segunda-feira, 12 de setembro de 2016

FRUTEIRO DA CERAMICA BOMBARRALENSE, LDA. CBL – RARA PEÇA


As peças da Cerâmica Bombarralense, Limitada, representativas da sua tendência decorativa são escassas, pelo reduzido período da sua fabricação – escassos 10 anos, pese embora, diversas iniciativas e múltiplos ensaios de vários artistas que passaram pela mesma, com novos estilos e decorações mais actuais à época, produziram peças, mas da autoria do autor e sem as suas características, que se enquadravam na dita louça de Alcobaça.


(Fig. 1 - A superior beleza da peça)

Apresentamos um curioso fruteiro, deveras trabalhado, quer em termos de forma – vazado, com múltiplas, diferentes e enquadradas aberturas, quer em termos de decoração – intensa, deslumbrante e policromática decoração floral, desde a aba, passando pelo covo até chegar ao fundo, com filetes lisos e ondulantes, criando um tipo de reserva circular, onde é apresentada uma exuberante flor.


(Fig. 2 - A deslumbrante decoração da Peça)

Tal como na dita louça de Alcobaça, toda a peça, incluindo o tardoz, se encontra vidrada na cor azul claro, com alguns filetes na cor azul-escuro, e depois uma deslumbrante decoração nas cores castanho, vinoso, amarelo-torrado, verde seco e azul-escuro.


(Fig. 3 - O pormenor da decoração da reserva no fundo do fruteiro)

Os motivos são vegetalistas, com curiosas apresentações florais policromáticas, onde demonstra cuidado e aturado trabalho do respectivo decorador.


(Fig. 5 - A exuberante decoração do covo da fruteira)

No tardoz a perfeita identificação da peça “C.B.L., “BOMBARRAL”, “MADE IN PORTUGAL” e indicação do decorador “Av B” – será?


(Fig. 6 - O tardoz da peça)


(Fig. 7 - O frete da peça e a sua marca)

Apresenta ainda a gravação da pasta “25” – provavelmente o número de catálogo ou o número de formato da peça.


(Fig. 8 - O pormenor da marcação e a gravação da pasta)

Peça fabricada na segunda metade da década de 40 ou primeira da década de 50, do século passado.


(Fig. 9 - O esplendor da Peça) 
Aqui fica a apresentação de mais uma peça rara do fabrico CBL, evidenciando a sua combinação cromática – um valioso fabrico e deslumbrante decoração com tão efémera produção.

FONTES:




POTE DA MEL DA FÁBRICA DE LOUÇAS DE SACAVÉM


Hoje apresentamos uma interessante peça moldada, fabricada na Fábrica de Louças de Sacavém, um pote para mel.


(Fig. 1 - O pote para o mel, em forma de colmeia)

Curiosa utilitária de uso doméstico, com fim específico – guardar mel, em forma de colmeia, canelada, quer no tronco, quer na cúpula, de cor amarela, com abelhas em relevo, na cor castanha.


(Fig. 2 - O tronco e a cúpula da colmeia)

No tronco com quatro abelhas, em dois conjuntos de duas diametralmente opostas e duas na cúpula, com a mesma disposição.


(Fig. 3 - O pormenor da pega da cúpula)

A pega da cúpula é igualmente uma abelha, cujas asas levantadas fazem a função de pega.


(Fig. 4 - Pormenor da abertura para introdução do cabo da colher)

Na base da cúpula a abertura para a introdução da colher que serviria para tirar o mel, a qual, já se perde com o passar dos anos.


(Fig.5 - O Carimbo verde Estampado do período Gilman & Cta.)

No tardoz, na base, possui o carimbo verde estampado, de “GILMAN & Cta” e “SACAVÉM”, com a indicação envolvente “MADE IN PORTUGAL”, conjuntamente com um símbolo (?) que não conseguimos identificar (“A”)?.


