segunda-feira, 23 de maio de 2016

SINGELA SALADEIRA COM MOTIVO VEGETALISTA DA FÁBRICA DO OUTEIRO DE ÁGUEDA

SINGELA SALADEIRA COM MOTIVO VEGETALISTA DA FÁBRICA DO OUTEIRO DE ÁGUEDA


1. A nossa peça:

Apresentamos uma simples mas interessante saladeira, com uma decoração vegetalista policromática no covo da mesma, completada por um filete fino a separar o covo da aba e na bordadura desta dois filetes, um fino, interior, na cor negra e outro, largo, exterior na cor verde-escuro.


(A nossa peça- saladeira)

A composição da decoração é constituída por dois ramos entrelaçados, com folhas verdes e frutos ou flores vermelhas
.
Na aba verificam-se as falhas de vidrado devido às trempes utilizadas na cozedura.

Trata-se de uma peça rodada, de pasta clara, que permitiu uma boa moldagem e que possui um vidrado homogéneo e uniforme de especto leitoso.


(A decoração do covo da saladeira)

Peça utilitária, de uso doméstico corrente, muito simples, de traço despretensioso, contrastando com a faiança decorativo, muito elaborada em termos de decoração, com exuberante policromia, com uma palete de cores variada e de tons suaves

No tardoz possui o carimbo na cor negro, com disposição em semi-círculo “OUTEIRO ÁGUEDA”.


(O Carimbo da nossa peça)

Trata-se pois de uma peça produzida na Fábrica de Louças do Outeiro, em Águeda, unidade fundada por António de Souza Carneiro, em 1923; uma das várias fábricas instaladas nesta localidade.


2. Um pouco de história e enquadramento:

Outras fábricas que existiram, que se dedicaram à produção de louça utilitária de uso doméstico, mas também de decoração foram:

- Cerâmica Progredior, fundada em 1913;
- Fábrica de Fernando Ribeiro Guerra, fundada em 1913;
- Guerra & Cruz, Lda., fundada em 1916;
- Fábrica de Arcanjo de Figueiredo, fundada em 1922;
- Simões & Antunes, Lda., fundada em 1924;

Foram fábricas de reduzida dimensão, com consumo de âmbito regional, restrito, provavelmente com louça não marcada e por conseguinte não há peças que se consigam identificar pelas mesmas fábricas.

Foi, sem dúvida, a fábrica fundada por António de Souza Carneiro, em 1923, a mais importante do Outeiro, a qual com a sua produção, com um consumo e utilização quase a nível nacional; com peças decorativas de elevada qualidade, todas devidamente marcadas, que continuam a chegar aos tempos actuais.


(Uma imagem recorrente da Fábrica do Outeiro)

O valor artístico das peças produzidas na Fábrica do Outeiro deveu-se ao recrutamento de alguns pintores da Fábrica de Vista Alegre e de outros da Empresa de Louça e Azulejo, Lda., de Aveiro.

De entre eles há a salientar nomes como: Licínio Cunha (?) ou Licínio Pinto da Silva (?) e Francisco Luís Pereira, mais tarde continuados por A. Pereira (década de 60), Ribeiro ou João Breda, ou Mandé (?), C. Pinto, M.R., A.S.

Cremos, sem confirmação que esta fábrica encerrou na década de 60 do século passado, tendo surgido outras mais recentemente que aproveitaram o nome e fama comercial “OUTEIRO - ÁGUEDA”.


3. Decoração, motivos:

Há que distinguir as peças de uso comum, utilitárias, para uso doméstico e as peças para decoração. 

Enquanto as mesmas possuem decorações simples, de fácil execução, policromáticas de cores suaves, as peças decorativas são soberbamente elaboradas, com decorações trabalhosas e com um requinte na pintura policromática.

Em termos de decoração, as peças decorativas produzidas nesta Fábrica,  os motivos mais frequentes eram o galo, o pavão, rabieira (ave: pêga-rabuda, com uma cauda longa como o cuco ou o estorninho), o pagode chinês, a ala especial (asa), o botaréu (arcobocante ou contraforte de reforço de um arco ou uma abóbada ogival), a ágata (quartzo de cores vivas e com desenvolvimentos espectaculares); bem como motivos do século XVI, motivos vegetalistas, florais e aves exóticas.

