terça-feira, 8 de dezembro de 2015

MAIS UM PRATO DA CERÂMICA OAL - ALCOBAÇA

Apresentamos mais uma peça em Faiança, peça utilitária, de uso doméstico, da OAL – Olaria (de) Alcobaça, Limitada, com decoração vegetalista sóbria, policroma; motivo repetido três vezes na aba do prato, entre os dois filetes na cor verde seco que o delimita.


(Prato em Faiança da OAL)

A decoração policroma com três arranjos vegetalistas iguais, aparentando margaridas ou camomilas, com pétalas vermelhas escuras, bolbo, ramos e folhas na cor verde seco, é corrente à época, e quase que se poderia confundir com algum tipo de faiança da Fábrica de Loiça de Sacavém.
 

(Prato em Faiança da OAL - pormenor da decoração vegetalista)

No tardoz do prato, é exibida a marca, em tons de verde seco, inequívoca da OAL – o logotipo da Olaria de Alcobaça, Limitada; inserida numa coroa circular, igualmente verde, com as indicações: OLARIA ALCOBAÇA – ALCOBAÇA.
 
(Prato em Faiança da OAL - pormenor do tardoz)
Como sabemos esta fábrica laborou entre 1927 e 1984, tendo-se como dado adquirido que este tipo de faiança deva ter sido produzido nas décadas de 60 e 70, já na parte final da laboração da fábrica.
 
(Prato em Faiança da OAL - pormenor do carimbo)
Tratava-se de uma faiança simples, para uso doméstico comum, de baixo valor comercial, concorrencial com as demais faianças existentes à época e de implantação regional, na periferia de Alcobaça.
 
(Prato em Faiança da OAL - pormenor do carimbo)
Consideramos que é importante divulgar e catalogar as peças de faianças fabricadas na região de Alcobaça, na época referida, pois constituem e definem uma diferenciação da tradicional louça azul de Alcobaça.


(Prato em Faiança da OAL - motivo vegetalista policromático)


Fontes:

1) - “Cerâmica em Alcobaça – 1875 até ao presente: CeRamiCa PLUS” – Galeria de Exposições Temporárias – Mosteiro de Alcobaça; 6 de Abril a 4 de Maio 2011; Município de Alcobaça, 2011.


3) – “ Cem anos de Louça em Alcobaça”, de Jorge Pereira de Sampaio e Luís Peres Pereira, 2008;

4) – “Faiança de Alcobaça, de 1875 a 1950”, de Jorge Pereira de Sampaio, Estar Editora, Coleção Fundamental, 1997 (?);

5) - – “A Loiça de Alcobaça”, de João da Bernarda, Edições ASA, 1ª Edição, Porto - Outubro de 2001.

6) – “A Faiança de Raul da Bernarda & F.os, Lda. – Fundada em 1875 – ALCOBAÇA”, de Jorge Pereira de Sampaio, Edição Particular da Fábrica Raul da Bernarda & F.os, Lda., Alcobaça, Outubro, 2000.


segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Prato Raso das Faianças de São Roque – Aveiro


Apresentamos mais um prato raso em Faiança, com decoração vegetalista simples, repetitiva, policromática, entre dois filetes, na aba do prato, e junto à sua bordadura da Fábricas das Faianças de São Roque, de Aveiro.
 

(Prato da Fábrica de Faiança de São Roque - Aveiro)
A fábrica Faianças de S. Roque foi fundada em 1955 pelo ceramista João “Lavado” – João Marques de Oliveira, então já sócio da Fábrica de Louças e Azulejos de S. Roque, e dedicou-se exclusivamente à produção de louças decorativas e utilitárias, e foi, a continuidade da anterior.

Em 1971 realizou-se em Aveiro uma exposição de cerâmica comemorativa do XV Aniversário das “Faianças S. Roque”, o que veio atestar a data da sua fundação e a importância que a mesma teve à época e no meio das Artes Decorativas – Faianças.

A louça produzida nesta fábrica foi diversificada, conforme foi caracterizada no blogue velhariastralhasetraquitanas.blogspot.pt, na postagem na postagem “Prato das Faianças de S. Roque – Aveiro”.
 

(Prato das Faiança de São Roque - Aveiro . Pormenor da decoração vegetalista)
Entre os diversos tipos ou linhas de peças produzidas nesta fábrica há a considerar uma linha com decoração e composições florais simples aplicada dos covos ou nas abas dos pratos, travessas e saladeiras, policromáticas e com filetes delimitadores da aba. É nessa linha que se insere o preto qua apresentamos.