(Fig. 7 - A interessante peça em apreciação)

Crê-se ser uma peça cujo fabrico remonta às décadas de 40 ou 50 do século passado, cuja configuração da fivela do cinto do carimbo e o número de “casas” ou “buracos” no sinto à esquerda da fivela tal indiciam.

Aqui fica a nossa apresentação desta interessante peça da Fábrica de Louça de Sacavém.

FONTES:

1) – “Fábrica de Louça de Sacavém – Contribuição para o estudo da indústria cerâmica em Portugal 1856-1974” de Ana Paula Assunção, Coleção História da Arte – Edições INAPA – 1997;

2) – “150 Anos – 150 Peças – Fábrica de Loiça de Sacavém” – Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Março de 2006;

3) – “Porta aberta às memórias” – Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Setembro de 2008;

4) - “Porta aberta às memórias” – 2ª edição, Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Setembro de 2009;

5) Primeiras peças da produção da Fábrica de Loiça de Sacavém: O Papel do Coleccionador”, de Ana Paula Assunção, Carlos Pereira e Eugénia Correia, Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – 2003;

6) – “História da Fábrica de Loiça de Sacavém”, de Ana Paula Assunção e Jorge Vasconcelos Aniceto, Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – Julho de 2000;

7) – “Roteiro das Reservas”, de Ana Paula Assunção, Carlos Pereira e Joana Pinto, Museu de Cerâmica de Sacavém – Câmara Municipal de Loures – 2000 (?);



domingo, 4 de setembro de 2016

E OS VELHOS PENICOS? TAMBÉM SÃO FAIANÇAS. LOUÇA ESCATOLÓGICA – QUE PALAVRÃO!


De faiança se fazia quase tudo antigamente, até os Penicos ou os Bacios de noite, que os jovens mais "pesados" ainda se recordam e os mais novos não sabem o que é.


Pese embora o uso e a função que tais objectos tinham, não deixem de ser peças interessantes, em Faiança, com as suas graciosas e sempre diferentes decorações florais, policromadas.


Na verdade, estes vasos sanitários, de uso essencialmente nocturno, largamente usados até meados do século XX,  eram confeccionados em diversos materiais, mas com preponderância da faiança.


Os penicos em faiança, geralmente de cor branca, isentos de qual decoração ou com decoração; em termos de decoração há os com listas ou filetes, geralmente na cor azul e os com arranjos florais, policromáticos. A maioria só com decoração exterior, a nível do bojo, mas também os havia com decorações a nível interior, na bordadura da aba e ou na base do bacio.




Mas também os havia com decorações infantis e ingénuas, pois o uso dos mesmos era também para as crianças, e esta seria uma forma de os tornarem mais “cativantes” para as mesmas.

Mas lisos, também os havia nas cores creme, rosa pálido, azul celeste e verde seco claro.


Os penicos mais antigos possuíam mais decoração, mais trabalhada e muito mais bonita, indo muito para além dos simples arranjos florais policromáticos.


Exemplo disso é o que apresentamos a seguir: fabrico da Fábrica de Louça de Sacavém, com o motivo Vaquinhas, na cor verde, do Período da Real Fábrica (1885), com uma soberba decoração interior e exterior, com cenas rurais (Fonte 3).

Mais outro exemplo é o do penico que a seguir se apresenta: penico antigo, do século XIX, em faiança portuguesa com filetes de várias cores e decoração com parras de videira (Fonte 4).


Mais um exemplar, de fabrico do Norte, da provável Fábrica Cavaco, com decoração floral (Fonte 3).


Outro ainda, igualmente de provável fabrico do Norte, de finais do Século XIX ou início do século XX, com sóbria decoração – 2 filetes azuis (Fonte 3).


Em Portugal quase todas as fábricas produziram bacios ou os ditos penicos. Hoje apresentamos aqui dois, com decorações com motivos florais de fabrico da Fábrica de Louças do Outeiro, em Águeda, fundada por António de Souza Carneiro, em 1923.