As peças utilitárias e de uso doméstico são geralmente em fundo branco e policromia em cores suaves; as peças decorativas, muito procuradas, são habitualmente em fundo preto, que lhe dá uma singular beleza, com uma decoração aturada em cores fortes, que lhe dão uma singular beleza.

Exemplos de peças utilitárias e de uso doméstico:


(Peça apresentada na Fonte 10)

(Peça apresentada na Fonte 8)

(Peça apresentada na Fonte 8)


(Peça apresentada na Fonte 8)


(Peça apresentada na Fonte 8)




(Peça apresentada na Fonte 8)

(Peça apresentada na Fonte 8)



(Peça apresentada na Fonte 8)



(Peça apresentada na Fonte 8)

(Peça apresentada na Fonte 9)


(Peça apresentada na Fonte 9)

(Peça apresentada na Fonte 12)

Exemplos de peças decorativas:



(Peça apresentada na Fonte 14)



(Peça apresentada na Fonte 14)



(Peça apresentada na Fonte 7)

(Peça apresentada na Fonte 7)



(Peça apresentada na Fonte 7)

(Peça apresentada na Fonte 8)

(Peça apresentada na Fonte 1)

(Peça apresentada na Fonte 1)



(Peça apresentada na Fonte 1)



(Peça apresentada na Fonte 1)



(Peça apresentada na Fonte 1)



(Peça apresentada na Fonte 1)



(Peça apresentada na Fonte 1)


(Peça apresentada na Fonte 1)

(Peça apresentada na Fonte 4)



(Peça apresentada na Fonte 1)



(Peça apresentada na Fonte 1)

(Peça apresentada na Fonte 5)



(Peça apresentada na Fonte5)

4. Marca e carimbos:

Em termos de marcação das peças, as peças decorativas possuem marcas manuais, com indicação do nome ou iniciais do pintor; as peças utilitárias de uso comum possuem um carimbo, a cor negra, em forma de semi-circulo “OUTEIRO – AGUEDA” e mais recentemente com um carimbo “estrelado”, com a indicação “OUTEIRO”.

Exemplos de marcas manuais:

(Marca manual - fonte 7)

(Marca manual - fonte 14)

(Marca manual - fonte 9)

(Marca manual - fonte 9)



(Marca manual - fonte 9)

(Marca manual - fonte 12)

(Marca manual - fonte 12)

Carimbo mais comum,  em forma de semi-circulo “OUTEIRO – AGUEDA”:



(O carimbo da nossa peça)

  Carimbo “estrelado”, com a indicação “OUTEIRO”:



(O Carimbo mais recente da Fábrica do Outeiro)


5. Azulejaria:

Outras das vertentes, diga-se deveras importante, foi a produção de painéis de azulejo, azulejaria decorativa, predominante de painéis alegóricos a santos, com particularidade ao Santo António, Nossa Senhora de Fátima, S. Gonçalo de Amarante, S. José, S. Manuel, entre outros, para além de painéis com quadras e painéis identificadores de casas, quintas e solares e até unidades industriais.

Alguns exemplos de painéis de azulejo alusivos a santos (fonte 16):



















Alguns exemplos de painéis de azulejo identificadores de lugares, de espaços, de edificações, com quadras (fonte 16):

























Os artífices, decoradores e pintores que mais painéis efectuaram foram Licínio Pinto da Silva e Francisco Luís Pereira (década de 30); A.C. D’ Oliveira, António Ferreira, entre outros.

Trata-se de um valioso património artístico espalhado pelo País, que enaltece a grandiosidade desta Fábrica do Outeiro de Águeda.


FONTES:



3) – “Os industriais de Cerâmica: Aveiro, 1882-1923, de Manuel Ferreira Rodrigues, Instituto Superior de Ciências da Informação e da Administração, Aveiro, 1996.






9) – www.olx.pt;







16) – www.facebook.com>Fábrica-do-outeiro-Águeda;

Taça em Faiança de Alcobaça da Fábrica de Raul da Bernarda

Taça em Faiança de Alcobaça da Fábrica de Raul da Bernarda


A procura continuada por feiras de velharias leva-nos a encontrar peças interessantes em Faiança.

Há algum tempo atrás, numa dessas feiras, numa banca de chão, e entre muito “lixo”, encontramos uma interessante peça em Faiança de Alcobaça, pintada parcialmente a tinta plástica cor de laranja (? – como é possível – uma manifestação kirsch?), no meio da base da qual se vislumbrava a marca “AB” (?) – certamente “RB” - Raul da Bernarda: uma pequena taça, de bordadura ondulada com interessante decoração policromática, de motivos florais, alternados com cartelas geométricas.