(Prato das Faiança de São Roque - Aveiro . Pormenor do tardoz)
A marca característica desta fábrica são os carimbos de forma circular, tendo no centro a representação da cabaça com ou sem o bastão, insígnias de S. Roque e na coroa exterior tem inscrito "Faianças de S. Roque, Lda - Aveiro". 
 

(Prato das Faiança de São Roque - Aveiro . Pormenor do Carimbo)

A marca circular, na cor verde, identifica de forma inequívoca o respectivo fabrico – Faianças de S. Roque.
 

(Prato da Fábrica de Faiança de São Roque - Aveiro)
Em suma, trata-se de um prato utilitário, de uso comum, dos meados do século passado, décadas de 40 ou 50; peça de referência, de faiança corrente, económica e de uso corrente nas famílias pobres dos meios urbanos da região entre Coimbra e o Norte, mas com maior incidência na de Aveiro.


Fontes:












Prato da Fabrica de Louça de Sacavém – motivo “LEQUES”


(Prato da FLS - Motivo LEQUES)

A faiança da Fábrica de Louça de Sacavém não nos deixa de surpreender continuamente, pois cada dia aparece mais uma peça, com um motivo desconhecido e com uma aparência, que caso não fossem as marcas não se desvendava facilmente a sua origem.


(Pormenor da decoração principal - Motivo LEQUES)

Tudo isto a propósito do prato raso que apresentamos: pela aparência, textura, cor e motivo nos levava a encaminhar para um fabrico da Fábrica de Louça de Alcântara, da faiança dita “à Ingleza”.


(Prato da FLS - Motivo LEQUES - tardoz )

Quando na realidade se trata de uma peça da Fábrica de Louça de Sacavém, do período de 1865-1870, devido ao carimbo na cor sépia, correspondente a esse período (da Real Fábrica), para além da gravação na massa da marca correspondente ao período de 1880-1885, e ainda um símbolo marcado também na massa – uma estrela.


(Prato da FLS - Motivo LEQUES - tardoz- Carimbo e Marcas )


(Prato da FLS - Motivo LEQUES - tardoz- Carimbo da Real Fábrica 1865-1870 )

(Prato da FLS - Motivo LEQUES - tardoz- marcas do período de 1880-1885 (?) )

Pela decoração que apresenta, cuja composição maior, que preenche a ba e parte do covo, com canas de leitos de água são exibidos dois leques, um com folhas de nenúfar e outro com um ganso, na água com exuberante vegetação aquática a tardoz do mesmo.


(Prato da FLS - Motivo LEQUES - pormenor) 

A decoração deste prato completa-se com mais duas composições mais pequenas, uma com trancas laçados e um elemento floral e outro com trancas pregados e também com um elemento floral entre as trancas.


(Prato da FLS - Motivo LEQUES - pormenor  de decoração secundária) 


(Prato da FLS - Motivo LEQUES - pormenor  de decoração secundária)
Foi a fonte (2), que em primeira mão me permitiu desvendar este motivo, através de uma travessa rectangular oitavada que apresentou, na qual o motivo estava identificado abaixo da marca “LEQUES”.


(Travessa da FLS - Motivo LEQUES - peça que permitiu identificar o motivo da nossa - Fonte 6)

Trata-se na verdade um motivo pouco usual, muito antigo, e provavelmente para rivalizar com o motivo de igual nome que era produzido pela Fábrica de Louça de Alcântara.


(Prato da FLS - Motivo LEQUES) 


Fontes:

1) – “Fábrica de Louça de Sacavém – Contribuição para o estudo da indústria cerâmica em Portugal 1856-1974” de Ana Paula Assunção, Coleção História da Arte – Edições INAPA – 1997;

2) – “150 Anos – 150 Peças – Fábrica de Loiça de Sacavém” – Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Março de 2006;

3) – “Porta aberta às memórias” – Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Setembro de 2008;

4) - “Porta aberta às memórias” – 2ª edição, Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Setembro de 2009;

PRATO EM FAIANÇA, MOTIVO “CAVALINHO” - VERSÃO POPULAR – DE AVEIRO (?)


Prato Motivo Cavalinho, ao gosto popular - Aveiro (?)
Interessante prato em faiança, de fabrico desconhecido, monocromático, azul, com decoração central no covo com o motivo, vulgarmente designado por “Cavalinho”, com decoração pincelada, em bicos, na bordadura da aba, em azul, e com filete separativo da aba para o covo, igualmente na cor azul.