Como curiosidade refira-se que o maior e único museu do mundo de Penicos, se localiza em Espanha, na cidade de Salamanca, cuja colecção pertence a José Maria del Arco, residente em Terremolinos (Málaga), cujo acervo é de 1320 peças.

Certo é que os bacios, penicos ou vasos sanitários podem ser de ferro, bronze, cerâmica (barro), louça (faiança ou porcelana), ágata e mais recentemente de plástico.

Mas no museu referido há-os também em madeira, bronze, cobre, alumínio, pedra, argila, vidro, ferro, folha-de-flandres, esmalte, prata e ouro e até um em platina.



FONTES:






A Tigela “Falante” da VESTAL para o Caldo Verde

A Fábrica de Faianças Artísticas Vestal, inicialmente, VISTAL, produziu intensa e variada faiança, tal como todos sabemos, com uma decoração peculiar e que marcou a sua marca e o seu fabrico: as três flores, a amarela, a rosa avermelhada e a roxa, adornadas com pétalas em verde ervilha, gavinhas em azul-cobalto e apontamentos em vermelho sangue-de-boi, sempre sobre o fundo azul claro e as restantes decorações e filetes em azul-escuro, o dito azul-cobalto.

(Fig. 1 - A Tigela da VESTAL)

Uma curiosa tigela, com soberba decoração, para uma pretensa peça de uso doméstico, quotidiano: uma tigela para comer o caldo verde.

(Fig. 2 - O motivo "FALANTE" na peça)

Possui no interior uma deslumbrante decoração, começando pelo filete da bordadura, em azul muito escuro; segue-se a decoração do dorso interior, côncavo, da tigela com uma continuada decoração floral, em cornucópias, monocromática azul; segue-se uma interessante frase ao gosto popular: “Tijela de caldo verdinho, oh! que rico petisquinho”, e no fundo a habitual decoração policromática com as três rosas (?), a amarela, a vermelha e a roxa, com as folhas a verde alface, e as pintinhas vermelhas.

(Fig. 3 - A decoração exterior)

 No extra-dorso, a pós o filete de bordadura e sobre o fundo em azul claro, mais dois arranjos vegetalistas, sensivelmente simétricas, com as habituais três “rosas” e o prolongamento floral, tudo monocromático, em tons de azul, rematando na base, com um filete amarelo e depois um outro, mais largo, na cor azul-cobalto.

Fig. 4 - O fundo da tigela: frete e marca manual)

 No fundo da base, a marca manualmente colocada: “VESTAL”, “ALCOBAÇA”, “PORTUGAL” e “158” – o número de catálogo da peça.

(Fig. 5 - A marca manual VESTAL)

Resumindo, uma peça interessante, com pretenso uso doméstico, corrente, uma tigela para a sopa, quer seja caldo verde ou outra, com uma soberba decoração interior e exterior, e com uma frase a evidenciar o seu eventual uso, tornando-a assim uma faiança falante, não muito habitual neste tipo de faianças, a não ser os pratos de parede ou expor, com quadras.

(Fig. 6 - A interessante decoração interior da tigela)

Crê-se ser uma peça fabricada na década de 50 ou 60 do século passado.


FONTES:

1) - “Cerâmica de Alcobaça, Duas Gerações”, edição do Museu de Alcobaça, 1992, texto de Jorge A. F. Ferreira Sampaio e Raul J. Silveira da Bernarda.

2) – “Cerâmica em Alcobaça – 1875 até ao presente”; exposição de 6 Abril a 4 de Maio 2011 – Catálogo da exposição, coordenador: Luís Afonso Peres Pereira.

3) – “História da Industria na Região de Leiria – Cerâmica”, Edição Jornal de Leiria, revista integrante da edição n.º 1558, do Jornal de Leiria, em 22.05.2014.


Curioso Covilhete da CBL – Cerâmica Bombarralense, Lda.


A Cerâmica Bombarralense, Limitada, CBL, de Jorge de Almeida Monteiro, seu mentor e principal impulsionador teve uma vida efémera – foi fundada em 1944 e encerrou em 1954 – uns escassos 10 anos de produção.

