bernarda (1875-1947)
Como matéria-prima principal utilizaram o barro dos Capuchos, que após a cozedura ficava com um característico aspecto rosado; o qual mais tarde foi substituído por pasta branca calcítica.

Na decoração a cor predominante era o azul, num tom suave, em toda a peça, constituindo assim a sua “base” e a restante decoração em tons de azul mais forte, para além dos amarelos, amarelos-torrados, vermelhos, verdes e outras cores compostas.

(Prato com decoração policromática, motivo floral - Fonte 5)

Os motivos das decorações eram essencialmente florais, com interessantes arranjos policromáticos, que geralmente se repetiam na peça, em função da sua configuração.

Numa fase posterior fabricou também peças em que deixou de ser aplicada a cor azul, mas outras, sendo usada a cor creme para base de toda a peça e dourados, em especial no motivo ATHENA.

(Jarra com decoração ATHENA - Fonte 5)

Os pratos decorativos, de pendurar, recortados ou reticulados constituíram também peças muito recorrentes e interessantes, muitos deles com as célebres quadras.

(Prato recortado, com quadra e decoração policromática - Fonte 5)

Tanto nestas peças como noutras, tais como nos fruteiros, a pintura era sempre manual, sob o vidrado, com motivos florais ou vegetalistas, com recurso aos azuis fortes – a azul-cobalto.

(Fruteiro recortado ou rendado, com decoração policromática - Fonte 5)
Tal como já se disse, no período final da produção da OAL, foram produzidas outras peças, com forma e decoração muito diferente do seu habitual, característico das décadas de 30 e 40 do século passado. Vejam-se alguns exemplos:

- Jarra bojuda de base creme cm filetes dourados e decorações florais, sob o tema de groselha, com ramos, folhas e frutos, pintados nas cores verde-seco e castanho, sob o vidrado, com retoques a dourado sobre o vidrado.

(Jarra bojuda, rodada, com decoração policromática - Fonte 5)
Este tipo de decoração evidencia claramente a adaptação da produção da fábrica às exigências do mercado, em especial o de exportação, mantendo, contudo uma decoração manual especializada; a qual foi gradualmente abandonada ao longo do tempo e que provavelmente também contribuiu para o declínio e encerramento desta fábrica.


Nas décadas de 60 e 70, e mais uma vez indo ao encontro das exigências de mercado, ao gosto à época e ao tentar vender o que seria fácil, com o aproveitamento de peças semelhantes da concorrência, também produziu peças fora da decoração habitual desta fábrica, como é o caso da chávena e pires que se apresenta de imediato:
 
(Chávena e pires com decoração floral estilizada policromática - Fonte 5)
Com recurso a uma decoração simples, tipo borrão e revivalista, com cores fortes e quentes.

Deve-se a Ferreira da Silva, em parte a inovação havida nas formas, com a execução de peças criativas em rotura com a produção corrente das fábricas de cerâmica.


4) Outras peças nossas já catalogadas:

Provavelmente das décadas de 40 ou 50, ou mesmo do início dos anos 60, outras peças que caracteriza a produção desta fábrica, a sua evolução e adaptação aos tempos, são algumas que já foram apresentadas e que reproduzimos aqui:

- Taça em faiança “Lembrança Praia Monte Gordo):

(Taça com decoração de "Lembrança" - Fonte 8)
- Pequeno prato com decoração “Saloia”:
 
(Pequeno prato com decoração policromática, motivo regional "Saloio" - Fonte 8)
- Prato covo com decoração floral:

(Prato covo, com decoração policromática, motivo floral - Fonte 8)
Exibimos também uma pequena tacinha gomada e de bordadura recortada, com decoração policromática de motivo floral, provavelmente dos anos 30:




5: O que restava em 2011 da OAL:

Em finais de 2011, o que restavam da fábrica da OAL é o que se exibe:

 
(Enquadramento da Fábrica da envolvente edificada)

 
(A carismática e austera fachada da fábrica)
 
(O interior da fábrica deplorável!)

6. Em jeito de conclusão:

A inventariação e apresentação de mais uma interessante peça de faiança, esta o tipo de Louça de Alcobaça, mais propriamente da OAL – Olaria de Alcobaça, Lda., foi o mote para uma breve apresentação desta fábrica e do seu fabrico.


Fabrico esse que teve uma significativa evolução ao longo do tempo, apresentando períodos perfeitamente distintos, em termos de qualidade, de decoração, com a continuada redução da mão-de-obra, e a consequente desvalorização das respectivas peças, deixando a louça artística e enveredando pela louça utilitária, de uso doméstico, mais pobre e menos elaborada na decoração.

(A aba recortada, com a decoração espinhada em azul forte e a decoração floral policromática)


De algo modo ilustra o percurso de outras fábricas de faiança existentes no século passado e que vieram a encerrar no final do mesmo ou no início do actual século, por não terem conseguido se adaptar à evolução, aos hábitos de consumo e às diversas concorrências havidas, de outros materiais, de fabricos de outros países, de outros meios de comercialização, entre outras mais.

(O tardoz da peça, com um dos tripés, a marca e a sigla do autor da decoração)


FONTES:









9) - “Cerâmica em Alcobaça – 1875 até ao presente: CeRamiCa PLUS” – Galeria de Exposições Temporárias – Mosteiro de Alcobaça; 6 de Abril a 4 de Maio 2011; Município de Alcobaça, 2011.

10) – “ Cem anos de Louça em Alcobaça”, de Jorge Pereira de Sampaio e Luís Peres Pereira, 2008;

11) – “Faiança de Alcobaça, de 1875 a 1950”, de Jorge Pereira de Sampaio, Estar Editora, Colecção Fundamental, 1997 (?);

12) – “A Loiça de Alcobaça”, de João da Bernarda, Edições ASA, 1ª Edição, Porto - Outubro de 2001.


13) – “A Faiança de Raul da Bernarda & F.os, Lda. – Fundada em 1875 – ALCOBAÇA”, de Jorge Pereira de Sampaio, Edição Particular da Fábrica Raul da Bernarda & F.os, Lda., Alcobaça, Outubro, 2000