Pormenor da decoração no covo do prato - a chapa e esponjado


A decoração central do covo do prato é estampilhada, com recurso a “chapa” ou a “stencil” recortado, nos elementos decorativos: coluna, cavalo, cavaleiro, torre (castelo) e o ornato floral sob o cavalo e cavaleiro. A folhagem da árvore e o enquadramento do solo são motivos esponjados.  

Pormenor da decoração no covo do prato - a chapa e esponjado

Trata-se uma versão popular do motivo “Estátua”, ou seja o popular “Cavalinho” com recuso a dois métodos diferentes de pintura: estampagem, e esponjado.
Pormenor da decoração da bordadura da aba com bicos
Trata-se de uma popular imitação do motivo original, ao gosto do decorador (pintor) do mais vulgar motivo da Fábrica de Louça de Sacavém, bem assim como de outras fábricas nacionais.

Refira-se que o motivo “Estátua”, para além do da Fábrica de Louça de Sacavém também foi fabricado em muitas outras fábricas, sendo perfeitamente conhecidas e identificadas, pelos carimbos ou marcas: Fábrica de louça de Alcântara, em Lisboa; Fábrica de Massarelos, Fábrica das Devessas, Fábrica da Corticeira do Porto, no Porto/Gaia; Fábrica de José dos Reis (dos Santos), em Alcobaça; Fábrica das Faianças de S. Roque – Aveiro; Fábrica das Faianças Capôa – Aveiro, Fábrica da Fonte Nova – Aveiro, em Aveiro e outras mais, não identificadas, como é a do presente caso.


Pormenor do tardoz do prato
A peça que apresentamos não possui qualquer carimbo que possa identificar, origem, fabrico ou época de produção; contudo admitimos que seja fabrico da zona de Aveiro ou de Coimbra.


Pormenor do frete no tardoz do prato
Presumimos tratar-se de peça do período de fabrico das primeiras décadas do século passado: dos anos de 30, 40 ou mesmo 50.


Pormenor das marcas das trempes no tardoz do prato
Pelo tipo da pasta (avermelhada), do pequeno círculo central do frete, dos habituais três pontos triangularmente definidos, correspondentes aos apoios das trempes para cozedura do vidrado e das demais características morfológicas do verso do prato, apontamos para que seja, mais provavelmente de fabrico de Aveiro, será?


Prato com o Motivo Estátua ou Cavalinho, ao gosto popular
A inventariação da peça aqui fica.


Fontes:

1) – “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença, 3ª Edição, Lisboa, 1987.

2) – “Faiança Portuguesa – Seculos XVIII-XIX”, de Arthur de Sandão, Livraria Civilização, 2º Volume, Barcelos, 1985.

Prato em Faiança Policromático, motivo “Galo”, decoração popular. Lenda do Galo de Barcelos.


“Faiança do Galo”:


(Faiança de Aveiro (?))

Na Faiança portuguesa um dos motivos mais recorrentes e mais ao gosto popular, com decorações do mais “naif” que encontramos é o motivo “Galo”, geralmente com decoração policromática.

Cremos que quase todas as fábricas de Olaria e de Faiança criaram peças, geralmente pratos, com este motivo, em especial as do Norte, sendo que as fábricas de Aveiro foram as que mais produziram, segundo cremos.


(Decoração da bordadura da aba, em bicos)

São característicos destas peças a decoração em bicos, azul, na bordadura da aba; e o covo do prato com uma decoração policromada de um galo: com recurso às cores: ocre, manganês, de preferência e um esponjado na base de enquadramento ao galo, no presente caso, verde-escuro. 


(Decoração da bordadura da aba, em bicos)

A delimitação da aba-covo é sempre efectuada através de um filete, preferencialmente na cor azul, como no presente caso.


(Tardoz do prato pouco cuidado)


(Pormenor do frete no tardoz do prato)


(Pormenor das marcas da trempe ao vidrar)
O tardoz, de especto menos cuidado, com a apresentação das tradicionais marcas das trempes aquando da cozedura, possui um frete característico das faianças de Aveiro: o círculo central de menor diâmetro e um outro circulo externo de maio relevo, para além “dedadas” e “manchas” de azul, pelo descuido do decorador da peça.


Faiança de Coimbra (?) Ou de Aveiro mais cuidada (?)