(Fig. 1 - Covilhete da CBL)

No entanto não deixou de produzir peças interessantes, ao estilo da louça de Alcobaça, mas com uma decoração peculiar, pena é que as peças, actualmente, escasseiam, não permitindo assim identificar cabalmente a sua produção
.
Exemplo disse, foi um interessante galheteiro, com uma curiosa decoração na cor vinoso, com a marca CBL no fundo das duas galhetas, que andou à venda numa das bancas das feiras de velharias, pese embora por um preço proibitivo, apesar da raridade da peça.

Pena temos de a não ter fotografado, para simplesmente a mostrar, de modo evidenciar de uma forma mais abrangente o fabrico de faianças desta fábrica do Bombarral.

No entanto, volvido algum tempo eis que encontramos mais uma peça CBL, curiosa, e que aqui vamos apresentar.

Trata-se, segundo cremos de um covilhete, oval, de aba lobada, e bordadura ondulada, com uma decoração, em franja, para o interior, na cor azul-escuro – azul-cobalto, tão característico da louça de Alcobaça, das décadas de 40, 50 e 60, do século passado.

(Fig.2 - Pormenor da decoração da bordadura)

Essa decoração franjada completa-se com três pintas vermelhas, em cada lobolo, cujo significado não identificamos mas que ajuda a dar mais notoriedade à peça.

(Fig. 3 - Pormenor da decoração )

Soberba é a decoração do covo cor um deslumbrante motivo floral, em que entre as pétalas se abre o bolbo da flor, qual flor?, enquadrada com folhas alongadas, lanceoladas, decoradas a cor verde seco, amarelo torrado e amarelo ocre, que se prolongam por gavinhas na cor azul cobalto.

(Fig. 4 - Pormenor da Decoração)

Na base, o prolongamento é feito com mais duas folhas semelhantes às já descritas, conjuntamente com mais um pequenos arranjos florais.

Uma peça que pelas suas cores, não pela decoração, nos leva ao imaginário das cores da Vestal/Vistal ou mesmo de um dos períodos da Fábrica de Faianças, de Alcobaça, de Raul da Bernarda.

Conforma-se assim uma tendência cromática desta fábrica, com os fundos em azul claro e as decorações com o azul-escuro, azul-cobalto, vem como com os amarelos-torrados ou acastanhados e os verdes secos, para além de apontamentos em vermelho escuro ou sangue-de-boi.

Que pena se encontrarem tão poucas peças desta Fábrica.

(Fig. 5 - O tardoz do covilhete)

E no tardoz lá está a marca manual de “C.B.L.”, “BOMBARRAL”, “PORTUGAL”, “R.V” e “282”: ou seja, a identificação da fábrica; da sua localização; do País, tendo em vista a aquisição de peças por estrangeiros; do decorador e/ou pintor “R.V.” – que não identificamos e do número de catálogo ou registo da peças.

(Fig. 6 - O único frete do tardoz e a marca manual aposta)

Há peças da mesma fábrica com a indicação “A.L.”, o que evidencia ser outro decorador/pintor, mas que também não conseguimos decifrar, bem assim como “F.M”.

(Fig. 7 - A marca manual CBL)

Em suma uma fábrica interessante, por onde passaram muitos artistas, que produziram peças de arte, próprias, mas em que a sua tradicional fabricação é tão pouco conhecida, apesar da sua qualidade em termos de decoração.
 
(Fig. 8 - Mais uma vez a beleza da peça que apresentamos)

FONTES:


quarta-feira, 31 de agosto de 2016

PRATO SOPEIRO, GRANDE, MOTIVO ESTÁTUA, COR-DE-ROSA, FABRICA DAS LOUÇAS DE DEVESAS, DE JOSE PEREIRA VALENTE


Provavelmente o motivo mais reproduzido nas faianças em Portugal, foi o “Estátua”, vulgarmente conhecido como “Cavalinho”, tenso tido a principal e preponderante produção na Fábrica de Louças de Sacavém; mas muitas outras a imitaram ou com ela concorreram, com decorações muitos semelhantes, umas mais trabalhadas, mais ricas; outras mais singelas e pobres.