(A nossa peça)

Cremos tratar-se de uma tacinha, peça decorativa, muito ao gosto à época: anos 30 ou 40 do século passado.

A peça cativou-nos, pela sua decoração, pela (raridade) da marca do seu fabrico e pelo entusiasmo que nos criou, ao ter que recuperar a mesma, com uma intensa, demorada, mas cativante, “trabalheira” – é o fascínio pelas faianças que nos proporciona estes períodos de calmaria, repouso e recarga para a actividade profissional e para uma vida mais repleta de harmonia, prazer e felicidade.


(A exuberante decoração da tacinha)

Pequena tacinha, de covo acentuado, com dois filetes, em azul forte, um largo e outro fino, no limite da separação do covo para a aba ondulada, vivamente decorada e com um largo filete azul-escuro na bordadura da mesma.

Decoração floral em cores de azul-escuro, amarelo-ocre, violeta ou roxo e avermelhados, com recorte da decoração a preto. Cartelas alternadas com decoração geométricas, de cruzes e de pontos, tendo tudo a base em azul-claro.


(O tardoz da peça com a sua marca)

No tardoz da peça e entre o único frete, a marca inequívoca da mesma: AB – ALCOBAÇA – PORTUGAL – 100, isto é uma peça de fabrico de António da Bernarda, de Alcobaça, sendo a peça nº 100 de catálogo (modelo ou motivo decorativo – não sabemos).


(A particularidade da marca manual)

Vamos lá então falar da fábrica que produziu esta peça com a marca impressa à mão, RB, a fábrica Raul da Bernarda e Filhos, Lda., a fábrica mais conhecida e com maior longevidade na fabricação de louça de Alcobaça; com início em 1875, pela mão de José dos Reis dos Santos, “negociante” (?) de louças, oriundo da região de Coimbra, e se prolongou até ao início do século XXI, vindo a encerrar, infelizmente, a 28 de Novembro de 2008, por decisão dos credores.

Tal encerramento lançou no desemprego 145 operários, os quais já tinham sido dispensados em Maio de 2008, pese embora já reclamassem ordenados em atraso desde Setembro de 2007 – em suma a agonia da mais antiga fábrica de louça decorativa e utilitária da região de Alcobaça.

Veio a ser declarada insolvente em Maio de 2011, tendo os imóveis ficado na posse do banco de então BES – Banco Espirito Santo, entretanto também insolvente (em Agosto de 2014).

Voltando ao início da fábrica, três anos volvidos após a morte de José dos Reis, em 1900, Manuel Ferreira da Bernarda assume a direcção desta fábrica a qual a partir da década de 30 passa a ser gerida pelo seu filho, Raul da Bernarda, fase em que a fábrica teve imenso desenvolvimento artístico e de produção, tendo tido uma época áurea.

A nossa peça será dessa época, década de 30 ou 40, atendendo nomeadamente à marca apresentada, à indicação “Portugal” e não como mais tarde era indicado “Made in Portugal”; por outro lado, a peça está identificada com o seu número (de modelo ou decoração – não sabemos) e ainda não se encontrava assinada pelo decorador que a pintou, o que mais tarde começou a ser feito.

A particularidade da marca, que mais se assemelha a um “AB” do que a um “RB”, conjugado com as restantes palavras, evidencia a insegurança de quem escreveu esta marca e eventualmente os seus parcos conhecimentos alfabéticos.

Curiosa a situação de alguns anúncios de venda na net de peças com marcas idênticas, cujos anunciantes eventualmente desconhecendo a origem referem como sendo marcadas com a marca “AB”. Exemplo disso é, o anúncio de venda “prato em faiança “AB 151 – Alcobaça” (fonte 12).



Mais uma peça para ficar registada.

FONTES:







7) - “A Faiança de Raul da Bernarda & F.os, Lda. – Fundada em 1875 – ALCOBAÇA”, de Jorge Pereira de Sampaio, Edição Particular da Fábrica Raul da Bernarda & F.os, Lda., Alcobaça, Outubro, 2000.

8) - “A Loiça de Alcobaça”, de João da Bernarda, Edições ASA, 1ª Edição, Porto - Outubro de 2001.