A decoração mais simples, sem pormenores e à base de manchas cromáticas é característico da decoração de Aveiro, pois a de Coimbra era muito mais cuidada, com mais pormenorização do galo, com recurso a linhas, traços e voluptas na cor preta para dar movimento e exibição do galo.

Faiança do Norte - Provavelmente da Fábrica Cavaco (Fonte 5)

Faiança do Norte - Provavelmente da Fábrica Cavaco (Fonte 5)


Faiança do Norte - Fabrico não atribuído (Fonte 5)

Faiança de Coimbra - (Fonte 6)

Faiança de Coimbra - (Fonte 7)

Faiança do Norte - Provavelmente da Fábrica Cavaco (Fonte 6)



Faiança do Norte - Provavelmente da Fábrica Cavaco (Fonte 5)

Os fabricos do Norte recorriam a decorações mais estilizadas na aba e decalcadas a chapa (stencil), por vezes com desenhos geométricos.

Mas, Caldas da Rainha também teve nas suas faianças o motivo Galo, tal como não poderia deixar de ser a Fabrica de Louça de Sacavém.


Faiança da Fábrica de Louça de Sacavém (Fonte 5)


Faiança da Fábrica de Louça de Sacavém
 (Fonte 5)

E nas faianças ratinhas também apareceu o motivo “galo”.


Faiança de Coimbra - Louça Ratinha (Fonte 7)

Admitimos que este motivo recorrente se deve a dois factos: à popularidade desta ave doméstica: o GALO e à Lenda do Galo de Barcelos, que faz parte do imaginário e da tradição popular.


“Lenda do Galo de Barcelos”:

Recordando, segundo a lenda do Galo de Barcelos, foi esta ave, já morta e cozinhada, que demonstrou a inocência de um galego que ia ser condenado injustamente.
Tradicional Galo de Barcelos

Da lenda se diz que um valioso serviço de mesa, em prata, foi roubado, de casa de um homem rico de Barcelos, quando este fez uma grande festa, tendo o furto sido atribuído a um galego, que entretanto apareceu na localidade.

Independentemente de o mesmo afirmar, e jurar, que se encontrava de passagem, em peregrinação a Santiago de Compostela, a cumprir uma promessa, tal assim não foi entendido e o mesmo foi condenado à forca.

Perante tal decisão o galego apelou para que fosse perante o magistrado que o condenou, situação que foi aceite. Quando o levaram ao magistrado este estava num lauto repasto com amigos e mais uma vez clamou pela sua inocência.

Perante a não-aceitação pelos presentes, o mesmo, apontando para um galo que se encontrava cozinhado, em cima da mesa disse: “É tão certo eu estar inocente, como certo é esse galo cantar quando me enforcarem”!

Perante esta afirmação o magistrado empurrou o prato na mesa e ordenou o imediato enforcamento do peregrino galego.

Então não foi que quando o mesmo estava a ser enforcado o galo assado se ergue da travessa e cantou!

O magistrado vendo assim o erro que tinha cometido correu imediatamente para a forca, ao que se deparou que o galego não tinha morrido e antes pelo contrário, se salvara graças a um nó mal feito.

Logo foi mandado ser solto e o deixaram ir em paz – e assim ficou a Lenda do Galo de Barcelos e daí, provavelmente o recorrente motivo do Galo, na Faiança Portuguesa.

O Galo de Barcelos, uma das mais importantes tradições populares portuguesas, é o predilecto motivo do artesanato minhoto, foi adoptado por Gil Vicente como seu mascote e é um dos símbolos de Portugal, pese embora com algum decréscimo no presente século.


Cruzeiro do Senhor do Galo em louvor à Virgem Maria e a São Tiago (Fonte 9)
Ainda segundo a lenda, o citado peregrino galego, anos mais tarde voltou a Barcelos e mandou esculpir um cruzeiro – o Cruzeiro do Senhor do Galo, em louvor da Virgem Maria e de São Tiago, cruzeiro este que se encontra na actualidade no Museu Arqueológico de Barcelos.


“Epílogo”:

Trata-se de um motivo que foi produzido desde os inícios do século XIX até finais do século XX. O que apresentamos cremos ser de meados do século XX.



Fontes:

1) – “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença, 3ª Edição, Lisboa, 1987.

2) – “Faiança Portuguesa – Seculos XVIII-XIX”, de Arthur de Sandão, Livraria Civilização, 2º Volume, Barcelos, 1985.

3) – “Cerâmica Artística Portuense dos Séculos XVIII e XIX”, Vasco Valente, Livraria Fernando Machado – Porto,