(Figura 1 - A peça em apreciação)

Quando encontramos peças com esta decoração o principal interesse é a pesquisa de diferentes decorações, para o mesmo motivo ou outros centros de produção.

(Figura 2 - A decoração motivo da peça)

Todos sabemos que, por exemplo, o cavaleiro, ou cavaleiro, e o seu cavalo, possuem várias exposições, olhares diferentes, acessórios de guerra ou honra diferentes; pedestal e colunas variadas; lago, rio e castelos ou palácios muito diferentes e diversificados, ou mesmo a decoração vegetalista, mais vasta ou mais rala, na aba, que por vezes até se prolonga para o covo

(Figura 3 - A soberba decoração vegetalista da aba)

A diferença nesta peça – um prato sopeiro, de acentuado covo, de generosas dimensões, bastante superiores ao habitual, é a origem do seu fabrico ou centro de produção: mais uma fábrica que rivalizou, ou tentou concorrer, aproveitando a fama e o sucesso comercial, da Fábrica de Louças de Sacavém: a Fábrica de Louças das Devesas, de José Pereira Valente.

(Figura 4 - A decoração das cartelas na aba, com palácios e castelos)

Para além das suas anormais dimensões, bastante superiores às habituais, este prato covo, possui uma intensa e rica decoração na aba, com três reservas, preenchidas por palácios com torres de menagem e com duas pirâmides, no horizonte e mais uma edificação acastelada, para além da habitual decoração no covo.

Decoração monocromática, em cor-de-rosa.

(Figura 5 - O tardoz do prtao)

Prato robusto, pesado, com covo acentuado de tardoz, com um frete exterior significativo e mais dois interiores, mais esbatidos e no círculo central, o carimbo correspondente ao fabrico; e identificando-se três conjuntos de três pontos, das trempes, quando foi a vidrar, junto ao frete, para o seu interior.

(Figura 6 - O carimbo na peça identificando o seu fabrico)

Presume-se que o seu período de fabrico deve ser por volta de 1900 (início do século XX).
Sendo, para nós, o interesse deste prato a sua origem de produção, vamos pois, dedicar-nos um pouco à sua unidade de produção – Fábrica de Louças das Devesas, de José Pereira Valente, como a sua marca o identifica de forma inequívoca, com o nome VALENTE, a encimar a marca.


Um pouco de história da Fábrica

Trata-se uma fábrica pouco conhecida e que se confunde frequentemente com a Fábrica de Cerâmica (e de Fundição) das Devesas, em Gaia, mais tarde, Companhia das Cerâmicas das Devesas, esta fundada em 1865 por António Almeida da Costa, onde José Pereira Valente trabalhou, até fundar a sua empresa; a qual laborou segundo consta até 1946. Mas há quem a prolongue até à década de 60 (será ?)
.
A partir de 1884, a fábrica instala-se na Rua Dona Leonor, também em Vila Nova de Gaia e nas imediações da fábrica de António Almeida da Costa.

José Pereira Valente teve sempre a ajuda de António Almeida Valente, seu antigo patrão, no que respeita ao escoamento dos produtos, o que o levou a adquirir, em 1891, uma máquina que permitiu ampliar a produção, começando até a produzir azulejo. 

Na primeira década do século XX a gerência amplia-se com a entrada de familiares.

Em 1904 esta empresa passou a adoptar a designação José Pereira Valente, Filhos; sociedade que se veio a dissolver-se em 1915, aquando da retirada de dois dos quatro herdeiros de José Pereira Valente, mais precisamente de José Pereira Valente Júnior e Augusto Pereira Valente, os quais receberam o dinheiro do investimento efectuado. Os outros dois irmãos, Júlio Pereira Valente e Feliciano Pereira Valente assumem assim as responsabilidades da fábrica.

Neste mesmo ano, devido à necessidade de expansão e ao período de guerra, dá entrada um novo sócio, Joaquim Moreira Gandra da Fonseca, constituindo-se a firma Valentes & Moreira.

Apesar das sucessivas alterações na constituição da sociedade, com a saída de Júlio Pereira Valente, em 1918, e o falecimento de Feliciano Pereira Valente, em 1946, a empresa parece ter sobrevivido até à década de 1960.

A família Pereira Valente esteve ainda ligada à Fábrica do Cavaco, pois em 1 de Agosto de 1936 Luciano Pereira Valente constituiu sociedade com António Augusto Fragateiro Júnior e Manuel Rodrigues Ferreira da Costa para adquirir a fábrica, que ficou com um capital social de 15.000$00, equitativamente repartido pelos sócios.
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Cerca de dois anos depois, em 28 de Novembro de 1938, Luciano Pereira Valente, que desempenhava as funções de gerente técnico, adquiriu a António Augusto Fragateiro Júnior a sua participação nessa empresa.

A decadência desta fábrica dá-se em simultâneo com a das Devesas, reduzindo drasticamente a sua produção, na segunda década do século XX e até ao seu encerramento. 

No seu progressivo declínio estão problemas relacionados com a estrutura familiar da empresa.


Caracterização sumária da sua produção desta

A Fábrica de Louças das Devesas, de José Pereira Valente, produzia faiança com soberba decoração e era considerada como uma das melhores fábricas de faiança do Norte, rivalizando, em termos de qualidade com a Fábrica de Louças de Sacavém.

(Figura 7 - Outra peça - prato semelhante ao nosso)

Por outro lado, esta fábrica, de Pereira Valente, foi uma fábrica imitadora, especialmente do estilo da Fábrica de Cerâmica das Devesas, mas também da Fábrica de Louças de Sacavém. Porém, conseguiu imitar com resultados, por vezes, melhores que os modelos originais, com mais qualidade.

(Figura 8 -O carimbo da peça anterior)

A Fábrica Pereira Valente foi sobretudo incontornável ao nível da produção de vasos, pinhas e globos de remate, assim como estátuas para fachadas, rivalizando com outras fábricas existentes à época, também no Norte (Gaia e Porto).

(Figura 9 - Um carimbo variante da Fábrica de Pereira Valente)

Aliás, a própria fachada da fábrica era encimada por uma estátua, a qual terá sido retirada na década de 1980 ou inícios da década seguinte, já depois de a fábrica ter encerrado (há alguns anos atrás era uma oficina de automóveis).

(Figura 10 - Outro carimbo da Fábrica de Pereira Valente)

A fachada subsistente da Fábrica Pereira Valente deverá datar da viragem do século XIX para o século XX. Embora não seja totalmente revestida a azulejos e não possua particulares qualidades arquitectónicas, ela apresenta artefactos de cerâmica muito raros

(Figura 11 - Outro carimbo da Fábrica de Pereira Valente)

A Fábrica Pereira Valente também produziu azulejaria, especialmente nos períodos Arte Nova e Art Déco, embora tenha tido dificuldade em concorrer com outras fábricas já mais implantadas no mercado

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Concluindo

A Fábrica de José Pereira Valente, das Devesas, é sem dúvida um marco histórico-documental importante, já que foi uma das fábricas de maior qualidade na produção de artefactos cerâmicos para decoração da arquitectura, bem assim como de louça em faiança de uso doméstico corrente, com superior decoração.


FONTES:


2) – “A Cerâmica Portuense – Evolução Empresarial e Estruturas Edificadas”, de Teresa Soeiro, Jorge Fernandes Alves, Silvestre Lacerda e Joaquim Oliveira; Edição Portugália, Nova Série, Volume XVI, 1995.

3) – “Dois séculos de Faiança Portuguesa”, de Edgar Vigário, trabalho do autor, Setembro 2015,





8) - “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, com Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença – 3ª Edição – 1987;