9) - “ Cem anos de Louça em Alcobaça”, de Jorge Pereira de Sampaio e Luís Peres Pereira, 2008;

10) -“Cerâmica em Alcobaça – 1875 até ao presente: CeRamiCa PLUS” – Galeria de Exposições Temporárias – Mosteiro de Alcobaça; 6 de Abril a 4 de Maio 2011; Município de Alcobaça, 2011.

11) - “Faiança de Alcobaça, de 1875 a 1950”, de Jorge Pereira de Sampaio, Estar Editora, Coleção Fundamental, 1997 (?);


terça-feira, 3 de maio de 2016

Deslumbrante Prato Coberto, Motivo PAIZAGEM, da Fábrica de Louça de Alcântara

É inegável o nosso superior gosto, quase obcecação, pelas peças em Faiança da Fábrica de Louça de Alcântara.


Hoje apresentamos uma deslumbrante peça dessa Fábrica: Um prato rectangular coberto, com decoração monocromática, na cor sépia, com o motivo PAIZAGEM.


Trata-se de uma interessante decoração campestre ou campesina, ao gosto inglês, com um barracão agrícola – qual celeiro, com telhado de duas inclinadas águas e o que se presume ser uma habitação, com chaminé fumegando, com cercado em paus, junto ao mesmo uma presença humana; com interessante enquadramento entre árvores e arbustos.


Trata-se de uma decoração com várias estampagens altamente trabalhadas, com intensa pormenorização, que conjugadas com a forma e relevos da peça lhe dão uma particular beleza – a dita faiança fina – ou à época, do tipo faiança inglesa, tentando fazer frente à faiança inglesa importada.


Peça duplamente marcada, com carimbo e gravação; carimbo monocromático, cor sépia, com o anagrama L&C – Lopes e Companhia – LISBOA e duas raquetes, uma com a indicação de FAIANÇA FINA e outra com FÁBRICA D’ ALCÂNTARA; a gravação com a marca circular de Lopes & Companhia.


Trata-se, em termos de carimbo, obviamente duma peça produzida no 3.º período de fabrico da fábrica (período definido por nós – fonte 1), correspondente, temporalmente, aos anos de 1889 a 1901: L & C – FAIANÇA FINA– FABRICA D´ALCANTARA - LISBOA – firma Lopes & C.ª.


No que se reporta à marca gravada na pasta, a exibida corresponde a um período que medeia entre 1897 a 1930 (?): LOPES & C – ALCANTARA - LISBOA – firma Lopes & C.ª. (fonte 1), pelo que com alguma segurança se pode considerar que se trata de uma peça produzida, provavelmente, entre 1889 e 1901.


Aqui fica a apresentação da peça, para deleite de todos nós.




Fontes:





segunda-feira, 2 de maio de 2016

Prato Decorativo de suspensão – Faiança das Caldas – Decoração Crustáceos (Lagosta e Bivalves)


Interessante prato de suspensão, em faiança portuguesa das Caldas da Rainha, sem marcas, com decoração, policromática, motivo Lagosta e Bivalves, de pequenas dimensões: 18,4 cm.


Peça rodada e moldada em barro branco (faiança), com decoração de crustáceos, policromática, em que se denota a influência de Bernard Palissy, ceramista francês da Renascença, introduzida em Portugal por Manuel Cipriano Gomes “Mafra”, por ser de Mafra (Sobreiro) e que devido ao seu grande sucesso, em especial no estrangeiro, o estilo popularizou-se e foi copiado por muitos dos ceramistas caldenses do século XIX e inícios do século XX.


Os elementos característicos deste estilo, introduzidos por Manuel Mafra, para além dos elementos tradicionais de Palissy, foram conchas, peixes, lagostas, sapos, fauna e flora locais.

Introduziu, igualmente, novos elementos ao design tradicional, como o musgo ou o musgado, recorrendo a uma técnica egípcia com mais de 2000 mil anos.


Os esmaltes aplicados nestes pratos de suspensão foram também muito apreciados pela sua elevada qualidade técnica, e aturada e dedicada decoração cromática, com superior perfeccionismo de execução.

A beleza nesta peça, associada à decoração e ao esmalte em cores fortes, está a sua reduzida dimensão, tornando-a ainda mais bela entre as muitas peças semelhantes, mas de maior dimensões.




Fontes: